Há bem poucos dias, tivemos conhecimento do encerramento de 239 escolas do 1º ciclo do Ensino Básico por todo o país, com maior incidência no norte. Também sabemos que, desde que se iniciou o processo de encerramento de escolas, já terão sido mais de 3700. O primeiro pretexto teve a ver com a existência de escolas com menos de 10 alunos. Verificou-se, posteriormente que se tratava de uma falácia quando começaram a fechar escolas a eito, em especial no interior do país. Ao mesmo tempo formaram-se os chamados agrupamentos onde se juntam escolas de diversos ciclos. Agora fundem-se agrupamentos em mega agrupamentos. O novo álibi é que os alunos passam a usufruir de melhores condições pedagógicas. A verdadeira razão prende-se com a restrição de gastos ao mínimo possível ainda que o ministro Crato diga o contrário.
O mesmo se passa com outros sectores determinantes como os da saúde e justiça em que os argumentos evocados não coincidem com a realidade.
O seguinte artigo de opinião capturámo-lo no “Diário As beiras” de hoje e faz uma abordagem muito certeira das razões e consequências da criação dos mega.
OPERAÇÃO MEGA
Está em curso uma mega operação. Vive-se uma mega obsessão. Juntaram-se escolas e surgiram agrupamentos. Agora fundem-se agrupamentos em mega agrupamentos. Na área da saúde o processo é semelhante fundem-se serviços, encerram-se uns e centralizam-se outros. Com os tribunais, o processo é o mesmo. E em vários outros serviços, o mega esmaga o serviço mais próximo. Lá encerrou a estação de correios e assim agora ir aos correios tornou-se uma tarefa para mega pacientes capazes de disporem de um par de horas na fila no único correio disponível. Tudo é mega!
A explicação é da economia de custos e do efeito de escala embora embrulhado numa não muito feliz nem muito conseguida tese de eficiência. Vê-se, aliás! Quão mais eficientes estão os serviços de urgência e outros do serviço nacional de saúde! Vislumbra-se um enorme acréscimo de sucesso nas escolas tipo hipermercado com milhares de alunos, muitas centenas de professores, uma direção que não conhece nem humanamente podia conhecer todos os que trabalham na escola, facto que só por si derruba todos e quaisquer outros argumentos favoráveis à criação de megas. O mega é uma aberração.
Os mega utentes são sempre mal servidos, os serviços distanciam-se em termos de distância absoluta, real, mas sobretudo em distância relativa, um serviço mega é um serviço sem rosto, de anónimos para indiferenciados. Nos serviços mega há muitas máquinas e pessoas a parecer máquinas, mas perdem-se os sorrisos. A proximidade, convidada a exilar-se, a emigrar, traduz-se em desumanização. Esta é a realidade. A mega verdade que só estes megalómanos não veem ou fingem não ver.
O mega disparate obedece a interesses da mega economia. Mas não só. Por detrás da mega operação há também uma ideologia, um pensamento político que se exprime num “para quem é bacalhau basta, serviços públicos para quê?, vão ao privado, querem saúde, querem escolas humanizadas? Querem? Paguem! O Estado deu demais, o Estado vive acima das nossas possibilidades. Estado, só o mínimo, uns polícias e soldados para nos defender, uns tribunais para os julgar, uns servicitos mega agrupados para entreter as necessidades mais primárias dos pobres, não vão estes revoltar-se, e chega!”.
Agrupe-se tudo! Até os governos dos povos. Em abono da verdade até já há um mega governo. E também aí o distanciamento é total. Para além de uma tal Merkel, secretária de Estado desse governo e de um Passos Coelho, subsecretário, os outros ministros que rosto têm? Máscaras! Alcunhados de mercados são mega banqueiros sem rosto, decisores de grandes, megas operações. (Francisco Queirós)
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