segunda-feira, 5 de maio de 2014

ESTRATÉGIA ELEITORAL PURA


A expressão “saída limpa” é apenas propagandística e tem fins claramente eleitorais como tem sido denunciado até por figuras ideologicamente próximas do Governo. O próprio Marcelo Rebelo de Sousa falou em “foguetório” na sua homilia dominical na TVI.
Os meios propagandísticos que o Governo dispõe são muito fortes na divulgação da mentira que está a ser propalada no sentido de convencer os cidadãos de que manhãs radiosas estão ali, ao virar da esquina, para todo o povo português. Neste campo o combate é muito desigual com aqueles que querem repor a realidade dos factos mas, mesmo assim, não há que baixar os braços.
O artigo de opinião que o prof. universitário Luciano Amaral assina hoje na edição em papel do CM é muito esclarecedor (com poucas palavras) em relação àquilo que, de facto nos espera, e merece divulgação. (os sublinhados são nossos)
Os últimos dias têm sido muito instrutivos quanto ao presumível espírito reformista do Governo. De repente, a propósito do encerramento formal do programa da troika e da celebérrima ‘saída limpa’, o vice-primeiro-ministro Paulo Portas veio dizer-nos que a "missão foi cumprida", e o primeiro-ministro que "o país está pronto para caminhar pelas suas próprias posses e meios". A coisa está tão boa que o Governo, no Documento de Estratégia Orçamental para 2014-2018 (DEO), até promete devolver rendimento a pensionistas e funcionários públicos já para o ano. Afinal era só isto?
Pois, não era. Não é que o DEO seja uma leitura fascinante, mas uma simples passagem cursiva pelo seu conteúdo mostra que a ‘saída limpa’ não passa de uma formalidade. Por duas razões. Uma chama-se ‘Pacto Orçamental’, um documento assinado em 2012 pelos membros da União Europeia que obriga Portugal a um défice orçamental de 0,5% do PIB em 2017, partindo de mais ou menos 5% o ano passado. Ainda muito corte e aumento de impostos vem aí. A outra razão é que as missões (a partir de agora semestrais) da troika vão continuar até Portugal ter devolvido 75% daquilo que recebeu em empréstimo, o que só acontecerá em 2038(!). A ‘saída limpa’ é um mero momento de pose para a fotografia que não vai mudar a política a ser seguida no futuro. Incidentalmente, cabe perguntar como tenciona o PS, quando for governo, inverter o ‘austeritarismo’ que tanto denuncia agora, quando tem de cumprir o Pacto Orçamental que ele próprio aprovou no Parlamento.
Tudo isto revela a grande confusão que sempre existiu sobre o Governo desde o início: a confusão entre um programa de reforma da economia e um programa de ressarcimento de credores. O que foi feito nos últimos três anos foi apenas ressarcimento de credores: os privados estrangeiros, que foram pagos com os empréstimos da troika; e a partir daqui, a própria troika, paga com a austeridade. Quanto à economia, ficou na mesma, pelo menos quanto a crescimento e competitividade, com a diferença de que entretanto se empobreceu imenso. Não quero ser o arauto das más notícias, mas infelizmente não é verdade que o país possa agora "caminhar pelas suas posses e meios".

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