No
texto que assina no número de ontem (13/11) na Visão, o Prof. Boaventura Sousa Santos
descreve, de forma sucinta como surgiu o novo partido espanhol Podemos que
ameaça agora a hegemonia dos partidos tradicionais espanhóis, ao ponto de estar
a causar pânico na direita mais reaccionária do país vizinho. O fenómeno político
que constitui o Podemos não surgiu de repente mas teve uma gestação que demorou
anos, partindo de bases completamente novas.
O
texto, apesar de curto, é muito interessante porque nos dá uma visão geral das
bases em que assenta o Podemos, o que permite antever não se tratar de um
fenómeno passageiro, caso mantenha as suas linhas programáticas iniciais.
Eis,
então, um excerto do artigo.
Para
entender o Podemos, é preciso recuar ao Foro Social Mundial, aos governos
progressistas que emergiram na America Latina na década de 2000, aos movimentos
sociais e aos processos constituintes que levaram esses governos ao poder, às
experiências de democracia participativa, sobretudo a nível local, em muitas
cidades latino-americanas a partir da experiência pioneira de
Porto Alegre e, finalmente, à Primavera Árabe. Em suma, Podemos é o resultado
de uma aprendizagem a partir do Sul que permitiu canalizar criativamente a
indignação nas ruas de Espanha. É um partido de tipo novo, um partido-movimento
assente nas seguintes ideias: as pessoas não estão fartas da política, mas sim
desta política; a esmagadora maioria dos cidadãos não se mobliliza politicamente
nem sai à rua para se manifestar, mas está cheia de raiva em casa e simpatiza
com quem se manifesta; o activismo político é importante, mas a política tem de
ser feita com a participação dos cidadãos; ser membro da classe política é algo
sempre transitório e tal qualidade não permite que se ganhe mais que o salário
médio do país; a internet permite formas de interacção que não existiam antes;
os membros eleitos para os parlamentos não inventam temas ou posições, veiculam
os que provêm das discussões nas estruturas de base; a política partidária tem
de ter rostos, mas não é feita de rostos; a transparência e a prestação de
contas têm de ser totais; o partido é um serviço dos cidadãos para os cidadãos
e por isso deve ser financiado por estes e não por empresas interessadas em
capturar o Estado e esvaziar a democracia; ser de esquerda é um ponto de
chegada e não um ponto de partida e, portanto, prova-se nos
factos. Exemplo: quem na Europa é a favor da Parceria Transatlântica para o
Investimento e Comércio não é de esquerda, mesmo que militante de um partido de
esquerda.
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