domingo, 4 de dezembro de 2011

DOIS ACTOS SIMBÓLICOS

Já aqui fizemos uma referência fortemente crítica ao simbolismo que representa a utilização por parte do Ministro da Solidariedade de um novíssimo carro de luxo, depois da manobra de propaganda que constituiu o uso da sua Vespa para se deslocar à tomada de posse e ao ministério no seu primeiro dia de trabalho.
Esta decisão de Mota Soares teve um eco que talvez não fosse esperado pelo ministro, em especial se tivermos em conta a posição crítica de algumas publicações próximas do Governo. Foi o que se passou em relação à “Sábado”, cujo editorial do último número foi muito contundente nesta matéria, a que devemos ainda acrescentar a censura do prof. Marcelo na sua homilia deste domingo.
Mas, vejamos o que se escreve na “Sábado”:

“A 21 de Junho deste ano, o dirigente do CDS/PP Pedro Mota Soares decidiu ir para a sua tomada de posse como ministro da Solidariedade numa Vespa. Algumas horas depois, a 22 de Junho, o seu primeiro dia de trabalho, optou por repetir a graça, deslocando-se até ao ministério na sua mota castiça.
Não foram gestos inocentes. Em ambas as situações, havia fotógrafos por perto. Numa altura em que toda a gente falava em contenção de despesas e na necessidade de os governantes darem o exemplo, Pedro Mota Soares quis mostrar que era apenas um humilde servidor do Estado, portador de um santo horror aos luxos do cargo.
O horror durou pouco. Segundo o ‘Correio da Manhã’ o ministro anda agora num novíssimo Audi A7, com um preço de venda ao público de cerca de 86 mil euros. Uma “fonte do gabinete” explicou ao jornal que a compra já tinha sido feita pelo governo anterior, que o ministro já nem tinha outro carro que pudesse usar, que o Estado até poupou dinheiro, que todo o processo foi conduzido pela Agência Nacional de Compras Públicas e etc., etc., etc., na habitual litania de quem é apanhado em falso. Está tudo muito certo – mas a verdade é que foi o próprio ministro quem se colocou nesta situação, ao usar uma mota como forma de afirmação política.
O pior de tudo nem é a indesculpável despesa num carro de luxo num ano como este. O pior são os discursos moralistas sem conteúdo, são as “medidas simbólicas” sem consequências e são os “exemplos” que têm como única função distrair os contribuintes. Entre o dia da Vespa e o dia do Audi A7 estão várias subidas de impostos, cortes dos subsídios de férias e de Natal e inúmeros aumentos na taxa de desemprego. O ministro da Solidariedade devia ser o primeiro a perceber isso.”

Se um acto do ministro (deslocar-se à tomada de posse numa Vespa) foi simbólico, o outro (andar agora num carro topo de gama) ainda o é mais.

Sem comentários:

Enviar um comentário