É notório que, à medida
que ficamos mais velhos, tendem a ficar mais salientes traços característicos
da nossa personalidade, sejam eles virtudes ou defeitos. Desde sempre foi
possível descortinar no prof. Cavaco uma tendência autoritária e pouco apego
pela democracia, a menos que pudesse obter dela algum benefício imediato. Na sua
biografia não consta qualquer tomada de posição em favor da democracia e da
defesa da liberdade durante a ditadura. Muito pelo contrário, o que se sabe é
que aceitou sempre, sem pestanejar, todos os ditames do regime (há documentos
que o comprovam). No entanto, bem acabou por se servir do voto popular para se
alcandorar aos postos mais cimeiros da governação do país.
A tendência autoritária do
PR ficou bem patente na declaração que fez ao país a meio desta semana, onde
reduziu a democracia à sua própria vontade, querendo obrigar três líderes políticos
a assinarem um compromisso por ele próprio elaborado, até com um prazo pré-determinado.
Estamos, sem dúvida
perante uma situação de tentativa de sequestro da democracia que deve deixar
alerta todos os cidadãos. Portugal inteiro ficou estupefacto, incluindo as
principais lideranças políticas, pois, tanto quanto se pôde verificar, a
proposta de Cavaco Silva apanhou de surpresa toda a gente, depois de se ter
como adquirido que iria dar posse ao Governo remodelado ou, talvez melhor, recauchutado.
Estivéssemos perante outra
personalidade e tenderíamos a pensar que a sua sanidade mental estaria
afectada. Após ter dado toda a cobertura a um Governo que conduziu o país ao
desastre, vem agora querer obrigar o PS a servir de boia de salvação de
políticas erradas, aliás, reconhecidas como tal por quem as implementou até à
exaustão, Vitor Gaspar.
Depois de ficarmos a
conhecer que Alberto Martins é a personalidade do PS que vai discutir com Mota
Soares (CDS) e Jorge Moreira da Silva (PSD) o chamado “compromisso de salvação
nacional”, também nos chegou a informação de que o PS vai votar a favor da
moção de censura proposta pelos Verdes. Estaremos perante uma boa indicação de
que a decisão dos “socialistas” vai no sentido de uma oposição ao documento do
sequestro da democracia com a consequente construção de uma verdadeira
alternativa? Ou vamos assistir a uma daquelas tão conhecidas jogadas do PS que
prefere acordos com a direita, contra os interesses da sua própria base social
de apoio?
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