Francisco Louçã acusou ontem o primeiro-ministro demissionário José Sócrates de praticar a mentira organizada ao querer esconder os compromissos firmados com a troika de representantes da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. “Eu tinha dito que havia duas hipóteses: ou tinham assinado so memorandos em cima do joelho, ou eram muito incompetentes. Mas não: é mentira organizada”, disse o coordenador do Bloco de Esquerda, num comício em Braga na noite de quarta-feira.
Louçã recordou que no debate com Sócrates o confrontou com uma carta assinada pelo seu ministro das Finanças, em que o governo se comprometia com uma grande redução da taxa social única. “E ele: que não sabia, que não conhecia. Chegaram mesmo a pôr em causa a existência da carta. Mas hoje acabaram-se as dúvidas. Há uma carta que só foi traduzida oficialmente há poucos dias; e há uma segunda carta, o memorando ao FMI, que tinha ficado escondida.”
“Caiu a máscara”
Para o cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda por Lisboa, basta ler o memorando para perceber porque o mantinham escondido – é que nele, entre outras malfeitorias, o governo se compromete a fazer uma grande redução da TSU, isto é, da contribuição patronal por cada trabalhador para a Segurança Social. “José Sócrates quer ter o poder pelo silêncio e pela ocultação”, acusou. Mas, agora, “caiu a máscara”.
“Como se atreve a chegar às eleições com um aumento de impostos no bolso sem que as pessoas saibam quanto vão pagar mais?”, questionou Louçã. “Chega às eleições sem dizer o que vai acontecer segunda-feira”, apontou Louçã, acrescentando que Sócrates tem ainda dois dias para dizer onde vai aumentar os impostos.
O coordenador do Bloco de Esquerda citou também o caso do relatório do Tribunal de Contas que revelava que o Estado pagou às empresas de construção concessionárias das Scut mais dez mil milhões de euros, o que foi denunciado pelo Bloco e o governo também tentou negar. “É tempo de deixar todas as contas claras. Temos o direito de pedir que todo o debate nas eleições pelo menos seja claro.”
Troika-troika
Louçã citou ainda um deputado do PS que disse que os socialistas defendem o programa da troika, mas que o PSD “quer acrescentar troika à troika”. “Quer dizer que agora hás os troika, e há os troika-troika”, ironizou Louçã, recordando que esses partidos “troika-tintas” se juntaram para rejeitar uma proposta do Bloco que limitava as remunerações dos gestores públicos ao salário do Presidente da República.
A concluir, Louçã explicou porque na sua opinião, nas próximas eleições, há um voto perdido – “É o voto que deixa que as pensões sejam congeladas, que os salários sejam reduzidos, que o país seja levado à bancarrota”. E há o voto que ganha, que é o que defende a criação de emprego, o SNS, que defende realmente o Estado Social.
Antes de Louçã, Miguel Portas avisou que o que se prepara para Portugal é um país que será governando por um programa “monitorizado em Bruxelas” e que de três em três meses Portugal será alvo da fiscalização de “um rapaz de olhos claros, óculos escuros e pasta preta”.Para o eurodeputado do Bloco, “Não há primeiro-ministro, o que há é uma criatura que vai a despacho”. E pediu que ninguém tenha a "tentação" de ficar em casa no próximo domingo, insistindo que “O que está em causa aqui é a própria democracia.”
O cabeça-de-lista por Braga, Pedro Soares, afirmou que todo o ministro do PS “tem um bocadinho de Alberto João Jardim dentro de si”, ao denunciar a “procissão de inaugurações que ministros e secretários de Estado têm feito no Minho”, inaugurando até o que já foi inaugurado.
O comício foi aberto por Fernando Coelho, independente e mandatário da lista de Braga, que denunciou que está a ser posta em causa a base das conquistas sociais.”
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