domingo, 30 de novembro de 2014

A DEMAGOGIA DE CÉSAR


Nos congressos partidários, uma fórmula muito utilizada para unir os seus membros é atacar com veemência os adversários políticos, usando-se, por vezes, consideráveis doses de demagogia e, mesmo, as mais descaradas manipulações da verdade. Foi exactamente essa a manobra de que lançou mão Carlos César, o recém-eleito presidente do PS, no congresso deste fim-de-semana ao afirmar que há uma “esquerda que só tem sido útil à direita”. Naturalmente que, perante os seus camaradas, ele queria referir-se a PCP e BE, mas, se quisermos ir à verdade histórica dos factos, é exactamente o PS que tem levado a cabo políticas de direita quando se encontra à frente do Governo. Inclusive, há quem, dentro do partido, defenda uma coligação com a direita.
É Francisco Louçã quem, no seu blog no Público, desmonta hoje, muito bem, as palavras de César, como se pode facilmente constatar.
Ontem, num congresso partidário perto de si, o recém-eleito presidente resolveu castigar a “esquerda que só tem sido útil à direita”.
Não se referia ao partido cujo governo entregou todos os hospitais que construiu aos Mello, Espírito Santo e Hospitais Privados de Portugal.
Nem se lembrou das parcerias público-privado.
Não se referia ao partido que incluiu no seu programa a privatização da EDP, da REN, dos CTT, ou que aceitou a privatização da TAP.
Não se referia ao partido que aprovou o Tratado Orçamental que nos compromete a uma política de austeridade para vinte anos e, depois, para todo o sempre.
Não se referia ao partido que aprovou, no Memorando com a Troika, um corte no serviço nacional de saúde ou uma redução da TSU a troco de um aumento do IVA, ou que aceitou congelar o salário mínimo nacional durante três anos.
Nem se referia ao partido que aprovou a anulação da cláusula do tratamento mais favorável dos trabalhadores, no contexto da legislação laboral.
Nem sequer se referia ao partido que inventou e promoveu as empresas de trabalho temporário, depois de ter introduzido os contratos a prazo ou outras formas de precarização do trabalho.
Carlos César sabe bem do que fala.
E, se se compreende que um partido reivindique os seus valores e a sua particularidade, compreende-se menos que o faça através de declarações de guerra que não têm outro fundamento que não seja a abdicação de uma resposta aos problemas que a austeridade e a finança impuseram a Portugal.

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