terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ESPERANÇA DE VIDA E POBREZA

Causa alguma perplexidade que determinadas notícias, pelo seu significado, apareçam quase escondidas nas páginas interiores dos jornais ou, nem sequer sejam mencionadas nos telejornais. Se quisermos ser um pouco maldosos, poderemos dizer que é de propósito porque a sua divulgação vai contra os interesses de vários poderes estabelecidos.
Vejamos um desses exemplos.
Na Alemanha, a esperança de vida dos alemães com rendimentos mais baixos diminuiu fortemente nos últimos dez anos de acordo com números fornecidos pelo governo federal. Enquanto a esperança de vida dos alemães com rendimentos médios continua a aumentar, a das pessoas com rendimentos mais baixos passou de 77,5 anos em 2001 para 75,5 anos em 2010. Estes valores foram publicados pelo grupo parlamentar da esquerda “radical” Die Linke depois de um pedido por escrito ao governo.
Nos antigos estados da Alemanha de Leste, a diminuição da esperança de vida com pessoas de menores rendimentos – ou seja rendimentos inferiores a três quartos do rendimento médio – ainda é mais pronunciada ao ter passado de 77,9 anos em 2001 para 74,1 em 2010.
O especialista em reformas no seio do grupo parlamentar Die Linke, Mathias Birkwald sublinhou em comunicado que “o aumento da idade da reforma para 67 anos foi justificado pelo aumento da esperança de vida”. Recorde-se que a idade da reforma na Alemanha vai passar de 65 para 67 anos em virtude de uma medida adoptada em 2007 pelo governo de coligação então em funções (social-democratas e conservadores). Lá como cá, uma parte da esquerda, esquecendo a sua matriz, dá a mão à direita para confiscar direitos sociais.
Em Portugal andaram a tentar convencer-nos da necessidade de aumentar a idade da reforma porque a esperança de vida tem vindo a crescer e o “sistema” não aguenta. Esta ideia vem sendo apregoada até à exaustão para que o ataque que vem sendo desferido ao Estado Social e aos mais desfavorecidos ganhe credibilidade perante a opinião pública. E se a esperança de vida baixar, será que os que agora defendem tão afincadamente o fim do actual sistema serão de opinião de que a idade da reforma também deverá baixar? Esta questão é mais pertinente do que poderá imaginar-se porque é bem provável que a esperança de vida em Portugal venha a sofrer uma quebra, em especial para os sectores mais desfavorecidos da população, devido aos cortes sistemáticos de despesas públicas nos sectores sociais e na área da saúde e ao aumento galopante do desemprego. Com cada vez mais gente sem trabalho e orçamentos familiares raquíticos onde vão muitas pessoas buscar dinheiro para pagar serviços hospitalares, exames médicos e medicamentos?

Luís Moleiro

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