Mais
do que nunca, quem hoje verdadeiramente manda no Mundo é o capital financeiro.
Os governos são os seus paus mandados e as pessoas, para além de uma
pequeníssima minoria, só contam como fontes de exploração dos genuínos
expoentes do capitalismo neoliberal. É claro que a maioria que chefia
actualmente o Governo em Portugal, muito próxima ideologicamente do capital
financeiro, fecha os olhos ou apoia de forma descarada todos os seus desmandos,
por mais gravosos que sejam para as populações. O que se passa com as taxas
aplicadas pela banca aos seus clientes é um autêntico escândalo, pouco
denunciado, já que a informação também está controlada por aqueles a quem não
interessa que a revelação de injustiças extremas chegue aos principais
atingidos.
De
qualquer maneira, vai havendo gente com coragem, arriscando mesmo a sua vida
profissional, como José Vítor Malheiros, que não poupa nas palavras para pôr a
nu a negra realidade que nos cerca. Retirámos do Público este excerto da sua
crónica de hoje.
Já
sabíamos, mas ficámos a saber em pormenor, através de um trabalho publicado
nestas páginas há dias, que a banca tem andado a arredondar o seu fim do mês
através de taxas cobradas aos seus clientes sobre todas as operações possíveis
e imaginárias. Só no ano passado, o valor das comissões cobradas pelos cinco
maiores bancos a operar em Portugal (CGD, BES, BCP, BPI e Santander Totta)
ascendeu a 2661 milhões de euros, num total de receitas de 7265 milhões. No ano
anterior tinham sido 2534 milhões de euros.
O
facto é escandaloso a vários títulos. Em primeiro lugar, porque a esmagadora
maioria destas comissões é cobrada nas costas dos clientes, sem que a estes
seja facultada informação prévia e uma real possibilidade de escolha e são mesmo
alteradas sem pré-aviso e muito menos com possibilidade de opting out.
Em segundo lugar, porque as taxas são, como os números provam, claramente
excessivas. Em terceiro lugar, porque estas taxas dizem respeito a operações
que são hoje em dia indispensáveis na vida de qualquer cidadão, o que equivale
a dizer que correspondem a necessidades básicas da vida em sociedade. Em quarto
lugar, porque não existe um verdadeiro mercado bancário a que os clientes
possam recorrer (trocando de banco sempre que considerem as taxas de um deles
excessivas, por exemplo), já que todos os clientes bancários se encontram
aprisionados aos seus bancos por regras leoninas de fidelidade que impedem uma
verdadeira concorrência. Em quinto lugar, porque as taxas são tanto maiores quanto
mais frágeis são os clientes, ou seja: são cobradas aos pequenos clientes que
ganham a vida com o seu trabalho e que possuem saldos médios baixos, mas não
aos clientes que movimentam grandes quantias.
Houve uma altura em que a
actividade bancária se podia descrever de forma honesta: os depositantes
depositavam o seu dinheiro, que o banco emprestava a outras pessoas ou investia
em negócios, dividindo depois os lucros entre si e os depositantes. Hoje em
dia, os bancos funcionam de uma forma que não possui nenhuma espécie de
justificação moral e que oscila entre o jogo de casino e a actividade
predatória contra os trabalhadores, protegidos por políticos sem escrúpulos.
Verdadeiros atentados à liberdade que ninguém esperava ter de suportar 40 anos
depois do 25 de Abril.
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