A sucessão de acontecimentos que teve lugar esta semana aconselha a que não se tome nada como definitivo pois, tal como uma vez disse um dirigente de um clube de futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira.
O presidente do segundo
partido da coligação demitiu-se ontem do Governo mas hoje já não é bem assim e
amanhã poderá ser diferente. Como afirmava há pouco no Público online Pacheco Pereira,
estamos a assistir a um reality show porque há aspectos “cómicos e ridículos se não custassem tão caro aos portugueses”. Além
disso, as personagens também são parecidas com as personagens dos reality shows
porque constituem “um grupo de pessoas
claramente impreparadas para as responsabilidades e para o tempo que estamos a
atravessar”. De certo modo e, por estas razões, a “única coisa que desde o princípio era possível antecipar é que isto
iria acabar assim”.
Quem de direito achar que
já sofremos quanto baste para tão parcos resultados, deve ser “misericordioso” para os portugueses e
convocar, quanto antes, eleições antecipadas porque destas pode “resultar alguma margem de manobra política
que não existe agora”.
Para a situação agora
criada têm vindo a contribuir uma série de episódios, alguns deles,
completamente caricatos a contribuírem para o anedotário nacional mas outros –
a maioria – de um evidente dramatismo que atingiram, cada um por si, a quase
totalidade do povo português. Está nesta qualificação o que se passou com a manifestação
de autoritarismo do Ministro Crato ao insistir na realização do exame de
Português do 12º ano em dia de greve dos professores, com o resultado que se
conhece. O manancial de irregularidades e de atropelos à lei que tiveram lugar
no dia 17 de Junho, por iniciativa do Ministério da Educação são, mais uma vez,
realçados, de forma contundente, na primeira parte do texto que Santana Castilho
assina hoje no Público e que não podemos esquecer.
O fim da greve dos
professores, primeiro, e a demissão de Gaspar, depois, atiraram para o limbo do
quase esquecimento o escândalo do exame de Português do 12.º ano. Mas a
consciência obriga-me a retomar o tema, no dia (escrevo a 2 de Julho) em que se
branqueia a iniquidade. Que teria feito a Inspecção, que aparecia sempre e este
ano sumiu, se verificasse que se efectuaram exames sem o funcionamento regulado
dos respectivos secretariados? Que houve vigilantes desconhecedores das normas
básicas, socorridos no acto... pelos próprios examinandos? Que se realizaram
exames sem a presença de professores coadjuvantes? Que professores de Português
vigiaram exames? Que não foi garantida a inexistência de parentesco entre
examinados e vigilantes? Que não houve um critério uniforme para determinar
quem fez e quem não fez o exame a 17 de Junho? Que o sigilo, desde sempre regra
de ouro, foi grosseiramente quebrado pela comunicação, em ambiente de tumulto
público, entre o exterior e examinandos? Que se prestaram provas em locais
inadequados e proibidos pelas regras vigentes? Que não foi respeitada a hora de
início da prova? Que teria feito, afinal, a Inspecção, se... existisse? O
óbvio, isto é, a recomendação da anulação do exame e o apuramento dos
responsáveis pela derrocada do que se julgava adquirido. Consumada a trapalhada
inicial, transformada a Inspecção em submissão, prosseguiu a farsa com o
Despacho 8056/2013, que, preto no branco, contrariou a lei e mandou admitir à
repetição da prova todos, sem excepção, que a não tinham feito,
independentemente do motivo. A última palavra, corrigindo o despacho, deu-a ...
o Gabinete de Imprensa do ministério. Tudo brilhante, em nome do rigor, sob a
responsabilidade política do ministro do rigor. Espanta isto no dia em que
Maria Luís Albuquerque substitui Gaspar? Claro que não. Este é um Governo swap.
Um Governo que troca o que lhe dá jeito, particularmente a ética, pela
sobrevivência a qualquer custo.
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