domingo, 1 de junho de 2014

CRESCIMENTO ECONÓMICO E AUSTERIDADE


Verdadeiramente não é crível que os próprios defensores das medidas de austeridade radicais postas em prática nos últimos três anos, que levaram à destruição do poder de compra da maioria da população, pudessem acreditar que a recuperação e o crescimento económico em Portugal fossem conseguidos apenas com base nas exportações. A ideia que fica é que a criação deste “mito”, muito apoiado pela imprensa económica dominada pelo pensamento único, teve por finalidade ganhar tempo enquanto os portugueses iam assimilando a eternização da austeridade. É dos manuais que a melhoria do poder de compra das populações é um factor decisivo para o crescimento económico de qualquer país. Em Portugal temos exemplo recente de um pequeno fogacho de reanimação económica na altura em que o TC “permitiu” a recuperação de algum poder de compra dos portugueses quando obrigou o Governo a repor cortes brutais que tinha implementado em salários e pensões.  
É a desmontagem daquele mito sobre o crescimento económico que o economista Eugénio Rosa efectua no seguinte texto publicado esta semana no “Diário as Beiras”.  
Os mitos da Direita sobre o crescimento económico e a “Troika” continuam em Portugal sob a designação de “tratado orçamental” e Governo PSD/CDS.
Um dos mitos construído pela direita, pela “troika” e pelo pensamento económico único dominante nos média é que era possível a recuperação e o crescimento económico em Portugal com base nas exportações, e destruindo o poder de compra da população. A realidade veio desmentir tal teoria.
Mesmo a recuperação anémica da economia que se verificou nos últimos dois trimestres só foi possível com reanimação, embora muito pequena, da procura interna que está a ser posta em causa pelo governo. Enquanto a economia assentava no aumento das exportações, ela não parou de se afundar.
Como já tínhamos advertido qualquer pequena reanimação da economia determinaria o disparar das importações, até porque milhares de empresas foram destruídas pela ação da “troika” e do governo PSD/CDS. Os últimos dados do INE, já referentes a 2014, confirmam isso.
Segundo o INE, no 1º Trim.2014, as exportações (11.734,3 milhões €) aumentaram apenas 1,7%, enquanto as importações (14.333 milhões €) cresceram 6%. E também segundo o INE, “O Produto Interno Bruto (PIB) registou, em termos homólogos, um aumento de 1,2% em volume no 1º trim.2014, após a variação de 1,5% observada no 4º trim.2013.
A procura externa líquida (exportações – importações) apresentou um contributo negativo expressivo para a variação homóloga do PIB no 1º trimestre, devido principalmente ao abrandamento das Exportações de Bens e Serviços, tendo as Importações de Bens e Serviços acelerado. A procura interna apresentou um contributo positivo mais significativo no 1º trimestre, refletindo sobretudo a evolução do Investimento”.
No entanto, verificou-se uma variação negativa no 1º Trim.2014 relativamente ao 4ª Trim. 2013 (-0,7%) o que significa, que se se verificar o mesmo no próximo trimestre, Portugal entrará novamente em recessão. É o que os economistas designam por recuperação/recessão em W com consequências nefastas para o país.
É neste contexto que o Tratado Orçamental da U.E. ao impor, para além do período da “troika”, a redução drástica do défice orçamental e da divida pública, num curto período de tempo, o que pressupõe a continuação da austeridade violenta, através da manutenção de enormes aumentos de impostos e de cortes significativos na despesa pública, constitui um obstáculo real a qualquer recuperação sustentada da economia e ao desenvolvimento do país como está já a acontecer, confirmado pelos indicadores negativos recentes divulgados pelo INE.
A manter-se a situação Portugal não tem qualquer futuro dentro da zona do euro.

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