Esta ignomínia já chegou à capital
portuguesa e é preciso denunciar onde se encontra. É exactamente nas traseiras
do hotel Sofitel, na Praça da Alegria que se encontram instaladas estas infames
estruturas contra os sem-abrigo.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
VIVER ACIMA DAS SUAS POSSIBILIDADES…
A
maioria das prestações sociais têm vindo a cair desde que em Junho de 2012
foram reformuladas as regras de atribuição destes apoios.
Assim:
-
Mais de 45 mil pessoas perderam direito ao Rendimento Social de Inserção em
Maio face ao mesmo mês de 2013.
-
Mais de 38 mil idosos perderam o complemento solidário no espaço de um ano.
-
Também no espaço de um ano (entre Maio de 2013 e Maio deste ano), quase 38 mil
pessoas perderam o abono de família.
-
Em Maio deste ano, 412 mil desempregados encontravam-se sem subsídio de
desemprego.
Como
se percebe por estes dados, ainda há muita gente a querer viver acima das suas
possibilidades…
Por via das eleições legislativas do
próximo ano, talvez amaine a perseguição a estas pessoas mas não tenhamos
quaisquer dúvidas de que a razia é para continuar até se chegar a valores
residuais para turista ver…
domingo, 29 de junho de 2014
NÃO TOQUEM NO MEU PETRÓLEO
"Não me importo que sunitas e xiitas se estejam a matar uns aos outros mas... nâo mexam no meu petróleo."
CAPITAL FINANCEIRO É O REI
O
Ancien Régime é a designação original em língua francesa do sistema político e
social dominado pela aristocracia, que vigorou em França entre os séculos XVI e
XVIII. Trata-se principalmente de um regime centralizado e absolutista, em que
o poder era concentrado nas mãos do rei. Segundo a ideologia dominante o poder
emana directamente de Deus para o rei, personificando neste o Estado através da
conhecida concepção de l’état c’est moi (“O Estado sou eu”).
Passados
séculos, voltamos a viver uma situação idêntica mas em que o deus de onde emana
o poder, tem umas vestes diferentes e a prosaica designação de “dinheiro”. Nos
tempos actuais o soberano que se apoderou do “Estado e com ele se confunde” é o
capital financeiro como muito bem afirma Mário Vieira de Carvalho no excelente
artigo de opinião que assina hoje no Público.
A
avaliar pelas últimas eleições, os partidos do governo têm hoje a legitimidade
social e política que lhes é conferida por apenas cerca de dez por cento do
universo total dos eleitores recenseados. É muito pouco para quem já passou da
voz grossa à grosseria. Mas é o suficiente para quem, cada vez mais, demonstra
ter uma noção arcaica do Estado e do exercício do poder político.
Dir-se-ia
que as declarações delirantes de uma auto-intitulada “professora de direito”
sobre a nomeação de juízes do tribunal constitucional, ou de um ex-empresário
sobre a necessidade de calibrar o escrutínio dos mesmos, ou ainda a de um
eminente economista sobre a sua deles mentalidade de funcionários públicos
radicam na conceção de l’état c’est moi, segundo a qual o chefe do
executivo personificaria ou deveria personificar todos os poderes do Estado: o
legislativo, o executivo e o judicial. Não responderia apenas por um órgão de
soberania, antes seria “o” órgão de soberania. Não se encontraria vinculado a
uma Constituição, antes a ditaria. Não seria um mero chefe do executivo. Seria
o Soberano.
Se,
porém, mudarmos de ponto de vista – para uma observação de segunda ordem –,
então percebemos que, neste Portugal do século XXI, por via de uma das mais
extraordinárias piruetas da história, o soberano não passa, afinal, de um
lacaio. Arroga-se uma autoridade absoluta, mas enverga a libré. “Decreta”,
“proclama”, “declara” e “calibra”. Mas sempre de libré. Preside. De libré.
Discursa. De libré. Participa nos órgãos da União Europeia. De libré.
Representa o país. De libré.
Dá-se
ares de soberano, mas a libré assenta-lhe na perfeição. Cai-lhe bem nos gestos,
no registo grave da voz, no aprumo lento do passo, que fazem da aparente
arrogância a mais refinada escola de subserviência. Cai-lhe bem na elegância
com que se verga, arremedando poder de decisão. Na diligência com que sabe
estender a passadeira, parecendo caminhar sobre ela. Na persuasão a falar e na
determinação a agir – em nome de quem verdadeiramente manda. É a libré de chefe
de governo: o último grito do pronto a vestir, na União Europeia.
