Na
realidade, nenhum cidadão português estaria à espera de um discurso muito
diferente daquele que tem tido lugar por parte dos partidos do arco da troika. Tendo
em atenção que estamos perante umas eleições para o Parlamento Europeu, o
normal seria que surgissem propostas neste âmbito embora também se encarasse
com naturalidade referências à política interna. O que acontece é que PS, PSD e
CDS fugiram às questões europeias como o diabo da cruz apostando apenas num
constrangedor deserto de ideias. O seu discurso, sem qualquer conteúdo, afasta
os espectadores das reportagens televisivas da campanha porque lá não encontram
qualquer esclarecimento. Um exemplo significativo deste facto teve a ver com o
desafio de Marisa Matias ao PS, no sentido deste partido clarificar a sua posição
sobre o Tratado Orçamental tão gravoso para o país e que assinaram, tal como
PSD e CDS. Até este momento, os “socialistas” ainda não responderam…
Tendo
como pano de fundo a campanha eleitoral em curso, o texto que hoje assina no
Público, o prof. Santana Castilho conclui, de forma muito esclarecedora:
Sendo
nós, portugueses, um dos povos que mais sofreram com as políticas erradas da
União Europeia, digam os candidatos o que disserem, mais ainda face aos esquecimentos
que os assolaram, o escrutínio de domingo será sobre um Governo que foi além da
troika.
Mesmo com um protocandidato a recomendar “desabafem nas redes sociais, mas não
deixem de votar neles” e outro a proclamar “dever cumprido”, muitos dos
que não considerarem inútil o escrutínio de domingo não vão esquecer o que o
duo europeu (Comissão Europeia mais Banco Central Europeu) da troika fez
ao país e que ficou fora da indigência discursiva dos candidatos dos partidos
do Governo:
1.
Compulsando os orçamentos do Estado de 2011 a 2014, verifica-se que o volume
dos juros pagos aos credores (28.528 milhões de euros) é quase idêntico ao
volume obtido com o corte da despesa pública mais o aumento de impostos (28.247
milhões de euros). Dito de outro modo, a degradação do Serviço Nacional de
Saúde e da escola pública, o fecho de maternidades, centros de saúde e
repartições de finanças, entre tantos outros serviços, a redução de salários e
pensões e o aumento brutal de impostos, com nuances
confiscatórias
em muitos casos, serviu para pagar só juros aos nossos “benfeitores”, sem que
um cêntimo tenha sido abatido ao montante da dívida.
2.
Apesar do discurso impante do Governo e da troika (o que se compreende,
porque o falhanço de um é síncrono com o falhanço da outra), em três anos de
aplicação de uma receita que não conseguiu cumprir um só dos seus múltiplos
objectivos, a dívida da administração pública cresceu à razão média de 23.236
milhões de euros anuais, ou seja, aumentou 69.708 milhões de euros.
3. Três anos de ajustamento
expulsaram do nosso país 250.000 cidadãos e elevaram o desemprego jovem para o
número quase redondo dos 50%. Ao mesmo tempo que alguns banqueiros transferiram
créditos tóxicos para a nossa dívida pública, a coberto dos golpes que, sendo
públicos, persistem impunes, 2 milhões de concidadãos estão condenados sem
apelo nem recurso ao limiar da pobreza e a classe média está quase extinta.
Salvam-se, reconheçamos, os mais ricos: cresceu o fosso que separa os 10% mais
ricos dos 10% mais pobres. E não é só porque diminuiu a “riqueza” dos últimos.
É sobretudo porque aumentou, e muito, a dos primeiros.
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