segunda-feira, 6 de junho de 2011

O DIA SEGUINTE

Em cada eleição a democracia parece sair menos dignificada. A abstenção verificada ontem foi de 41,1% o que significa só que 6 em cada 10 eleitores portugueses exerceu o seu dever cívico de votar. Se, como tudo indica, for levada a cabo uma coligação PSD/CDS, isto quer dizer que apenas 25% do total de cidadãos eleitores apoia o próximo governo.
A campanha eleitoral dos partidos da nossa troika primou pela camuflagem do verdadeiro programa do governo que segue. O acordo promovido pelo FMI/BCE/EU garantia, desde logo, qualquer que fosse o resultado das eleições, um executivo à sua medida. Foi como se jogassem uma tripla no totobola.
A esmagadora maioria da comunicação social garantiu, com a sua desinformação, um caldo propício ao silenciamento do pacote imposto pela troika internacional. O tratamento das questões sérias foi boicotado pelos partidos da direita – não há dúvida que são três – e pelos seus apoiantes nos media.
Quanto aos resultados do Bloco de esquerda, não vale a pena dourar a pílula porque foram abaixo do esperado, mesmo pelas previsões mais pessimistas. Perder oito deputados não é coisa pouca quanto mais sabendo-se que isso significa uma quebra de cinquenta por cento. Se é certo que a conjuntura era desfavorável ao BE, a verdade é que não podemos esquecer erros de palmatória que foram cometidos pela direcção do partido depois dos excelentes resultados de 2009.
O primeiro erro tem a ver com a pressa no apoio a Manuel Alegre quando seria de ponderar uma outra solução que não colocasse lado a lado o partido de Sócrates e um dos seus mais directos rivais. A pressa foi má conselheira se bem que se tenha verificado que Alegre seria um candidato bem posicionado para derrotar Cavaco caso houvesse um sério empenhamento do PS. Mas não houve e o BE ficou associado a um candidato que, para além de perdedor, obteve um fraco resultado nas urnas.
O segundo erro foi quase infantil e também resultante de uma decisão tomada com inusitada pressa – a apresentação da moção de censura. Não está em causa que o Governo a não merecesse. O que se rejeita é que tenha sido uma resolução tomada em cima do joelho, com justificações mal concebidas, numa espécie de competição com o PCP para ver qual chegava primeiro. O resultado é que a máquina de propaganda do PS aproveitou este deslize para transmitir ao povo de esquerda a ideia de que o Bloco pretendia favorecer a direita. Parece que esta mensagem terá atingido os seus objectivos.
O terceiro erro também tem a ver com uma atitude mimética em relação ao PCP: a recusa de qualquer contacto com a troika. Muitos votantes e aderentes do BE não se sentiram representados perante aquela organização mesmo que fosse – assim teria de ser – para rejeitar as suas propostas. A comunicação social do regime e seus acólitos aproveitaram a situação para apelidar o Bloco de partido “inútil”, na sua missão de denegrir o papel dos que denunciam as consequências do pacote de medidas de austeridade imposto pela troika. Tratou-se de um erro estratégico já que o partido rejeitaria qualquer espécie de compromisso do tipo que foi aceite pelo trio PS/PSD/CDS. Pedia-se apenas que marcasse presença para vincar a sua posição de firmeza.
Perante os resultados obtidos e para reanimar e mobilizar as bases do partido, é de elementar bom senso a convocação de uma Convenção extraordinária. É importante que tenha lugar uma religitimação democrática dos órgãos dirigentes depois de um debate interno sobre as causas da derrota eleitoral.

Luís Moleiro

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