A
evocação provocatória e não inocente que Durão Barroso fez há pouco tempo sobre – na sua opinião – a “excelência” da escola do tempo da ditadura fez levantar
uma onda de indignação da parte de muitos dos que viveram na pele e conheceram
de perto a escola salazarista. Durão Barroso sabe que está a mentir da forma
mais descarada mas não teve o menor pudor de o fazer embora se perceba que, vinda
da sua boca, tamanha atoarda tem alguma intenção.
O
prof. Santana Castilho, uma conhecida autoridade na área educativa, comenta
hoje no Público a tal “excelência” da escola salazarista, comparando, de forma
inequívoca, a situação antes e depois do triunfo da democracia. Do seu artigo
de opinião extraímos o seguinte excerto, bem significativo.
Os
constrangimentos impostos pela crise sofreram a interpretação de um fanático
dos resultados quantitativos que, incapaz de ponderar os efeitos das suas
políticas, está a produzir sérias disfunções no sistema de ensino, que nos
reconduzem à escola de 24 de Abril, aquela que Durão Barroso evocou e celebrou
há pouco, no antigo Liceu Camões. Porque ambos nos querem fazer acreditar que o
sonho de modernizar o país foi um erro, que estava acima das nossas
possibilidades, que devíamos ter continuado pobres e sem ambições, a eles e a
todos os que olham a Educação como mercadoria, aos que ainda não tinham nascido
em Abril de 74 e hoje destroem Abril com a liberdade que Abril lhes trouxe,
importa recordar, serenamente, o que Abril fez:
Em
1974 existiam apenas cerca de 100 escolas técnicas e liceus, para 40.000
alunos. Em 40 anos de democracia construíram-se mais de 1000 novas escolas,
para mais de milhão e meio de alunos.
Em
1974 havia apenas 26.000 professores. Desses, apenas 6000 eram profissionalizados.
Em 40 anos de democracia formaram-se e profissionalizaram-se milhares de
professores. Antes dos predadores que hoje governam, eram 150.000.
Em
1974 imperava o livro único e quatro anos bastavam. Em 40 anos de democracia
chegámos a uma escolaridade obrigatória de 12 anos.
Em
1974 fechavam-se crianças nos galinheiros e a taxa de cobertura do pré-escolar
era 8%. Em 40 anos de democracia essa taxa ultrapassou os 80%, graças a uma
rede de pré-escolar que acolhe hoje cerca de 270.000 crianças.
Em
1974 a taxa de escolaridade aos 17 anos era de 28%. Em 40 anos de democracia
passou para 80%.
Em
1974 a universidade era para uma escassa elite e para homens. Em 40 anos de
democracia trouxemos para a universidade cerca de 370.000 portugueses, dos quais
mais de metade são mulheres.
A trave mestra do
desenvolvimento da sociedade portuguesa, a Educação, foi liminarmente implodida
pelo actual Governo, que rejeitou uma das bandeiras de Abril, a educação para
todos. Agora que Abril dobra a esquina dos 40, é urgente que a denominada
sociedade civil desperte para o sombrio que mancha a paisagem humana das nossas
escolas: preocupantes sinais de violência na relação entre alunos e no seu
relacionamento com professores e funcionários; esgotamento físico e psíquico do
corpo docente, vergado pelo grotesco burocrático de tarefas inúteis, impostas
por políticas despóticas; êxodo precoce dos professores mais experientes; clima
de luta insana por uma carreira sem futuro, donde se esvaiu a cooperação e a
confiança que cimentava a comunidade humana dos docentes.
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