sexta-feira, 26 de julho de 2013

FALSOS GESTOS DE ESQUERDA


Quando não está no Governo o PS tem, frequentemente gestos de esquerda. Esta afirmação parece conter um tom provocatório mas é a expressão da realidade porque, uma vez no poder, porta-se quase como um partido adepto das nefastas políticas neoliberais, vergando-se inexoravelmente perante as mais duras exigências da troika estrangeira e dos seus mandantes. A prática “socialista” tem sido esta e, pelo que se pode constatar actualmente, existem fortes receios de que tudo continue na mesma, caso venha a vencer as próximas eleições legislativas, tenham elas lugar quando tiverem.

Com este pano de fundo, é muito importante que fiquem registadas determinadas tomadas de posição dos seus dirigentes de topo para percebermos as punhaladas nas costas com que o povo português é fustigado, logo que o PS chega ao poder. É exemplo desta afirmação um artigo que vem hoje inserido no Público, assinado por Óscar Gaspar, dirigente nacional do PS e antigo Secretário de Estado da Saúde do último Governo de Sócrates. O essencial do texto de Óscar Gaspar, que aqui vamos deixar reproduzido, tem, certamente, a concordância de qualquer força de esquerda. O pior para os portugueses é quando chega a hora da verdade...

 
Colunista do PÚBLICO, reagindo ao meu artigo "a pior troica é a que não quer ver", diz que enfia o barrete. Só faltou identificar qual o pilar em que se reconhece. Recordo que, na quinta-feira, eu falava de resignação, ideologia e incompetência.

Comecemos pelo primeiro: resignação. Recordamo-nos bem daqueles que no 2.º semestre de 2011 justificavam a tese do ir além da troika com o estafado argumento TINA (there is no alternative) de Margaret Thatcher. Aumentou-se o IVA da restauração para o máximo e cortou-se um subsídio de Natal, mas os comentadores convertidos gemiam: "Não há dinheiro". Em 2012 já era claro que algo não estava a correr bem, mas diziam ainda que a troika exigia e aprovaram-se 2 mil milhões de euros de aumentos do IVA e cortes nos subsídios de férias e de pensões dos funcionários públicos e dos pensionistas. Para 2013 repete-se que "a troika não deixa, não quer", ensaia-se o escândalo da TSU e há um compromisso nunca explicado de cortar 4,7 mil milhões de euros. A economia afunda, o desemprego vai a caminho dos 19%, mas, afinal, dizem que não há razões para alarme porque estes serão efeitos automáticos de fragilidades estruturais. Repetidamente o Governo, e quem o apoia, entende que a evolução é esta porque tem que ser, mas tal será apenas uma leitura apressada do evolucionismo...

A segunda opção é a da ideologia. Durante três anos os políticos e os comentadores de direita (com vossa permissão incluo aqui os liberais) foram os arautos da teoria da austeridade expansionista. Como gastámos de mais, agora temos que reduzir despesa para que os mercados ganhem confiança e para que o investimento ocorra. Acontece que, à data em que escrevo, a tese de Alberto Alesina feneceu sem glória no Excel de Rogoff com um epitáfio imposto pela realidade: não funciona! Por si só, esta história merecia um livro aos quadradinhos.

Os defensores do Governo dizem que não há alternativa aos cortes porque a despesa do Estado estrangula a economia. Desculpem: digam isso, por favor, aos portugueses, sem se rirem, e justificando como os sacrifícios imensos dos cidadãos não se traduzem em consolidação orçamental. Depois do próprio FMI e do Banco de Portugal terem demonstrado os multiplicadores da recessão, não será este o momento de evoluir um pouco na argumentação de quem só defende cortes?

Por fim, a incompetência. Mas aqui suponho que a carta de demissão de Vítor Gaspar não deixa guarida para muitos mais se acoitarem. Independentemente do carácter mais ou menos activo, para além da questão da ideologia poderia, ainda assim, haver alguns resultados da política. Pois não há. Os aumentos de impostos esfumam-se nas falências e no desemprego, as dívidas do Estado não decrescem apesar dos despachos e a hidra da despesa não só parece ser de pai incógnito, mas também de improvável domador. De nada servem leis de compromissos ou garrotes administrativos à despesa se não se alterarem processos e comportamentos.

Para o comum dos portugueses “de nada servem” “compromissos” prévios ou juras de guerra às políticas troikistas “se não se alterarem processos e comportamentos” dentro do PS.

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