Ainda
que se trate de um país pequeno como o nosso, ninguém de bom senso acredita que
uma economia cresça de forma sustentada, baseada apenas numa só refinaria de
petróleo. O que sucedeu recentemente é prova disso mesmo, pois bastou que uma parte
da refinaria de Sines parasse durante poucas semanas para manutenção para que o
PIB caísse 0,7%.
Há
males que vêm por bem e este acontecimento tem a vantagem de mostrar que a
nossa economia está, como se costuma dizer, presa por arames. Uma qualquer
aragem deita tudo a perder.
Um
momento de campanha eleitoral não justifica o foguetório atirado pelo Governo,
convertendo a mais pura ficção em realidade. Mais uma vez os portugueses se
encontram perante um monumental embuste criado pela maioria de direita. A austeridade
é para continuar e, tudo o indica, ainda com mais força depois destas eleições
para o Parlamento Europeu. No texto que esta semana assina no Expresso
Economia, Nicolau Santos aponta, em poucas palavras, os sinais do logro que o
Governo eatá a criar. Nada do que dizem está conforme à realidade dos factos.
No
momento em que o Governo e os banqueiros que forçaram a vinda da troika para Portugal se preparam para
celebrar a sua partida como se fosse um novo 1º de Dezembro (na versão
histórico-comparativa do dr. Paulo Portas), abrindo as garrafas de champanhe,
eis que a realidade económica e social, que tinha sido escondida debaixo do
tapete, entra a cavalo pela porta.
Com
efeito, nada pior que embaciar o brilho das comemorações do que a divulgação pelo
INE da sua estimativa rápida para o crescimento do PIB no primeiro trimestre do
ano, onde se aponta para um recuo significativo de 0,7% relativamente ao último
trimestre do ano anterior. Ora a economia portuguesa estava a crescer (taxa de variação
em cadeia) desde o segundo trimestre de 2013 (1,1% e depois 0,3% e 0,5% nos
dois trimestres seguintes), pelo que esta quebra é preocupante por várias
razões.
Em
primeiro lugar porque assenta num abrandamento das exportações de bens e
serviços (em particular das vendas de combustíveis refinados da Galp que
estavam a ser responsáveis em quase 50% pelo aumento das vendas ao exterior),
ao mesmo tempo que aceleravam as importações (nomeadamente de veículos automóveis).
Em segundo porque este abrandamento da procura externa dirigida à economia
portuguesa é mais ou menos generalizado no velho Continente. E, em terceiro,
porque estes dados mostram a fragilidade do nosso modelo económico e a inexistência
de uma transformação do perfil produtivo da economia durante os últimos três anos.
Aliás, talvez fosse bom
olharmos para o dia a dia dos cidadãos para procurarmos as contrapartidas desta
vitória, nomeadamente nos sinais da devastação que três anos de ajustamento
produziram na saúde económica, mental e social do país. Com efeito, agora, de
cada vez que vai a uma farmácia, é usual dizerem-lhe que tem de voltar daí a
dois ou três dias porque não existe o medicamento que procura. Se precisa de
comprar uma cama, o período de espera varia de dois a três meses. A peça de que
o seu carro necessita tem de vir de Espanha, no melhor dos casos, ou de França,
ou Alemanha, no pior – e demora duas a três semanas. Com as lentes para óculos
acontece a mesma lentidão exasperante na resposta. E vá multiplicando os
exemplos. É o regresso à segunda metade dos anos 70 e primeira dos anos 80,
onde esta era a (a)normalidade quotidiana. Junte-lhe 10 portugueses que por dia
deixam de pagar a renda de casa; mais de 20 mil crianças que tiveram
necessidade de acompanhamento psiquiátrico em 2013; o desemprego acima dos 15%
e o desemprego jovem acima dos 34%; o corte para metade dos beneficiários do
Rendimento Social de Inserção; a diminuição significativa de todo os apoios sociais
do Estado; o aumento brutal de impostos e a quebra dos salários e do rendimento
das famílias – e o champanhe que alguns beberam no dia 17 terá certamente um
travo bastante amargo. Até porque a austeridade vai continuar em 2015.
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