Juízes
e advogados convergem na ideia de que a sabotagem da plataforma informática
Citius foi uma invenção do Ministério da Justiça, numa manobra política
tendente a manipular a opinião pública a favor da ministra Paula Teixeira da
Cruz, no sentido de esta escapar às suas responsabilidades políticas.
Como
muito bem afirmou ontem João Semedo, "estamos perante uma ‘inventona’ construída pela ministra da Justiça para fugir às suas responsabilidades",
a propósito da decisão da Procuradoria-Geral da República de arquivar o
inquérito contra dois funcionários da PJ, que eram suspeitos de sabotagem da
plataforma Citius.
Neste
sentido vai igualmente o artigo de opinião que Alberto Pinto Nogueira, Procurador-Geral
Adjunto, assina hoje no Público.
A
ministra da Justiça confortou o país com um mandamento solene. Os princípios
estão na vanguarda de tudo. São “sagrados”. Já jurara a sua grandeza de
carácter e firmeza de governante. O seu timbre de apurar responsabilidades. Uma
só destas virtudes tranquiliza qualquer um. Todas juntas geram o eterno
descanso.
Socou
a porta da Procuradoria-Geral da República (PGR) na busca de criminosos e de
“interesses” ignóbeis que entravaram dolosa e gravemente a instalação e o
funcionamento do sistema CITIUS.
A
ministra sacudia responsabilidades políticas. Responsabilizava os
“sabotadores”. Correu mal.
Em
pouco tempo, a PGR decidiu que não se provaram nenhuns indícios de sabotagem do
sistema. O descanso da ministra da Justiça foi de curta duração. Não
resistiu a um breve inquérito de um órgão independente. Afinal, o Ministério
Público acaba por concluir que o seu ministério não teve competência para
proceder à instalação da plataforma informática. Instaura agora inquéritos
disciplinares aos funcionários. Faz persistir, via disciplinar, o que não
conseguiu via criminal.
As
dúvidas, que supõe semear, esfumaram-se. Já ninguém acredita em sabotagens ou
outros crimes quaisquer. Nem a ministra. Nem na ministra. Desgovernada,
continua a responsabilizar terceiros pela falência do CITIUS.
O
sistema judiciário requer e exige medidas de fundo, eficazes e com ética. A
ministra da Justiça persegue fantasmas. Não tem projectos. O projecto para a
Justiça é higienizar a má consciência da incompetência e indigência intelectual
que o crash da plataforma informática
exibiu. Desinfectar-se politicamente desprezando a clareza dos factos.
Crucificando a dignidade de funcionários. Esta e a consideração moral que lhes
é devida são princípios não resilientes ao desespero político da ministra. Com
recurso ilegítimo a processos crime e disciplinares.
Desrespeita
o povo português. Como se fôssemos um povo de imbecis. Uma vergonha! Vindo da
ministra da Justiça é de estarrecer de estupefacção. Uma denúncia criminal de
um ministro que mereceu um indeferimento quase liminar. Nunca um ministro
denunciou criminalmente, sem critério e fundamentos, os seus funcionários.
Inovadora!
A
ministra da Justiça pode tecer e especular com a argumentária que quiser.
Prosseguir a semear confusões. Mais se descredibiliza.
O
despacho de arquivamento do Ministério Público é muito claro. Demasiado claro.
Como a sentença absolutória, não tem que dizer que se provou que os factos não
ocorreram. Tem que dizer, isso sim, que não se provou que os factos ocorreram.
O juízo judiciário só pode ficar-se, naturalmente, por uma afirmação de
inexistência de prova indiciária. Não é assim por especial atenção ou afeição à
ministra da Justiça. Ou valor superior da sua queixa ministerial. Não ficou
porta aberta para mais nada. Não há mais porta nenhuma. O detentor da acção
penal é o Ministério Público. Não a ministra da Justiça que tanto ama o
princípio “sagrado” da separação de poderes.
É
assim em qualquer processo. O Ministério da Justiça está fartinho de saber. É
só uma regra fundamental do processo penal do Estado de Direito. Caso
encerrado.
O Ministério da Justiça tinha
de descer tantos graus. Irmana com o Governo. A Justiça, mesmo com ele, merecia
muito mais. Não ser reduzida a uma comédia.
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