O
modelo até parece ter sido talhado em Lisboa, pois não há chefe de governo em
que ela assente tão bem. Outros a usam, é certo, mas fica-lhes curta nas
mangas. Talvez porque ainda não compreenderam o pleno sentido da “revolução”
neoconservadora em curso: a restauração duma ordem feudal, o retorno ao Ancien Régime
– a um regime anterior às noções de “soberania popular”, “constituição”,
“separação de poderes”, “democracia” e “direitos humanos”.
Não
se trata, evidentemente, de restaurar monarquias, embora as existentes não
estorvem. Nem de alterar a estrutura formal da governação. Nem, portanto, de
privar os povos de eleições, parlamentos, governos e constituições. Trata-se,
sim, apenas, de subordinar tudo isso à vontade do soberano. Eis o que se
pretende com as tão badaladas “reformas estruturais” e “austeridade”.
E
quem é ele – esse soberano a quem chefes de Estado e de governo devem vergar-se
como lacaios? Esse novo senhor absoluto que se apodera do Estado e com ele se
confunde? Que legisla, governa, interpreta a seu bel-prazer a constituição e as
leis, acaba com a independência dos tribunais, põe e dispõe de todo e qualquer
direito, suspende o próprio “Estado de Direito”, e degrada os cidadãos à
condição de meros súbditos?
É, obviamente, o capital
financeiro. É ele que hoje encarna, mudando apenas de roupagem, o modo de
governação do antigo regime: l’état c’est moi.
sábado, 28 de junho de 2014
FUTEBOL, DINHEIRO SUJO E OUTRAS SUJEIRAS
Em
declarações à Rádio Renascença, a procuradora Maria José Morgado chamou a atenção
para a existência de muito “dinheiro sujo”, tanto na Copa 2014 como no futebol
em geral.
Na
realidade, muitas organizações criminosas e empresas sem escrúpulos servem-se
do futebol como capa para actividades claramente à margem da lei e dos direitos
humanos.
Muito
se tem vindo a falar sobre a alegada corrupção na atribuição ao Qatar da
realização do Mundial 2022, mas outras situações muito criticáveis têm vindo a
público embora a sua divulgação seja mais restrita do que a gravidade exige. É,
por isso, muito importante que sejam fortemente denunciadas porque são aquelas
que mais facilmente passam ao lado dos principais meios de comunicação social.
Uma
das últimas edições da Sábado citava a revista alemã Spiegel que contava a
história de Ganesh um jovem nepalês de 26 anos que “foi ao inferno mas
conseguiu regressar” ao seu país. “Trabalhou durante 10 horas, seis dias por
semana para receber 300 euros por mês na construção (tal como outros 1,4
milhões de imigrantes) do novo Qatar, para o Mundial 2022. Dividiu com nove homens
uma casa de 16 m2 em folha de alumínio. Sobreviveu, mas 964 operários do Nepal,
Índia e Bangladesh morreram em 2012 e 2013 – muitos por causa do calor do Verão
ou por acidentes de trabalho.”
Por simples curiosidade, feitas as contas,
verifica-se que Ganesh ganhava pouco mais de 1 euro por hora, estava alojado em
condições deploráveis e, pelos vistos, com uma muito deficiente protecção
contra acidentes de trabalho. O futebol também nos deve confrontar com estas
problemáticas, para além das bolas que entram ou não nas balizas…
CITAÇÕES
Na verdade, o jihadismo do Exército Islâmico do
Iraque e do Levante é apenas o resultado mais recente do longo conúbio entre a
gestão imperial do Médio Oriente pelos sucessivos inquilinos da Casa Branca e
os sheiks das petroditaduras do Golfo
(…)
Entretanto ouviremos os donos do mundo dizer do
jihadismo que ele é o mal absoluto. Quanto pior disserem maiores serão as suas
cumplicidades.
O PS está cheio de tralha por todos os lados, e
isso aplica-se ao passado e ao presente.
A
economia real está pouco mais que estagnada, quer a nível nacional quer
europeu, quer ainda em grande parte de outros países.
(…)
Os
portugueses estão hoje bem mais pobres e desprotegidos e com uma economia muito
menos capaz de responder do que há quatro anos.
(…)
Não
é o povo que ganha quando os títulos ou as ações são transacionados por valores
muito superiores ao seu valor inicial e/ou real.
