Em
declarações, no mínimo infelizes, a directora do Banco Alimentar Contra a Fome acha
que os desempregados passam demasiado tempo nas redes sociais em vez de
procurarem emprego. É uma afirmação obviamente absurda porque o facto de 1 milhão
e 400 mil desempregados andarem à procura de emprego, todos ao mesmo tempo, não
levaria à criação de qualquer posto de trabalho. O desemprego tem, isso sim, a
ver com as políticas recessivas levadas a cabo pela maioria de direita no
Governo.
As
palavras de Isabel Jonet não poderão ser levadas a sério, porque a ninguém de
boa fé passa pela cabeça que 1,4 milhões de desempregados não trabalham porque
estão entretidos com as redes sociais. Talvez a senhora esteja a querer fazer
humor negro com a situação de calamidade que o país vive. De qualquer maneira são
afirmações que abonam pouco a sua inteligência e, por esse motivo, devem ser
tratadas como o fez o ex-deputado bloquista e actual candidato às eleições
europeias, João Teixeira Lopes, no Público de hoje, onde assina uma crónica,
muito a propósito intitulada Os dez
deveres do desempregado segundo Isabel Jonet.
Ei-los:
1 – Os
desempregados têm por dever principal trabalhar e não mandriar. Só o trabalho
liberta. Devem acordar cedo, fazer ginástica e comer pouco.
2 – Os
desempregados devem rezar as matinas e as vespertinas, com sentimentos puros.
3 – Os
desempregados devem agradecer a Deus. Por não serem pobres. Ou se são pobres,
por não serem miseráveis. Ou se são miseráveis, por não viverem no Uganda.
4 – Os
desempregados não podem receber subsídio, pois isso torna-os moles, dependentes
e com um agudo défice de empreendedorismo.
5 – Os
desempregados jamais devem usar as redes sociais. Podem encontrar por lá o Papa
Francisco e enveredar por maus caminhos.
6 – Os
desempregados devem lavar os dentes com água de três dias.
7 – Os
desempregados devem trabalhar como voluntários sob a estrita condição de nunca
pedirem remuneração.
8 – Se
alguma entidade insistir em remunerá-los apenas devem aceitar uma pequena
quantia, inferior a dois euros, para poderem dar esmola.
9 – Os
desempregados são europeus, por isso estão autorizados a ir a Lourdes a pé uma
vez por ano.
10 – Os
desempregados existem para a caridade alheia, tal como os pobres. O seu futuro
é o passado e o seu fim último é esperarem, limpinhos, com paciência, humildade
e singela alegria. O país não seria o mesmo sem eles.
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