Os
EUA poderão estar a preparar-se para regressar ao Iraque, no momento em que é
anunciado que vão enviar 300 conselheiros militares para “treinar, assistir e apoiar” as forças armadas do regime iraquiano na sua luta contra o Estado
Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). Inclusive, David Patraeus, antigo
comandante das tropas norte-americanas no Iraque, mostrou-se favorável a
ataques cirúrgicos contra o EIIL.
Antes
de mais convém perceber o que é o EIIL e a responsabilidade que os EUA tiveram
na sua formação, assim como com o apoio que concederam ao seu lançamento na
Síria.
O
texto seguinte (*), transcrito do Diário de Coimbra de ontem, faz alguma luz
sobre esta problemática que, a longo prazo poderá atingir a Europa.
Mais
por oportunismo do que por qualquer razão histórica e logo após o final da 1ª
Grande Guerra, foram assinados secretamente os acordos Sykes-Picot, em que os
governos, britânico e francês, acordaram na divisão e controlo das regiões do
Médio Oriente, que pertenciam ao império otomano, nomeadamente a grande Síria,
incluindo o Líbano, e o Iraque. Quase cem anos depois e não como em Abril de
2003, eis a chegada pouco triunfal de George Bush ao Iraque e ao Golfo Pérsico,
agora sob a forma de um porta-aviões com designação oficial, aguardando ordens
para retirar os cerca de vinte mil americanos que ainda lá se encontram, entre
pessoal diplomático, técnicos e comerciais da indústria petrolífera e agentes
de empresas de segurança (mercenários).
Convém
recordar e nunca esquecer, as palavras proferidas pelo seu sucessor Barack
Obama, no momento em que anuncia a saída do Iraque, precisamente no dia 14 de
Dezembro de 2011: “ os Estados Unidos deixam um país soberano, estável e autosuficiente”.
Eram, também, as “ideias democráticas” de Bush, quando inventou as armas de
destruição de Saddam Hussein, no qual foi apoiado por Portugal e mais sete
países, na denominada “declaração dos Oito”, de que ficaram as imagens de Bush,
Blair, Aznar e Durão Barroso na base das Lages, nos Açores, e a destruição do
país, então o mais avançado da região.
Hoje
e perante tanta irresponsabilidade e criminalidade, sobretudo americana, eis
que as preocupações se concentram no Estado Islâmico do Iraque e do Levante
(EIIL, xiita), cuja matriz surge logo no início da ocupação americana, quando é
o próprio responsável máximo Paul Bremer, homem de confiança pessoal de Bush, a
desmantelar o exército, colocando na rua e no desemprego centenas de milhares
de soldados e oficiais, na sua maioria sunitas.
Oito anos mais tarde, é o actual
primeiro-ministro xiita Al-Maliki – uma das figuras mais corruptas da história
iraquiana – a ordenar a prisão, a tortura e o assassinato de milhares de jovens
sunitas, momento que assinala o renascimento do EIIL no Iraque, depois da sua
“magnífica” atuação na Síria, após centenas dos seus militantes terem seguido
uma formação militar no Catar, com o beneplácito americano, antes do
afrontamento entre este pequeno reino e a Arábia Saudita e que conduziu à queda
da “irmandade muçulmana” – considerado pelos Saud como uma organização
terrorista – então no poder no Egito e na Tunísia. Ainda há pouco, Arábia
Saudita, Estados Unidos e Israel apadrinharam o lançamento do EIIL na Síria,
enquanto hoje, um “país maldito” como o Irão já poderá servir como interlocutor.
Não
me podendo alongar nos detalhes de tudo isto, do massacre de inocentes à
violação de mulheres e crianças, da rutura social e económica de nações
inteiras, do descalabro civilizacional que tudo isto representa, quero aqui
deixar, aos leitores deste jornal que tudo isto e o que se seguirá, estava já
planificado.
Para
tanto bastaria consultar os dados de que disponho (CIA, Maps and
Publications/EIA, US Energy Information Administration/CPDC, Comité
Profissional do Petróleo) para simplesmente constatarmos que da Líbia ao Iraque
– a Arábia Saudita ficará para o fim das hostilidades – se vão registar
alterações geopolíticas significativas.
Como
exemplo, a Líbia seria sujeita a uma decomposição com a Cirenaica a leste,
Fazzan a sul e a Tripolitânia a oeste, enquanto o Iraque teria um Curdistão
alargado à Síria, o mesmo acontecendo com a faixa central do Iraque, que
passaria a incluir a zona sunita síria, ficando os xiitas com a zona sul, da
capital até Bassorá. Se a este cenário devastador acrescentarmos o que se passa
no Sahel, surge de uma evidência extrema de que a Europa se encontra numa das
extremidades do arco jihadista, uma verdadeira bomba atómica que os líderes
europeus vão soprando para cima da Ucrânia/Rússia.
“Bonito
serviço” foi a expressão de abertura de um jornal desportivo sobre o resultado
do primeiro desafio da equipa nacional de futebol contra a Alemanha, no mundial
do Brasil. Não encontro melhor título para o que acabo de escrever.
(*) João
Marques, diplomado em Ciências da Comunicação
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