(…)
A
ganância e a loucura política que hoje nos dominam por diversas vezes foram
trágicas para milhões de pessoas.
Costa e muita gente do PS que lhe
deu [a Seguro] uma votação albanesa (como Sócrates teve, ou no PSD, Santana
Lopes), assente em todos os equívocos, tem sérias responsabilidades.
Pacheco Pereira, Público (sem link)
Se Seguro acha que esta crise
resulta de Sócrates, isso tem três consequências lógicas: que a crise é
essencialmente nacional, e não europeia; que ela nasceu do endividamento
público, e não da desregulação do sistema financeiro e, por cá, da enorme
dívida externa privada; e que ela resultou de um excessivo peso do Estado. Se
Seguro acha isto tudo, não terá, em coerência, outro remédio senão apresentar
as mesmas propostas da direita para sair da crise: uma recuperação centrada na
redução da despesa pública, que nunca poderá poupar o Estado social, e uma
aceitação do statu quo europeu.
Daniel Oliveira, Expresso (sem link)
Há, hoje, um desejo partilhado por muitos
portugueses: ter um quotidiano previsível.
Pedro Adão e Silva, Expresso (sem link)
O Espírito Santo era um império,
um Estado que foi saqueado por dentro e por fora.
Pedro Santos Guerreiro, Expresso (sem link)
Pode alguém continuar presidente
de um banco mais de um ano depois de se ter ‘esquecido’ de inscrever 8,5
milhões de euros na sua declaração de IRS? Em Portugal, pode.
Fernando Madrinha, Expresso (sem link)
Seria da maior importância que o
tecido empresarial e instituições privadas e públicas trabalhassem em conjunto
para que fosse possível reter neste retângulo grande parte do talento que
existe nesta geração de mentes brilhantes.
Nicolau
Santos, Expresso Economia (sem
link)
sexta-feira, 27 de junho de 2014
MOÇÕES À ASSEMBLEIA FREGUESIA PORTIMÃO
Atentos
à realidade que se vive em Portimão e Praia da Rocha, os eleitos pelo Bloco de
Esquerda para a Assembleia de Freguesia de Portimão apresentaram ontem (26/6/2014)
as seguintes (duas) moções no sentido de serem resolvidas com urgência situações
de grande necessidade em dois locais da freguesia.
Eis,
de forma sucinta, o conteúdo das duas moções que foram aprovadas por unanimidade.
Assembleia de Freguesia de Portimão
Moção
Insegurança na zona dos Largos Gil Eanes
e Sarrea Prado
Existe
um marcado sentimento de insegurança, nomeadamente durante a noite, na zona do
Largo Gil Eanes, do Largo Sarrea Prado (vulgo “Largo da Estação”) e da Rua de
S. José, que se tem agravado ultimamente, até em consequência do agravamento da
crise económica e social que atravessamos.
Tal
insegurança afeta tanto os moradores da zona, como os estudantes do Pólo da Universidade
do Algarve, aí instalado.
A
esse problema acresce também a degradação física e o abandono da zona, nomeadamente
do Largo Gil Eanes, o que acaba também por contribuir para os problemas anteriormente
referidos.
Assim,
a Assembleia de Freguesia de Portimão, reunida em sessão ordinária no dia 26 de
Junho de 2014, apela às autoridades responsáveis para que:
a)
Tomem medidas para combater a insegurança na zona.
b)
Procurem soluções que minorem os problemas sociais que contribuem para essa insegurança.
c)
Procedam à reabilitação das infraestruturas da zona, nomeadamente dos jardins e
estruturas de apoio, incluindo também uma melhor iluminação pública.
Os membros eleitos pelo Bloco de Esquerda
Observação: No caso da presente Moção ser aprovada,
deverá se enviada uma cópia
-
Presidente da Câmara de Portimão
-
Presidente da Assembleia Municipal de Portimão
-
Segurança Social de Portimão
-
PSP de Portimão
Moção
Degradação do Posto de Turismo, do Posto
da Polícia e das casas de banho públicas da Praia da Rocha
Nos
últimos tempos, tem-se assistido à degradação fisica do Posto de Turismo e
também do posto policial instalados na Praia da Rocha, na Avenida Tomás
Cabreira. Também a manutenção, nomeadamente em termos de higiene, das casas de
banho públicas situadas na mesma zona tem vindo a ser negligenciada.
