quarta-feira, 21 de maio de 2014

TROIKANOS FOGEM AO ESCLARECIMENTO


Na realidade, nenhum cidadão português estaria à espera de um discurso muito diferente daquele que tem tido lugar por parte dos partidos do arco da troika. Tendo em atenção que estamos perante umas eleições para o Parlamento Europeu, o normal seria que surgissem propostas neste âmbito embora também se encarasse com naturalidade referências à política interna. O que acontece é que PS, PSD e CDS fugiram às questões europeias como o diabo da cruz apostando apenas num constrangedor deserto de ideias. O seu discurso, sem qualquer conteúdo, afasta os espectadores das reportagens televisivas da campanha porque lá não encontram qualquer esclarecimento. Um exemplo significativo deste facto teve a ver com o desafio de Marisa Matias ao PS, no sentido deste partido clarificar a sua posição sobre o Tratado Orçamental tão gravoso para o país e que assinaram, tal como PSD e CDS. Até este momento, os “socialistas” ainda não responderam…
Tendo como pano de fundo a campanha eleitoral em curso, o texto que hoje assina no Público, o prof. Santana Castilho conclui, de forma muito esclarecedora:
Sendo nós, portugueses, um dos povos que mais sofreram com as políticas erradas da União Europeia, digam os candidatos o que disserem, mais ainda face aos esquecimentos que os assolaram, o escrutínio de domingo será sobre um Governo que foi além da troika. Mesmo com um protocandidato a recomendar “desabafem nas redes sociais, mas não deixem de votar neles” e outro a proclamar “dever cumprido”, muitos dos que não considerarem inútil o escrutínio de domingo não vão esquecer o que o duo europeu (Comissão Europeia mais Banco Central Europeu) da troika fez ao país e que ficou fora da indigência discursiva dos candidatos dos partidos do Governo:
1. Compulsando os orçamentos do Estado de 2011 a 2014, verifica-se que o volume dos juros pagos aos credores (28.528 milhões de euros) é quase idêntico ao volume obtido com o corte da despesa pública mais o aumento de impostos (28.247 milhões de euros). Dito de outro modo, a degradação do Serviço Nacional de Saúde e da escola pública, o fecho de maternidades, centros de saúde e repartições de finanças, entre tantos outros serviços, a redução de salários e pensões e o aumento brutal de impostos, com nuances confiscatórias em muitos casos, serviu para pagar só juros aos nossos “benfeitores”, sem que um cêntimo tenha sido abatido ao montante da dívida.
2. Apesar do discurso impante do Governo e da troika (o que se compreende, porque o falhanço de um é síncrono com o falhanço da outra), em três anos de aplicação de uma receita que não conseguiu cumprir um só dos seus múltiplos objectivos, a dívida da administração pública cresceu à razão média de 23.236 milhões de euros anuais, ou seja, aumentou 69.708 milhões de euros.
3. Três anos de ajustamento expulsaram do nosso país 250.000 cidadãos e elevaram o desemprego jovem para o número quase redondo dos 50%. Ao mesmo tempo que alguns banqueiros transferiram créditos tóxicos para a nossa dívida pública, a coberto dos golpes que, sendo públicos, persistem impunes, 2 milhões de concidadãos estão condenados sem apelo nem recurso ao limiar da pobreza e a classe média está quase extinta. Salvam-se, reconheçamos, os mais ricos: cresceu o fosso que separa os 10% mais ricos dos 10% mais pobres. E não é só porque diminuiu a “riqueza” dos últimos. É sobretudo porque aumentou, e muito, a dos primeiros.

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