Nos
congressos partidários, uma fórmula muito utilizada para unir os seus membros é
atacar com veemência os adversários políticos, usando-se, por vezes, consideráveis
doses de demagogia e, mesmo, as mais descaradas manipulações da verdade. Foi exactamente
essa a manobra de que lançou mão Carlos César, o recém-eleito presidente do PS,
no congresso deste fim-de-semana ao afirmar que há uma “esquerda que só tem
sido útil à direita”. Naturalmente que, perante os seus camaradas, ele queria
referir-se a PCP e BE, mas, se quisermos ir à verdade histórica dos factos, é
exactamente o PS que tem levado a cabo políticas de direita quando se encontra
à frente do Governo. Inclusive, há quem, dentro do partido, defenda uma
coligação com a direita.
É
Francisco Louçã quem, no seu blog no Público, desmonta hoje, muito bem, as
palavras de César, como se pode facilmente constatar.
Ontem, num congresso partidário
perto de si, o recém-eleito presidente resolveu castigar a “esquerda que só tem
sido útil à direita”.
Não
se referia ao partido cujo governo entregou todos os hospitais que construiu
aos Mello, Espírito Santo e Hospitais Privados de Portugal.
Nem
se lembrou das parcerias público-privado.
Não
se referia ao partido que incluiu no seu programa a privatização da EDP, da
REN, dos CTT, ou que aceitou a privatização da TAP.
Não
se referia ao partido que aprovou o Tratado Orçamental que nos compromete a uma
política de austeridade para vinte anos e, depois, para todo o sempre.
Não
se referia ao partido que aprovou, no Memorando com a Troika, um corte no
serviço nacional de saúde ou uma redução da TSU a troco de um aumento do IVA,
ou que aceitou congelar o salário mínimo nacional durante três anos.
Nem
se referia ao partido que aprovou a anulação da cláusula do tratamento mais
favorável dos trabalhadores, no contexto da legislação laboral.
Nem
sequer se referia ao partido que inventou e promoveu as empresas de trabalho
temporário, depois de ter introduzido os contratos a prazo ou outras formas de
precarização do trabalho.
Carlos
César sabe bem do que fala.
E, se se compreende que um
partido reivindique os seus valores e a sua particularidade, compreende-se
menos que o faça através de declarações de guerra que não têm outro fundamento
que não seja a abdicação de uma resposta aos problemas que a austeridade e a
finança impuseram a Portugal.
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