Com
a queda do império soviético, o capitalismo e o(s) seu(s) braço(s) armado(s)
sentiram-se donos do mundo e assim actuarem de acordo com os interesses das classes
dominantes nas potências mais fortes. Os principais lideres actuam nesse
sentido, em todas as partes do mundo, conforme as suas conveniências, sem
sentirem um pingo de remorso pelo sofrimento causado a populações inocentes e indefesas.
Assim aconteceu no Ruanda, faz agora 20
anos, altura em que foram mortas, durante 100 dias cerca de 800 mil pessoas
pertencentes a uma etnia minoritária, numa das “páginas mais sombrias da história
da humanidade” como referiu recentemente o Secretário-geral da ONU.
Só
que, os principais responsáveis pelo sucedido eram interesses exteriores ao Ruanda
como já está plenamente comprovado. Em todo este processo, a França e a Bélgica,
em especial, têm as mãos manchadas de sangue.
O
autor do texto (*) que apresentamos a seguir, transcrito do Diário de Coimbra
de hoje, faz uma longa referência ao massacre de há 20 anos no Ruanda, para, na
parte final tirar uma curiosa conclusão sobre o desaparecimento do Boeing das
linhas aéreas da Malásia…
Já
cansado por mais um dia de trabalho intenso na universidade de Bordéus, chego a
casa e eis que televisões e rádios estabelecem os alinhamentos dos fluxos
noticiosos com o Ruanda e a violência que teria irrompido no país, colónia
belga desde o final da 1ª Grande Guerra. Tudo teria começado – repetiam os
media – pelo atentado ao avião em que seguia o presidente Habyarimana, que
originou a morte do ditador de etnia hútu, maioritária (85%) no país conhecido
pelas “mil colinas”.
Estávamos
na primeira semana de Abril de 1994 e, vinte anos depois, ainda me questiono
como foi possível eliminar fisicamente, entrar na casa do vizinho e violar
mulheres, esquartejar os corpos e decepar crianças, no que veio a constituir um
verdadeiro genocídio – em cem dias, 800 mil tutsis foram massacrados.
Tal
como o vizinho Burundi, o Ruanda é um país inventado pelos colonizadores, com
um terço da área de Portugal e quase o mesmo número de habitantes. Uns,
criadores de gado, donos das pastagens e em quem a Bélgica se apoia para administrar
o reino e, outros (hútus), que viviam do trabalho nos campos.
A
história diz-nos que, já em 1959, tinha ocorrido uma grave crise social, quando
os campesinos hutus incendiaram quintas e os seus locatários, matando o gado
com instrumentos agrícolas. De nada serviu, já que 35 anos depois veio o desastre.
Apesar da presença de outros “interessados” naquele espaço, casos do Reino
Unido e dos EUA, e da presença militar, maioritariamente francesa, concluída
com a “operação turquesa” cumprindo a estratégia do então presidente Miterrand,
para contrariar a hegemonia militar da Frente Patriótica Ruandesa de Paul
Kagamé, hoje inoxidável presidente do Ruanda e da sua capital Kigali.
Factos
como este não suportam resumos, pelo que me limito a sublinhar que só seis anos
depois dos trágicos acontecimentos, o primeiro-ministro belga vem pedir
publicamente perdão aos ruandeses, pelo “dramático cortejo de negligências, incompetências,
hesitações e erros que criaram condições para uma tal tragédia”, como o recorda
o digital francês “Rue89”, que relembra, também, as palavras do então presidente
Sarkozy (2010) ao reconhecer, com a ambiguidade diplomática habitual, “certas
circunstâncias que impediram de prevenir e acabar com um crime monstruoso”.
Tudo
isto surge como inverosímil, mas corresponde à verdade. O mesmo não se passa
com o já célebre desaparecimento do Boeing 777/200 das linha aéreas da Malásia.
Muito se tem escrito sobre o assunto, mas sempre evacuando a existência de uma
das principais bases americanas – Diego Garcia – dispondo de bombas
termonucleares, dos mais sofisticados equipamentos de espionagem e local
central nas guerras do Vietname, Iraque e Afeganistão, precedendo Guantánamo no
tratamento prisional de alegados terroristas.
Escrevendo
um mês depôs do colapso do voo, limito-me a deixar aqui o título do artigo de opinião
de Gordon Duff, editor sénior do digital “Military Foreign Affairs Journal”,
órgão oficial dos veteranos de guerra americanos – uma brincadeira da CIA (The CIA
Hoax). Resta-nos o tempo da investigação histórica que será, como quase sempre,
o indicador que fará a diferença entre o verosímil e o veredicto.
(*) João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação
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