"Aqui começa a arrancada final", garantiu Francisco Louçã. No comício mais suculento do BE,
É como se o espírito de Luiz Pacheco - o escritor 'maldito' autor da obra "O libertino passeia por Braga, a idolátrica, o seu esplendor" - tivesse dado um abanão na Cidade dos Arcebispos. Não que a narrativa do Bloco de Esquerda tenha qualquer juízo de valor sobre os costumes ou saia da esfera política. Mas depois do serão passado as coisas ficam diferentes.
A 48 horas do final da campanha, uma troika do Bloco - Miguel Portas, Pedro Soares e Francisco Louçã - lançou o mais cerrado ataque aos partidos que assinaram o memorando, mas sobretudo ao PS e ao seu líder.
"José Sócrates ainda tem dois dias para dizer onde vai aumentar os impostos", disse Francisco Louçã. O coordenador do Bloco de Esquerda pediu explicações ao primeiro-ministro, por causa do aumento da taxa social única (TSU).
"O facto de estar demissionário não o poupa à exigência da verdade", afirmou o dirigente bloquista, perguntando se José Sócrates se "atreve a chegar às eleições com o embuste".
Francisco Louçã usou declarações de Teixeira dos Santos proferidas na quarta-feira, para pôr em causa a palavra de Sócrates (quando este no debate televisivo entre ambos minimizou a questão do aumento da taxa social única.
Embuste & mentira
"É a mentira organizada sobre a segurança social", declarou, insistindo: "Em política não se pode mentir. Não pode haver ocultações".
Após as críticas a José Sócrates, Francisco Louçã virou-se então para o eleitorado do PS. "Os eleitores socialistas são os primeiros a ser enganados, porque também vão ter aumento de impostos. Vão ser os primeiros a ser enganados...", advertiu.
No comício mais participado do Bloco de Esquerda, em que muita gente assistiu de pé, o conjunto das intervenções foi o mais demolidor para o Governo e José Sócrates. Argumentos variados, desde o que realçam comportamentos políticos que o Bloco considera incoerentes, até hábeis jogos de palavras, que ficam facilmente no ouvido.
Referindo-se a diferenças assumidas por PS e PSD relativamente ao memorando, Francisco Louçã afirmou: "Entre os signatários do memorando, há os que são a troika e outros que são a troika-troika".
Mais adiante, metendo já socialistas e social-democratas no mesmo saco, mas acusando-os de se prepararem para dizer na próxima segunda-feira uma coisa diferente do que afirmam agora, o líder do Bloco coloca outro rótulo: "São uns troika-tintas".
A vez da Geração à Rasca
Na noite de Braga, Francisco Louçã voltou a falar aos indecisos e, entre estes, aos jovens. "Há alguma coisa na tua vida em que deixes que sejam outros a decidir por ti?", perguntou.
O discurso de Louçã abandona as fórmulas tradicionais para adotar nuances que encaixariam em qualquer mensagem publicitária. É como se o destinatário - o jovem - estivesse mesmo à frente do palco, montado na praça central de Braga. "Não deixes de ser tu próprio", diz o líder do Bloco de Esquerda. "Vai à luta e mostra o que pode ser o voto dos jovens", incita.
Não são uns cidadãos quaisquer, de existência anónima, os que ontem à noite estiveram na mira do BE. São os jovens da Geração à Rasca, que em 12 de março percorreram o país, "e deram o exemplo à Espanha", afiança Francisco Louçã.
Mudança de regime
Antes de Louçã, já as intervenções do eurodeputado bloquista Miguel Portas e do cabeça de lista por Braga, Pedro Soares, haviam aquecido o ambiente e varrido os alvos.
Para Miguel Portas, José Sócrates é a "passadeira cor de rosa para o PSD". Sobre o acordo assinado com troika, o deputado ao Parlamento Europeu descreveu as coisas da seguinte forma: "De três em três meses, cá virá um fiscal, um rapaz de cabelos louros, óculos escuros e pasta preta".
Com tudo isto, concluiu Miguel Portas, "o que está a preparar-se é uma verdadeira mudança de regime, em que o soberano não é o povo que vota no domingo, mas um eurocrata sem rosto de Bruxelas".
Ou dito de outra forma: "Não há um primeiro-ministro; há uma criatura que vai a despacho a Bruxelas".
Um Jardim interior
Antes, Pedro Soares começara o desfile de ataques ao Governo, ironizando com as "procissões de ministros e de secretários de Estado" que nos últimos tempos têm passado pelo distrito de Braga, em "inaugurações do que está pronto, do que ainda não está pronto e até de promessas. É uma vergonha", afirmou o deputado.
"Todo o ministro do PS tem um bocadinho de Alberto João Jardim dentro de si", ironizou Pedro Soares.
Para o bloquista, o pior de tudo ainda está para vir. Será no sábado, véspera das eleições, dia de reflexão, que ocorrerá o "cúmulo da desfaçatez". O ministro da Agricultura, António Serrano, cabeça de lista do PS por Santarém, estará em Santarém a inaugurar a Feira Agricultura.
"Aqui em Braga começa a arrancada final do Bloco de Esquerda", avisou Francisco Louçã logo no início do discurso. O último de uma noite em que os dirigentes mobilizaram as hostes para "o combate imenso que aí vem". Uma derradeira batalha onde as palavras foram esgrimidas do modo mais incisivo que alguma vez haviam sido nesta campanha, tentando explorar todas as fissuras existentes na área do PS.
As tropas bloquistas continuam no Minho - a ver se vira - e estarão hoje de manhã em Barcelos, para uma arruada.
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