Embora
por estes dias tenhamos toda a nossa atenção focada nos criminosos atentados de
Paris que ceifaram a vida a mais de uma centena de pessoas – uma macabra
contabilidade que só tem tendência a aumentar – há outros temas que continuam
na ordem do dia como a cimeira do clima das Nações Unidas que terá lugar
precisamente na capital francesa, entre 30 de Novembro e 11 de Dezembro. Na cimeira
estarão representados cerca de 200 Estados “num evento que mobiliza
jornalistas, peritos, organizações não governamentais e activistas de todo o
mundo”.
Muito
a propósito foi publicado hoje no Público o texto seguinte – com o título acima
– assinado pela Embaixadora do Ano Europeu para o Desenvolvimento, Cláudia Semedo,
cuja leitura recomendamos vivamente.
Entende-se
por desenvolvimento sustentável o que “procura satisfazer as necessidades da
geração actual sem comprometer a capacidade das gerações vindouras de suprirem
as suas próprias necessidades” (relatório Bruntland, “O nosso Futuro Comum”).
Um compromisso assente no equilíbrio de três eixos: social, ambiental e
económico.
O
tema está na ordem do dia. Com o fim da vigência dos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio, Setembro iniciou uma nova temporada de desafios.
Aprovada
e adoptada pela Assembleia Geral da Nações Unidas, a Agenda Global para o
Desenvolvimento Sustentável 2030 é um plano de acção, tendo as pessoas, o
planeta e a prosperidade no seu epicentro, que procura a paz universal através
de parcerias verdadeiramente globais. Com 17 objectivos e 169 metas, este
programa, mais abrangente e ambicioso nos propósitos do que o anterior, assume
a sustentabilidade do planeta e dos seus modelos de desenvolvimento como sendo
prioritária nos próximos 15 anos.
Os
cientistas afirmam, com 95 porcento de certeza, que a actividade humana
constitui a principal causa na base do aumento de temperatura global.
Identificada
como sendo uma das maiores ameaças ambientais, sociais e económicas que
enfrentamos actualmente, a questão das alterações climáticas discute-se em
Dezembro, na 21ª Conferência das Partes da Convenção, resultante da Cimeira do
Rio, de 1992, de onde se espera um novo acordo, juridicamente vinculativo, em
que todas as partes, países desenvolvidos ou em desenvolvimento, se comprometam
a reduzir a emissão de Gases com Efeitos de Estufa, conforme as respectivas
Contribuições Nacionais Determinadas.
As
propostas parecem simples mas exigem um mergulho na nossa essência e uma
análise detalhada aos nossos usos e costumes.
Exigem
que nos reposicionemos e repensemos as nossas escolhas. Exigem medidas que
implicam sacrifício e empenho.
O
“Ter” tem-nos definido, mas com que consequências para a possibilidade do
“Ser”, saudável, informado, justo, feliz?
Vivemos
escravos das nossas necessidades que, a solto galope, estão cada vez mais
distantes de serem consideradas básicas.
A
nossa lógica de consumo desenfreado subsidia esquemas de produção que cilindram
muitas vidas e constroem uma realidade muito injusta, muito desigual.
A
servidão à economia tem sido o centro de todas as questões.
E
se tudo fosse diferente? E se a necessidade de possuir desse lugar à
possibilidade de usufruir?
E
se não exigíssemos mais à natureza do que aquilo que ela nos pode dar?
E
se nos preocupássemos com a proveniência dos produtos que consumimos e com as
condições de trabalho das pessoas que os confeccionam?
E
se a produção estivesse ajustada às necessidades de todas as pessoas?
“Temos
nas mãos o terrível poder de recusar”. E com essa liberdade uma enorme
responsabilidade.
A
força que temos enquanto cidadãos e consumidores é gigante. E entre nós e ela
somente a nossa decisão, que, apesar de ser individual, deve ser pensada
globalmente.
É
urgente a opção por modelos de consumo e gestão informados e
responsáveis.
O
trabalho digno e produtivo no sector público e privado é factor chave para a
redução da pobreza e fomenta uma globalização mais justa.
É
preciso que cada país use consistente e coerentemente modelos de consumo
e de produção sustentável para criar oportunidades de trabalho de qualidade
para todas as pessoas, promover políticas de protecção social, fomentar a
inclusão e fazer cumprir os princípios e direitos fundamentais, com benefícios
para as gerações actuais e futuras — só assim a paz e a felicidade serão
possíveis. Na construção de um mundo justo e livre, o investimento tem de ser
nas pessoas. Em todas as pessoas!
Aprendermos a pensar e agir
em conformidade é o caminho mais directo para um mundo melhor.
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