quinta-feira, 29 de maio de 2014

A DIREITA LEVOU UMA CABAZADA


Se é certo que devemos olhar com muita preocupação para o alheamento das populações pela vida democrática e concomitantemente pelo simples acto de votar, procurando as razões profundas desse afastamento, não menos importante é a análise que devemos fazer relativamente aos resultados das eleições do passado domingo para o Parlamento Europeu.
O principal facto a destacar tem a ver com a derrota histórica que a direita portuguesa sofreu. PSD e CDS juntos não foram além dos 27,7% mas se tivermos em atenção que apenas 33,9% do universo de eleitores votaram, isso significa uma opção pela direita de 9,3%. Imagine-se que os dois partidos concorriam às eleições separados…
Graças à guerra que entretanto se iniciou no PS, os resultados miseráveis obtidos pela maioria de direita no Governo foram atirados para segundo plano mas não devem ser esquecidos, tendo em atenção as batalhas políticas que se avizinham.
Deixamos a seguir a transcrição de uma das “conclusões” sobre os resultados eleitorais de 25 de Maio referidas hoje no Público pelo historiador Manuel Loff.
Nunca numas eleições no Portugal democrático, quaisquer que elas tenham sido, os partidos do Governo sofreram uma derrota tão grande, nunca se lhes deu um apoio social tão reduzido! PSD e CDS têm hoje 27,7% dos votos, perderam mais de 1/3 (520 mil) do que tinham há cinco anos. Na Madeira, por exemplo, repararam?, tem... 30,9% dos votos, metade do que tinha! Dêem-se as voltas que se quiser, invoque-se a abstenção (como se ela não tivesse sido sempre elevadíssima em europeias anteriores), diga-se que “daqui a um ano é que se vai ver!”, mas não há volta a dar: em europeias, a direita tinha tido o seu pior resultado em 2004, em pleno arranque da austeridade, pela mão de Durão e Ferreira Leite, e obtivera 33,3% dos votos; agora afundou-se. Até em 1975, em pleno fulgor revolucionário, superava 34% dos votos! Lembremo-nos que esta coligação de direita reuniu, em 2011, tanto apoio quanto Cavaco há 25 anos, bem mais do que as vitórias de Sá Carneiro. Está hoje reduzida a isto. O único castigo de dimensões comparáveis a algum partido de governo ocorreu nas legislativas de 1985, quando o PS, que liderara um governo de Bloco Central numa austeridade de efeitos tão devastadores como esta, mas aplicada por muito menos tempo, perdeu em dois anos mais de 40% da sua representação – mas o seu parceiro de governo, o PSD, é que não pagou o mesmo preço, o que, com a irrupção do PRD (17,9% dos votos), propiciou nesse ano a mais baixa vitória de sempre em eleições (29,8%).
É verdade que ao fim de 24 horas o PS se deixou embarcar em mais uma daquelas operações em que só embarcam políticos profissionais fechados dentro da sua redoma, sem perceberem como são diferentes os tempos que estamos a viver: Seguro ou Costa?, quem é mais “ganhador”?, “qual dos dois nos safa de termos de fazer uma coligação e repartir lugares que gostaríamos só para nós?” De todo este lamentável folclore politiqueiro quase até parece que já nem há derrota irremissível de um governo que assumiu o maior ataque à sociedade portuguesa desde que Salazar nos lançou em 13 anos de guerra em África. Assentemos na segunda conclusão: nunca um governo teve tão pouco apoio em Portugal desde que há democracia! Nunca foi tão evidente que a Constituição deveria ser ativada para o demitir e permitir aos portugueses escolher outro governo!

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