Assim,
a Assembleia de Freguesia de Portimão, reunida em sessão ordinária no dia 26 de
Junho de 2014, vem chamar a devida atenção das entidades competentes, em
particular, a Câmara Municipal e a PSP, para estes problemas.
Portimão, 26 de junho de 2014
Os membros eleitos pelo Bloco de Esquerda
Miguel Madeira
José Porfírio
Célia Alfarroba da Silva
Observação: No caso da presente Moção ser aprovada,
deverá se enviada uma cópia para:
-
Presidente da Câmara de Portimão
-
Presidente da Assembleia Municipal de Portimão
-
PSP de Portimão
Nota: Em ambas as moções, constava o envio de
uma cópia para a comunicação social, proposta que foi retirada por exigência de
outra(s) bancada(s) em troca do voto favorável. Para que conste.
Apesar do controlo a que está sujeita, a
comunicação social ainda mete medo a muita gente…
A ESQUERDA IRÁ MOVER-SE?
“Finalmente move-se” é o título do interessante texto que o
Prof. Boaventura Sousa Santos (BSS) assina na “Visão” desta semana.
Para
o leitor mais atento às movimentações em curso no PS, o título do texto indicia
uma referência a algo que talvez esteja a alterar-se no imobilismo que tem
caracterizado a esquerda, desde há muito tempo, e a que urge pôr cobro. E não
se engana.
É
intolerável que o país vote, de forma sistemática, “maioritariamente à esquerda
para depois se ver governado pela direita”.
Como
também se pode verificar, BSS faz uma significativa referência ao Bloco de
Esquerda, classificando Ana Drago e Marisa Matias como “as duas líderes
políticas mais brilhantes da sua geração”, fazendo votos para que elas se unam.
Tem sido demasiado fácil ser político
de esquerda no nosso país, mas os tempos estão a mudar. A esquerda portuguesa
dá sinais de que finalmente tem de dar contas a um país sofrido que
incessantemente vota maioritariamente à esquerda para depois se ver governado
pela direita. Será difícil depois de anos de imobilismo e de falta de treino
político, tão habituados ficaram os nossos políticos, tanto à esquerda como à
direita, a ser governados por Bruxelas. Mas as dificuldades derivam também da
própria natureza dos partidos. Há cem anos um sociólogo muito conservador mas
muito lúcido, Robert Michels, definiu os partidos como organizações que se
destinam a defender os políticos das pressões do seu eleitorado de modo a que
possam servir-se da política para realizar os seus interesses particulares.
Chamou a isso a "lei de ferro" dos partidos, a tendência inelutável a
transformarem-se em estruturas oligárquicas dominadas por aparelhos que apenas
cuidam da sua reprodução.
Mais
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quinta-feira, 26 de junho de 2014
ENTREGAR A DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA A EMPRESAS PRIVADAS DÁ NISTO…
Em Detroit, nos Estados
Unidos da América, a DetroitWater prepara-se para desligar a água a 40% dos
seus clientes.
Vão ser 120 mil casas a ficar
sem água, calcula-se que sejam entre 200 a 300 mil pessoas a ficar sem acesso a
um direito humano básico, a água. A água é um
direito humano porque sem ela qualquer pessoa morre entre 5 e 14 dias. Mata-se
gente em nome do lucro.
HABILIDADES DAS TRANSNACIONAIS
As
empresas multinacionais ou transnacionais (na sua versão mais moderna) constituem
testas de ferro do sistema capitalista na sua fase imperial. Toda a gente já
ouviu falar na Coca-cola, na McDonald’s na Renaut, na Philips, na Google, e em
muitos milhares de outras que seria fastidioso designar aqui. A característica
principal das transnacionais é possuírem a sede num país e actuarem em
distintos territórios espalhados pelo mundo em busca, nomeadamente, de energia,
matérias-primas e mão-de-obra baratas. Desde sempre, é muito comum a estas
empresas produzirem cada componente de um produto em países diferente, com o
objectivo de reduzir os custos de produção. Actualmente estima-se que existam
em funcionamento cerca de 40 mil transnacionais, a maior parte delas sedeadas
em países desenvolvidos. A reputação destas empresas é baixa pois, onde se
instalam, a sua influência transcende a economia, interferindo em governos e no
relacionamento entre países. As suas relações com o mundo do trabalho são muitas
vezes feitas à margem da lei ou, no mínimo, contornando-a.
O
texto que apresentamos a seguir (*), ainda que curto, contém exemplos dessas “habilidades”
praticadas pelas transnacionais.
