Tradicionalmente
as eleições para o Parlamento Europeu registam uma forte abstenção, com
percentagens que têm vindo sucessivamente a crescer. Se é certo que grassa uma
grande desilusão entre as populações, também não é menos verdade que as pessoas
se interessam cada vez menos por conhecer os candidatos e os programas que
apresentam. Criou-se a ideia de que os detentores de cargos políticos são todos
mentirosos e corruptos, só querem ir para lá para defender o “tacho”, ganham
balúrdios de dinheiro e têm infinitos privilégios. Este rótulo assenta bem num
número significativo deles mas, para muitos outros, é completamente injusto. De
qualquer maneira, para aqueles que ocupam os cargos defendendo meros interesses
pessoais ou de grupos restritos, é muito conveniente que todos os outros – competentes
ou incompetentes, corruptos ou honestos, mentirosos ou sérios – sejam metidos
no mesmo saco para que nenhuma diferenciação se faça por esse lado.
É
muito importante salientar que Marisa Matias, a cabeça de lista do Bloco de Esquerda
às eleições para o Parlamento Europeu, tem dado sobejas provas de competência,
honestidade e empenho no trabalho desenvolvido em Bruxelas em prol dos
interesses do povo português. Todos os restantes candidatos da lista bloquista,
foram escolhidos, tendo em atenção as suas qualidades pessoais e políticas pelo
que dão garantias de uma representação à altura daquilo que Portugal necessita
neste momento difícil que atravessa.
A
propósito do acto eleitoral que vai ter lugar daqui a duas semanas, achámos
interessante transcrever para aqui o seguinte texto (*) publicado há quatro
dias no Diário de Coimbra.
Comemorámos
abril, homenageámos os capitães, festejámos o 1º de Maio, e agora? Agora temos
de reiniciar o caminho de abril, temos de concretizar o desejo de mudança que
trespassou o país neste período.
Reconheça-se
que, para a maioria da população que sempre viveu em democracia, é difícil
sentir profundamente a importância de votar. As deficiências da democracia representativa
e as profundas dificuldades vividas diariamente levam os nossos cidadãos a
esquecer que o “voto é a arma do povo”. É difícil mobilizar as populações para
as europeias, onde a tendência para uma forte abstenção é consequência de
políticas europeias que progressivamente vêm destruindo o projeto europeu nas
seus princípios fundamentais, a solidariedade entre nações, o progresso social
dos povos, a construção de um espaço de paz. Deveremos, no entanto, interrogarmo-nos
sobre a razão por que, apesar das evidentes contradições vividas no seu
interior, continua a UE a constituir uma referência para os países que nos
batem à porta. Não podemos esquecer que muito do nosso futuro depende do
enquadramento legislativo de âmbito europeu.
Se
queremos dar um novo impulso ao projeto europeu, se queremos regressar aos
valores que motivaram os seus fundadores, temos de nos empenhar na construção de
uma nova maioria política no Parlamento Europeu que estabeleça novas
prioridades e procedimentos na regulação dos sistemas financeiro e económico.
A
crise das dívidas soberanas é consequência do endividamento excessivo (público,
particular e das famílias), promovido e incentivado por um sistema bancário
seduzido pelo excesso de liquidez e pelo lucro fácil, e de uma inadequada
supervisão (não esquecendo, no caso português, a fraude ocorrida no BPN).
Mas
a crise, em Portugal, resulta também da desindustrialização, do abandono da
agricultura e da pesca, da deslocalização de empresas. Devemos lembrar o
destino dos fundos comunitários disponibilizados no período do cavaquismo,
quando destruímos centenas de barcos de pesca, inúmeras explorações agrícolas e
industriais, causa principal da deficiência do nosso sistema produtivo e razão
do fraco crescimento da economia. Os países da periferia foram também vítimas
da exportação de capitais/investimentos para países onde não se respeitam
elementares direitos laborais, onde se ignoram todas as regras ambientais, onde
se obtêm elevadas taxas de lucro e onde se permite o retorno de capitais, pouco
transparentes, através de paraísos fiscais.
Foram
e são as políticas neoliberais que colocam os mercados e o lucro no centro das
decisões, que valorizam os credores em prejuízo das pessoas e dos seus valores,
que nos conduziram à situação em que vivemos. Julgar estas políticas nas
eleições europeias, através dum voto consciente e responsável é uma obrigação. Escolher
é o nosso direito.
Acreditar
na alternativa não é uma profissão de fé, é um trabalho que juntos temos de
construir e de levar a bom porto. Portugal e os portugueses merecem.
(*) Moura e Sá, engenheiro
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