…Mas o futebol não é apenas aquilo que, em larga escala se vê nas televisões e se lê nos jornais da especialidade. É pena que o acto de fazer entrar a bola numa baliza faça esquecer muito do que de negativo – e é mesmo muito – existe no chamado desporto-rei. A movimentação de cada vez maiores somas de dinheiro torna o futebol um negócio atractivo para gente sem escrúpulos. Entre nós, um pequeno país, sabemos como é. Imagine-se à escala mundial.
Damos
razão a muitas das afirmações de Clara Ferreira Alves na crónica que assina na última
Revista do Expresso, a propósito do propósito do início do Mundial 2014 no
Brasil. Por isso as transcrevemos para aqui.
Não
compreendo que, por ser o maior desporto de massas, o futebol escape a toda a
censura e todo o escrutínio e que as suas instituições sejam tratadas com um
privilégio que nem as religiões monoteístas têm.
(…)
O
futebol confere carta-branca para o mau comportamento em campo e fora dele e o
mau comportamento é extensivo às claques, grupos tribais com características
selvagens que não hesitam em recorrer ao crime a à agressão.
(…)
A
corrupção no futebol é totalmente consentida e tolerada.
(…)
O
sr. Blatter [presidente da FIFA] é um chefe que reina sobre a corrupção e a
divisão e um chefe que ninguém consegue apear porque compre tudo e todos.
(…)
Esta
semana [passada], soube-se por uma investigação jornalística que houve
corrupção de milhares de milhões na escolha do Qatar como sede da Copa,
pediram-se inquéritos, apresentaram-se provas, escreveram-se os nomes dos
envolvidos e os números das contas bancárias. Sem consequência.
(…)
Num
país [Brasil] onde não se gasta em infraestrutura nem se melhora
substancialmente a vida dos cidadãos das classes baixas e remediadas, num país
onde falta tudo menos estádios, onde os trabalhadores que alimentam as cidades
com mão de obra gastam horas nos transportes e habitam favelas, decidiu-se
queimar a nota e construir estádios de nula utilidade.
(…)
O
futebol deu azo à desenfreada corrupção e benefício da construção civil, velha
aliada do desporto-rei.
(…)
Pode ser que durante a festa
haja um efeito suspensivo dos protestos, mas, assim que acabar, e se o Brasil
não ganhar, as ruas vão ficar agitadas. Alguém vai ter de apanhar os cacos.
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