Catarina
Martins e João Semedo, coordenadores do Bloco de Esquerda, assinam hoje no Público
uma “carta às esquerdas” (*) cujo teor é o seguinte:
Os
resultados das eleições europeias de 25 de Maio convocam toda a cidadania à
esquerda para uma reflexão urgente sobre o futuro de Portugal e da Europa, o
aumento da abstenção e as próprias escolhas de quem se pronunciou.
Em
Portugal, um dos países europeus mais atingidos pelas políticas de austeridade,
a resposta social foi insuficiente para enfrentar a troika e,
agora, nas eleições, a polarização à esquerda do descontentamento popular ficou
aquém da gigantesca abstenção verificada. As forças da esquerda, em que o Bloco
de Esquerda só atinge a eleição de uma deputada, não somam um quinto dos votos.
Este tempo apela assim à reflexão sobre o futuro.
Na luta pelo poder entretanto aberta no PS, a
crispação entre os dois protagonistas não ilude o compromisso de ambos com as
políticas da UE
e a aceitação, resignada ou entusiasta, do Tratado Orçamental, que impõe mais cortes,
promove o desemprego, acentua o declínio nacional e a pressão para o êxodo dos
jovens. Quem aplicar esta estratégia governa contra o país e não tem uma
política de esquerda.
No
caminho para as eleições de 2015, uma esquerda que pretenda protagonizar um
caminho efetivamente alternativo para Portugal tem, na nossa opinião, duas
obrigações irrecusáveis perante o país: primeira, não dar qualquer apoio a
um governo, mesmo que dirigido pelo PS, que prossiga políticas de austeridade
como as impostas pelo Tratado Orçamental; e, segunda, construir um amplo campo
de recusa das imposições da União Europeia e de concretização de um programa de
transformação social fundado no primado dos direitos constitucionais e na
universalidade dos serviços públicos. Sobre essa base, é possível uma
oposição convergente e reforçada, capaz de se afirmar como alternativa e de
triunfar sobre a alternância estéril.
Ao
apreciar os resultados eleitorais na sua Mesa Nacional, o Bloco sublinhou a
necessidade de um diálogo aberto entre partidos e forças que lutam
contra a austeridade, que saiba juntar energias e envolver cidadãos
independentes, ativistas e movimentos sociais, indispensáveis ao esforço para a
construção de uma alternativa alargada.
Essa
convergência é possível, como ficou à vista nas mobilizações de rua dos
últimos três anos, na ação parlamentar comum dos partidos de esquerda, noutras
iniciativas várias como os fóruns e ações promovidos pelo movimento sindical.
Convergência, também, nas propostas de rejeição do memorando e do Tratado
Orçamental e pela reestruturação da dívida, desde o Congresso Democrático
das Alternativas até ao Manifesto dos 74.
Pela
nossa parte, estamos empenhados nesse percurso de pensamento e
articulação com vista a formas de convergência de oposição e de proposta em
torno de bases programáticas claras que, gerando mobilização e
entusiasmo, permitam ganhar força política, social e eleitoral. A dimensão dos
problemas que o país enfrenta exige uma grande convergência das esquerdas.
Julgamos que só esse caminho permite abrir um horizonte de esperança a quem não
desiste de Portugal.
(*)
Os
sublinhados são nossos
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