Como é facilmente constatado, a designação dos partidos políticos em Portugal e por essa Europa fora deixou de ter significado em relação à forma como actuam na prática. Socialismo, social-democracia e trabalhismo deixou de ser sinal de esquerda para passar a ser, cedência após cedência ao neoliberalismo, uma outra face da direita. Esta temática é analisada por um militante do PS num artigo de opinião, significativamente intitulado “Viram por aí os socialistas?”, inserido na edição de hoje do “Diário de Coimbra”. Eis a parte mais importante desse artigo:
“Há praticamente 30 anos, os partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas na Europa, com honrosas excepções, iniciaram um percurso perverso de cedência ao neoliberalismo. E os resultados desse caminho foram desastrosos, como se está a ver. A direita domina claramente uma Europa em crise e, exceptuando algumas vitórias eleitorais avulsas, nada mais aconteceu de bom.
As consequências são de tal forma trágicas que a esquerda já devia ter retirado lições e consequências, mas não o fez e insiste em viver como a avestruz, fingindo não ver os resultados da sua insensatez.
O Partido Socialista Europeu é uma desgraça política, responsável pela constante capitulação dos partidos, seus filiados, perante a burocracia conservadora de Bruxelas. Mas, também seduzidos pelo capitalismo financeiro. Poul Nyrup Rasmussen, seu presidente, é um homem de palha, sem capacidade, sem voz, completamente submisso às ordens que lhe chegam da Alemanha, pela voz de Martin Schulz, o porta-voz do grupo parlamentar. E Schulz é um habilidoso, que ainda vai enganando. De vez em quando, fala à esquerda e impressiona, mas a maioria das vezes age à direita, quase sempre, em silêncio. Por exemplo, é um dos responsáveis pela continuação de Durão Barroso na presidência da Comissão, embora, periodicamente, tenha afirmações de aparente crítica.
Conseguiu neutralizar alguns partidos, colocando na liderança homens tão sofríveis, como Frank-Walter Steinmer que conduziu o SPD a uma perda de influência tão grande que hoje é difícil garantir que seja de facto o partido líder da esquerda alemã. Mas há outros responsáveis, como Tony Blair, de quem me abstenho de fazer qualquer comentário, remetendo para a lúcida análise que sobre ele produziu Mário Soares, há duas semanas. Recordarei apenas que Blair influenciou o italiano Massimo D’Alema, a francesa Ségolène Royal e, para nossa desdita, uma criatura nascida em Alijó. Em 2006 escrevi que o saneamento das finanças públicas não iria provocar qualquer crescimento na economia portuguesa. Sócrates dizia exactamente o contrário. Não foi preciso esperar muito, para ver quem tinha razão. Em 2007, o défice público estava controlado e a economia portuguesa definhava. A história vai agora repetir-se com este governo de direita, a quem a incúria de Sócrates entregou o país. Quando a dívida e o défice orçamental estiverem controlados – se alguma vez chegarem a esse objectivo – também não vai acontecer nada de bom à economia portuguesa.
Sócrates dirigiu um governo de direita, obrigando agora Passos Coelho a construir um executivo que será ainda mais à direita. Os primeiros sinais estão aí. O memorando da troika e as intenções do governo são nitroglicerina pura, com fósforo a alta temperatura. Uma bomba incendiária que, se não for contrariada, queimará os resíduos da sociedade portuguesa.
O perfil do novo ministro das Finanças, publicado na revista Visão, é um susto. Ultraliberal, formado na Católica, coberto de loas por João Carlos Espada e Nogueira Leite. Odeia John Maynard Keynes e adora Milton Friedman. Monetarista puro e duro, acredita na auto-regulação dos mercados e abomina a intervenção estatal. (…)” (Sérgio F. Borges)
“Há praticamente 30 anos, os partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas na Europa, com honrosas excepções, iniciaram um percurso perverso de cedência ao neoliberalismo. E os resultados desse caminho foram desastrosos, como se está a ver. A direita domina claramente uma Europa em crise e, exceptuando algumas vitórias eleitorais avulsas, nada mais aconteceu de bom.
As consequências são de tal forma trágicas que a esquerda já devia ter retirado lições e consequências, mas não o fez e insiste em viver como a avestruz, fingindo não ver os resultados da sua insensatez.
O Partido Socialista Europeu é uma desgraça política, responsável pela constante capitulação dos partidos, seus filiados, perante a burocracia conservadora de Bruxelas. Mas, também seduzidos pelo capitalismo financeiro. Poul Nyrup Rasmussen, seu presidente, é um homem de palha, sem capacidade, sem voz, completamente submisso às ordens que lhe chegam da Alemanha, pela voz de Martin Schulz, o porta-voz do grupo parlamentar. E Schulz é um habilidoso, que ainda vai enganando. De vez em quando, fala à esquerda e impressiona, mas a maioria das vezes age à direita, quase sempre, em silêncio. Por exemplo, é um dos responsáveis pela continuação de Durão Barroso na presidência da Comissão, embora, periodicamente, tenha afirmações de aparente crítica.
Conseguiu neutralizar alguns partidos, colocando na liderança homens tão sofríveis, como Frank-Walter Steinmer que conduziu o SPD a uma perda de influência tão grande que hoje é difícil garantir que seja de facto o partido líder da esquerda alemã. Mas há outros responsáveis, como Tony Blair, de quem me abstenho de fazer qualquer comentário, remetendo para a lúcida análise que sobre ele produziu Mário Soares, há duas semanas. Recordarei apenas que Blair influenciou o italiano Massimo D’Alema, a francesa Ségolène Royal e, para nossa desdita, uma criatura nascida em Alijó. Em 2006 escrevi que o saneamento das finanças públicas não iria provocar qualquer crescimento na economia portuguesa. Sócrates dizia exactamente o contrário. Não foi preciso esperar muito, para ver quem tinha razão. Em 2007, o défice público estava controlado e a economia portuguesa definhava. A história vai agora repetir-se com este governo de direita, a quem a incúria de Sócrates entregou o país. Quando a dívida e o défice orçamental estiverem controlados – se alguma vez chegarem a esse objectivo – também não vai acontecer nada de bom à economia portuguesa.
Sócrates dirigiu um governo de direita, obrigando agora Passos Coelho a construir um executivo que será ainda mais à direita. Os primeiros sinais estão aí. O memorando da troika e as intenções do governo são nitroglicerina pura, com fósforo a alta temperatura. Uma bomba incendiária que, se não for contrariada, queimará os resíduos da sociedade portuguesa.
O perfil do novo ministro das Finanças, publicado na revista Visão, é um susto. Ultraliberal, formado na Católica, coberto de loas por João Carlos Espada e Nogueira Leite. Odeia John Maynard Keynes e adora Milton Friedman. Monetarista puro e duro, acredita na auto-regulação dos mercados e abomina a intervenção estatal. (…)” (Sérgio F. Borges)
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