Quando
vemos personalidades ligadas ao negócio da saúde usar todos os argumentos,
incluindo a mais despudorada mentira, para atacarem o Serviço Nacional de Saúde
(SNS), é bom termos em mente que aquele negócio é o segundo melhor, logo a
seguir ao das armas. Destruir a saúde pública para aumentar o mais possível os
lucros privados é o objectivo maior da ideologia neoliberal ora dominante por
todo o mundo e no poder em Portugal. Cabe ao cidadão comum estar informado
sobre as verdadeiras intenções de gente que só pretende encher os bolsos o mais
possível, sem a menor preocupação relativamente à protecção das pessoas em caso
de doença. Nas próximas eleições Europeias (25 de Maio) e Legislativas (2015)
também está em causa a defesa do SNS. Este artigo de opinião (*) que encontrámos
hoje no Público constitui uma excelente denúncia dos interesses espúrios que
envolvem a pretendida destruição do SNS.
A
Educação pública esteve recentemente em foco a partir de dois livros de Maria
Filomena Mónica e das polémicas que desencadearam. Mas há um assunto tão ou
mais importante, que é a Saúde ou, mais bem dito, o Serviço Nacional de Saúde
(SNS). Ambos são alvo da ideologia “dominante” que tem por objectivo maior a
redução ao mínimo do papel do Estado… mas usando-o para os interesses em que o
dito lhes convém. E como se faz isso?
Pois
uma das formas é atacando “rápido e em força”, pois este poder actual não vai durar
sempre e convém destruir o mais possível para, depois, se dar como “sem
alternativa” o statu quo que resultou da destruição. No SNS, um
dos mais activos nesta doutrina tem sido o presidente da Associação de
Hospitalização Privada, dr. Artur Osório de Araújo (A.O.A.), que vem escrevendo
artigos em catadupa no PÚBLICO, o último dos quais (9/4) até tem já o
despudorado (e desejado…) apodo de “sobrevivente”, adjectivando o SNS.
Felizmente que apareceu um relatório da Entidade Reguladora de Saúde que o desmente.
É que A.O.A., na sua ânsia de “chegar aonde quer”, mente e/ou diz verdades
distorcidas. “Aproveitador”, remete (pois, pois…) a “vocação de ensino e
tratamento de doenças complexas” (sic) para um múnus do Estado (claro que como empresa
pública, ora não!...), ou não fossem estas duas funções aquelas que os
“privados” menos querem, pois dão trabalho e oneram exponencialmente a média
dos custos que, logo a seguir, lhe servem a acusar o SNS de dispendioso e,
ainda por cima, “ineficiente e iníquo” (sic). E o elogio que faz à ADSE mantida e alargada?
Mas que falta que faz este subsídio chorudo do Estado aos “baixos preços” dos
“privados”, não é, dr. Artur Osório?
No
artigo deste senhor não faltam ainda os clássicos epítetos de “colectivista,
totalitário, etc.”, para etiquetar a acção do Estado na Saúde. Pois foi neste
Estado que todos nós, médicos, aprendemos (também A.O.A.) e contribuímos para
os indicadores de Saúde que, ainda hoje, honram o nosso país!
Termino
com a justificação para o título deste meu artigo. O dr. Artur Osório foi
director, durante muitos anos, de duas grandes instituições públicas
(estatais…) hospitalares: o IPO do Norte e o Hospital de Pedro Hispano.
Percebe-se? Ai não se percebe! A ambivalência despudorada é pedra-de-toque
deste Estado possuído por dentro!
(*) Fernando
Cardoso Rodrigues, Chefe de Serviço de Pediatria do SNS, aposentado
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