quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A DIRECÇÃO CERTA, SEGUNDO O MINISTRO


A acção deste ministro da Educação, num país decente, já há muito teria levado à sua demissão. Pelo próprio pé ou por iniciativa do Primeiro-Ministro, Nuno Crato deveria estar de volta ao posto que ocupava antes da sua nomeação para o Governo. Infelizmente, em Portugal criou-se o hábito de a contestação à acção de um ministro incompetente servir para reforçar ainda mais a sua continuação no cargo. Não é de agora, convenhamos, mas está a fazer escola. Como se isto não bastasse, o ministro Crato, em vez de proceder ao reconhecimento e correcção das asneiras, de forma humilde, insiste na ideia arrogante de que o caminho que mantém é o único que está certo.  Foi exactamente o que fez através de um “discurso absurdo” por ocasião da celebração dos 36 anos da UGT.
Um dos temas abordados pelo Prof. Santana Castilho, no Público de hoje, foi a desmontagem oportuna, do auto-elogio de Crato aquando do aniversário daquela central sindical.
 A UGT fez 36 anos. Crato passou por lá, disse que a educação ia na direcção certa e ofereceu-nos um discurso absurdo, próprio do condutor que entra na auto-estrada em contramão e se queixa dos outros, todos, que acusa de estarem na faixa errada. Pareceu aquele desequilibrado fundamentalista carnívoro que, da maçã, só aproveitava o bichinho. Vejamos, em síntese, o despudor com que se elogiou.
Reforçou os conhecimentos essenciais dos alunos? Que são conhecimentos essenciais? Em que evidências se apoia para dizer isso? Há uma evidência, sim: queimou tudo o que é de raiz personalista e pública e promoveu a educação-mercadoria e privada.
Reforçou a avaliação externa? Fez os piores e mais iníquos exames de sempre, cujos resultados desmentem o que disse.
Valorizou o ensino profissionalizante? Eu digo de outro modo: elitizou o ensino, mandando crianças de 12 anos, com dificuldades, aprenderem uma profissão que não lhes dará emprego.
Aumentou o acompanhamento dos alunos com dificuldades? Como? Reduzindo professores de apoio, disciplinas, financiamento, todo o tipo de auxílios e complementos? Mesmo para a mentira há uma “ética”. Respeite-a, quando mente com tal despudor!
Valorizou a qualidade da docência? Varrendo a formação contínua? Instituindo a sinistra PACC? Despedindo em massa? Promovendo um concurso de vergonha sem fim? Tratando os professores como peças de um sistema acéfalo?
Deu maior autonomia às escolas? Qual? A que ninguém vê e o Conselho das Escolas lhe jogou à cara em documento que, num país decente, o demitiria ou ao conselho? A que resulta das estúpidas metas curriculares, que afogam e castram?
Aumentou a competitividade internacional do ensino superior e da ciência? Com a fraude da avaliação dos centros de investigação, que todos aniquilaram fundamentadamente, Conselho de Reitores por último?

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