Não
sabemos bem que alvos pretende atingir Durão Barroso com a entrevista que deu à
SIC e ao Expresso mas a ideia que fica, para já, é que ele regressou à política
nacional pela porta dos fundos. Em geral, os comentários que se podem ler na comunicação
social e na blogosfera são muito negativos. Um dos exemplos destas reacções é o
texto de Nicolau Santos que podemos ler no Expresso Economia do passado sábado.
Na
entrevista que concedeu ao Expresso e à SIC, Durão Barroso quis passar duas
mensagens: a primeira sobre o papel da União Europeia, por ele liderada, na
resposta à crise; a segunda sobre o resgate e o programa de ajustamento
português. Diz em relação à primeira: “A marca principal que posso deixar é a
resposta à crise (…) A Comissão deu uma resposta forte, cheia de iniciativa”. Apetece
dizer: Durão Barroso tem toda a razão. Mas a que tem é pouco e não vale nada.
Com
efeito, os dez anos durante os quais Barroso liderou a Comissão coincidiram,
ponto por ponto, com o declínio do poder e da capacidade de intervenção do órgão
executivo da União. Antes de Durão, funcionava o eixo Paris-Berlim para as
grandes decisões, mas a Comissão condicionava a evolução da União, tomando
iniciativas e avançando com propostas destinadas a defender os interesses dos
pequenos países. Agora, manda Berlim, existe um presidente da União e a Com issão
desapareceu em combate. Quem apagou o incêndio da crise não foi a Comissão nem
Barroso, foi o Banco Central Europeu e Mário Draghi. Quem foi incapaz de criar
uma agência europeia de rating para responder à ditadura das agências
americanas foi a Comissão. Quem permitiu que a ideologia neoliberal tomasse
conta da União, deixando cair o princípio da solidariedade e da coesão foi a
Comissão. Quem não conseguiu forçar uma resposta rápida e coerente à crise
grega, permitindo que ela alastrasse à Europa do sul e Irlanda foi a Comissão. Quem
não teve força para impor os eurobonds foi a Comissão. Quem nunca se demarcou
da receita da troika foi a Comissão – que foi mais fundamentalista que o FMI. Por
isso, é difícil perceber porque se orgulha o presidente da Comissão Europeia da
sua resposta à crise.
Barroso
confessa que fica magoado por ser visto como alguém da troika. Não se percebe. A
Comissão Europeia integrava a troika, Barroso fez várias declarações defendendo
a política de austeridade imposta aos países do Sul. Qual é a surpresa? Para contrabalançar
faz o papel de bonzinho: que já disse ao primeiro ministro “que há limites para
uma certa política, que temos de considerar os limites políticos e sociais das
medidas tomadas” – mas não se sabe o que fez de concreto para que tais limites não
fossem ultrapassados. E depois repete o mantra ideológico que domina a Europa:
o ajustamento foi feito com a rapidez necessária para ganhar a confiança dos
mercados e a reestruturação da dívida é uma palavra proibida.
Barroso não deixa uma herança
mas um fardo: a Bruxelas e a Portugal. Veremos como a história o julgará.
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