Na
sequência da luta dos trabalhadores da Soporcel foram relembradas uma série de
práticas de contratação de trabalhadores por multinacionais que raramente são
discutidas publicamente.
Tarefas
realizadas anteriormente por efetivos das multinacionais são hoje em dia
realizadas por empresas subcontratadas que pagam salários mais baixos, oferecem
menor proteção social e geram uma instabilidade laboral que pode chegar ao
extremo do contrato diário. Por vezes são os próprios ex-trabalhadores da
multinacional que são subcontratados realizando extamente o mesmo trabalho que
realizavam antes, mas trabalhando mais horas e ganhando consideravelmente menos
que anteriormente.
Outra
habilidade é a criação de “novas empresas” que fazem parte do grupo económico
da empresa mãe cujo objetivo é colocar trabalhadores a realizar o mesmo
trabalho que era realizado pelos efetivos da empresa, mas dado que esta é
teoricamente “outra empresa”, o regime de contratação é diferente e, obviamente
os salários e as condições de trabalho são piores.
As
consequências destas práticas é que a riqueza é transferida dos trabalhadores
para os acionistas e do trabalho para o capital. O salário dos trabalhadores
diminui ou cresce abaixo da inflação, enquanto os salários e prémios de alguns
gestores e acionistas subiram 10, 20 ou 30% nos últimos anos.
(*) Rui Curado da Silva, Investigador, Diário
as beiras
quarta-feira, 25 de junho de 2014
FUTUROLOGIA: PORTUGAL NOS FINAIS DOS ANOS (20)20
Num
interessante exercício de futurologia, um consultor de comunicação (*) antevê,
no Diário de Coimbra de hoje, o ambiente social em Portugal em finais dos anos
20 do século XXI…
O
meu filho e os amigos dele vivem todos no estrangeiro. Ontem quando falámos no
ADDAPPT conversou comigo em Inglês, já mal fala o português. Fez em Maio 40
anos e há 22 que vive fora. Eu estou velho e não lhe quero ocupar o tempo, mas
tenho saudades e ontem liguei-me. Falámos quase 5 minutos. Continua solteiro e não
quer ter filhos, diz que lá para os 50. Já não chego a avô!
Por
muitas razões ele e os amigos acabaram todos por emigrar. A principal foi a
diferença de oportunidades que havia entre Portugal e outros países.
O
Diogo trabalha nas Nano Energias em Guangzhu na China, uma das novas megacidades
com mais de 100 milhões de habitantes; a Carolina, Artista Plástica, foi para
Nova Yorque; já só lá é que há exposições! O Pedro está em Bombaim, a Patrícia
em Pretória, a Cacá em Kuala Lumpur e o Chico em São Paulo. Já ninguém vem a
casa no Natal. Há uma “app” no smartphone chamada “Konsoada”. Junta a família à
volta de uma mesa e até têm cheiro! Mas não é a mesma coisa.
Nestes
anos muito mudou em Portugal quando comparado com o que acontecia em 2014,
quando a Troika veio daquela vez. Os bebés quase deixaram de nascer, de cada
mil portugueses nascem apenas 5 por ano. Sempre que nascem gémeos há notícia no
Telejornal. Portugueses de gema somos só sete milhões e daqui a vinte anos
dizem que não passamos de cinco. Só este ano fecharam mais de mil escolas. Em Portalegre
já não há nenhuma. Como a esperança de vida é quase 100 anos as reformas estão
congeladas “temporariamente” (desde 2025).
Em
Lisboa, nas Avenidas Novas (agora mais velhas que outra coisa), quase todos os
meus vizinhos são africanos. Quando o regime acabou em Angola em 2020 muitos
vieram para cá. Compraram os hospitais do Estado e pagam diretamente aos
médicos. Os doutores portugueses são os únicos que ao compreendem.
Em
Coimbra a coisa é a mesma. A Universidade também é privada, como as outras, o
que faz com que a cidade seja quase deserta. A idade média dos alunos é 52 anos
e três licenciaturas. As placas das salas de aula são grandes por causa da
miopia. Já só há um colégio João de Deus; o outro é um “Museu da Criança” mas
fechou o ano passado por falta de visitantes.
Este
ano o Europeu de Futebol é na Jugoslávia mas também não nos qualificámos. Nenhum
jogador da nossa seleção nasceu em Portugal e os jogos em casa são em Paris. Já
não vamos a uma final há 15 anos. A última foi no Brasil.
(*) José
Manuel Diogo
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