quarta-feira, 3 de julho de 2013

GOVERNO DO REALITY SHOW


A sucessão de acontecimentos que teve lugar esta semana aconselha a que não se tome nada como definitivo pois, tal como uma vez disse um dirigente de um clube de futebol, o que hoje é verdade, amanhã é mentira.

O presidente do segundo partido da coligação demitiu-se ontem do Governo mas hoje já não é bem assim e amanhã poderá ser diferente. Como afirmava há pouco no Público online Pacheco Pereira, estamos a assistir a um reality show porque há aspectos “cómicos e ridículos se não custassem tão caro aos portugueses”. Além disso, as personagens também são parecidas com as personagens dos reality shows porque constituem “um grupo de pessoas claramente impreparadas para as responsabilidades e para o tempo que estamos a atravessar”. De certo modo e, por estas razões, a “única coisa que desde o princípio era possível antecipar é que isto iria acabar assim”.

Quem de direito achar que já sofremos quanto baste para tão parcos resultados, deve ser “misericordioso” para os portugueses e convocar, quanto antes, eleições antecipadas porque destas pode “resultar alguma margem de manobra política que não existe agora”.

Para a situação agora criada têm vindo a contribuir uma série de episódios, alguns deles, completamente caricatos a contribuírem para o anedotário nacional mas outros – a maioria – de um evidente dramatismo que atingiram, cada um por si, a quase totalidade do povo português. Está nesta qualificação o que se passou com a manifestação de autoritarismo do Ministro Crato ao insistir na realização do exame de Português do 12º ano em dia de greve dos professores, com o resultado que se conhece. O manancial de irregularidades e de atropelos à lei que tiveram lugar no dia 17 de Junho, por iniciativa do Ministério da Educação são, mais uma vez, realçados, de forma contundente, na primeira parte do texto que Santana Castilho assina hoje no Público e que não podemos esquecer.

 O fim da greve dos professores, primeiro, e a demissão de Gaspar, depois, atiraram para o limbo do quase esquecimento o escândalo do exame de Português do 12.º ano. Mas a consciência obriga-me a retomar o tema, no dia (escrevo a 2 de Julho) em que se branqueia a iniquidade. Que teria feito a Inspecção, que aparecia sempre e este ano sumiu, se verificasse que se efectuaram exames sem o funcionamento regulado dos respectivos secretariados? Que houve vigilantes desconhecedores das normas básicas, socorridos no acto... pelos próprios examinandos? Que se realizaram exames sem a presença de professores coadjuvantes? Que professores de Português vigiaram exames? Que não foi garantida a inexistência de parentesco entre examinados e vigilantes? Que não houve um critério uniforme para determinar quem fez e quem não fez o exame a 17 de Junho? Que o sigilo, desde sempre regra de ouro, foi grosseiramente quebrado pela comunicação, em ambiente de tumulto público, entre o exterior e examinandos? Que se prestaram provas em locais inadequados e proibidos pelas regras vigentes? Que não foi respeitada a hora de início da prova? Que teria feito, afinal, a Inspecção, se... existisse? O óbvio, isto é, a recomendação da anulação do exame e o apuramento dos responsáveis pela derrocada do que se julgava adquirido. Consumada a trapalhada inicial, transformada a Inspecção em submissão, prosseguiu a farsa com o Despacho 8056/2013, que, preto no branco, contrariou a lei e mandou admitir à repetição da prova todos, sem excepção, que a não tinham feito, independentemente do motivo. A última palavra, corrigindo o despacho, deu-a ... o Gabinete de Imprensa do ministério. Tudo brilhante, em nome do rigor, sob a responsabilidade política do ministro do rigor. Espanta isto no dia em que Maria Luís Albuquerque substitui Gaspar? Claro que não. Este é um Governo swap. Um Governo que troca o que lhe dá jeito, particularmente a ética, pela sobrevivência a qualquer custo.

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