É certo que a História não se repete mas há paralelismos históricos que
não devemos deixar de ter em conta já que são muitas as comparações que podemos
fazer. Para além de notórias diferenças, a começar pela natureza do regime –
vivemos em democracia ainda que de baixa intensidade – há factos que actualmente
estão a ocorrer em Portugal que nos fazem lembrar o ambiente aqui vivido em
vésperas do 25 de Abril de 1974. É notória a degradação da vida política, há
uns, poucos grupos económicos que dominam a economia “e vivem de negócios e
rendas favorecidos pelo Estado”, a emigração é brutal, a pobreza cresce a olhos
vistos assim como a concentração da riqueza num reduzido grupo de famílias, a
propaganda intensifica-se para esconder o apodrecimento do regime e até a “caridadezinha”
está a fazer o seu caminho mercê da colaboração de gente de bem à altura.
Melhor do que nós, o prof. universitário Paulo Morais desenvolve este
tema na edição em papel do Correio da Manhã do passado sábado, no texto que
transcrevemos a seguir.
Em vésperas do 25 de Abril de 1974, o ambiente é de tensão e medo.
Atingiu-se
o grau zero da vida política. O Presidente da República, Américo Tomás, é um
corta-fitas, limita-se a fazer inaugurações pelo País, acompanhado de sua
mulher, Gertrudes. O chefe do governo, Marcelo Caetano, chegou ao cargo
prometendo enormes reformas, anunciando a abertura do modelo de administração.
Mas ficou refém dos poderes fáticos dominantes e, em particular, dos grandes
grupos empresariais. Uma deceção.
O
tecido económico é dominado por meia dúzia de famílias que controlam a economia
nacional, se alimentam da manjedoura do orçamento e vivem de negócios e rendas
favorecidos pelo estado. Os Espírito Santo e a família Mello lideram a lista.
Os negócios dependem de mecanismos de cessão de privilégios, dum
"condicionamento industrial", de alvarás e licenças, através do qual
o poder determina quem pode desenvolver negócios. Os níveis de emigração são
galopantes. Todos os anos, mais de cem mil portugueses rumam a outras paragens
para fugir da fome e da pobreza. A alternativa é ficarem por cá, trabalhando de
sol a sol, a troco dum salário miserável, que nem sequer garante uma
sobrevivência com um mínimo de dignidade.
O
ambiente social degrada-se. Existe um abismo cada vez maior entre uma multidão
de famintos e um pequeno grupo multimilionário. Esta nova aristocracia vive em
mansões de milhões, onde se sucedem festas sumptuárias. Mas, em simultâneo, a
miséria é crescente. Sucedem-se intermináveis filas nas sopas dos pobres. As
senhoras das chamadas famílias "de bem" brincam à caridadezinha,
distribuindo bens alimentares pelos famintos. Porque lhes dão comida,
arrogam-se o direito de lhes dar sermões, de lhes chamar malandros. O regime
disfarça toda esta pobreza e injustiça com os instrumentos de propaganda, onde
se destaca a RTP, com os seus atores e cançonetistas do regime, uma informação
pró-governamental, o futebol e o fado.
Em
1974, com as Forças Armadas insatisfeitas, as movimentações castrenses são
permanentes. Anuncia-se a revolta.
Agora:
voltar ao início do texto; substituir 1974 por 2014, mudar nomes (apenas
alguns); ler de novo.
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