Todos sabemos a especial apetência que o Governo Sócrates tem pela manipulação da informação, sempre que isso reverte em proveito próprio. São autênticos profissionais da mistificação. Ainda estão bem presentes nas nossas memórias as campanhas contra vários sectores profissionais como os professores e os magistrados. Se nos descuidarmos, um dia destes vão tentar convencer-nos que 2+2=5.
Os indicadores estatísticos são dados facilmente manipuláveis e que, com frequência, enganam, até, os mais atentos.
O Produto Interno Bruto (PIB) de um país – o montante de bens e serviços por ele produzidos num dado ano – não tem qualquer significado em termos de nível de bem-estar nem cauciona a qualidade de vida dos cidadãos. O cálculo do seu valor é de tal forma confuso que acaba por consubstanciar em si próprio uma contradição. Vejamos os três exemplos seguintes:
* Os engarrafamentos de trânsito que quase todos os dias têm lugar nas grandes cidade, com o grande consumo de combustível que implicam, tem uma contribuição positiva no PIB mas, por outro lado, concorre para a degradação ambiental com todas as consequências negativas para a saúde das pessoas e a sobrevivência das espécies.
* As catástrofes naturais que acarretam enormes perdas em vidas humanas levam, normalmente, a investimentos avultados na reconstrução de infra-estruturas.
* O despedimento de trabalhadores em empresas cotadas na bolsa valoriza as suas acções mas provoca os dramas humanos a que temos vindo a assistir todos os dias.
Estamos, assim, perante um indicador que contraria a percepção que temos da realidade de certos fenómenos económicos e sociais.
Tão óbvia se tornou esta situação que, em 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento passou a adoptar, como indicador, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que constitui uma medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros factores, para os diversos países do mundo. O valor do IDH varia entre 0 e 1, sendo este o que revela as melhores condições sócio-económicas e, por isso, um objectivo a alcançar por todos os países. Encontra-se dividido em três classes: elevado (superior a 0,800); médio (entre 0,500 e 0,799) e baixo (inferior a 0,500). Todos os países da ONU são classificados, de acordo com estas medidas. Portugal encontra-se englobado na classe “elevado”.
A insistência de Bruxelas no uso do PIB como hipotético indicador do nível de bem-estar das populações é, pois, completamente desonesta e só pode ser entendida como uma estratégia de encobrimento da realidade que todos sentimos, como, por exemplo, restrições nas políticas sociais ou alterações significativas das condições dos reformados.
O PIB tornou-se, assim, mais um instrumento de propaganda política relativamente ao qual o cidadão comum deve estar preparado para o reconhecer e desmontar.
Luís Moleiro
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