sábado, 24 de dezembro de 2011

O EXEMPLO GREGO

Depois da aplicação das medidas de austeridade à Grécia, os números são muito claros em relação às previsões da troika para este ano: falharam em toda a linha. Relativamente ao futuro, os gregos não terão muitas esperanças de que as previsões mudem de rumo. Mas a austeridade vai continuar implacável sobre as vidas dos infelizes helénicos, sem qualquer réstia de esperança num futuro melhor. É o aproveitamento da crise para a aplicação da agenda ideológica da doutrina neoliberal.
A situação grega devia ser observada com atenção pelos portugueses porque estamos sob um plano idêntico ao que foi aplicado aos gregos e o resultado é o que se está a ver.
A leitura do seguinte texto de Daniel Oliveira publicado na edição de 23/11 do ‘Expresso’ não deixa margem para dúvidas.

FANTASIAS
“Vão-me desculpar a quantidade de números que aqui vou debitar. mas eles ajudam a avaliar duas coisas: a competência da troika e a fé inabalável que mantém nas suas soluções, mesmo quando a realidade as desfaz em pó. Estas foram as previsões da troika quando aterrou em Atenas com as suas soluções mágicas para o crescimento da economia grega (para 2011, 2012 e 2013): -2,6%, 1,1%, e 2,1%. Na quinta revisão, a mais recente, são estas as previsões da mesma troika: -6%, -3% e o,1%. Primeira previsão para procura privada, seguindo sempre a mesma ordem: -3,7%, 0,8% e 2,8%. Nova previsão: -7%, -4,7% e -1,4%. Primeira previsão para o investimento: -11,8%, 0,8% e 4,8%. Previsão revista: -16%, -3,5% e 4%. Para o desemprego começou por prever 14,6%, 14,8% e 14,3%. Revisão em alta: 17%, 19% e 19,5%. E, por fim, a dívida pública. Primeira previsão: 145%, 149% e 149% do PIB. Previsão revista 162%, 151% e 149%.
Primeira conclusão: os dados que não dependem da fé da troika no futuro (os de 2011) estão a léguas das suas previsões iniciais. A recessão é muitíssimo mais profunda, a procura caiu quase o dobro do previsto, o investimento despenhou-se com muito maior aparato, o desemprego disparou muito para lá do que se julgava e os gregos estão muito mais endividados do que estavam e do que a troika julgava que estariam. Segunda conclusão: que, apesar de ter falhado em toda a linha, a troika continua a manter um extraordinário optimismo. Um exemplo disso mesmo é o da dívida (o dado mais importante para estes burocratas). Ela cresceu mais do que esperavam mas as previsões para daqui a dois anos mantêm-se inalteradas. Como escreveu Paul Krugman, estes homens não são tecnocratas. São românticos perigosos. E são os números, que eles deviam valorizar a denunciar as fantasias que habitam as suas cabeças.”

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