segunda-feira, 9 de junho de 2014

UM EXEMPLO DE UMA REALIDADE


A filosofia actual do sistema capitalista na sua vertente mais extremista de sempre, o neoliberalismo radical, funciona da mesma forma quer na sua pátria de origem quer em qualquer ponto do mundo. Nos países em que os governos estão totalmente do seu lado, a resistência dos povos e dos trabalhadores em particular, torna-se mais complicada. Os beneficiados são os mesmos em todo o lado – administradores e accionistas – e os prejudicados também não fogem à regra – os trabalhadores. Só uma luta sem tréguas à escala global poderá alterar este estado de coisas, extremamente desfavorável aos verdadeiros criadores da riqueza. O curto texto (*) que se segue foi transcrito do Diário As Beiras (5/6/2014) refere um exemplo dos muitos que têm lugar em Portugal.
A crise no sector imobiliário nos EUA revelou remunerações estratosféricas de membros de conselhos de administração de multinacionais e de empresas do sector financeiro. Os prémios anuais que os principais accionistas e as administrações se atribuíam a si próprios, à revelia dos trabalhadores, poderiam oscilar entre as dezenas de milhares e os milhões de euros, recompensando inúmeros indivíduos que não exerciam qualquer actividade concreta na empresa. Descobriu-se um desacoplamento entre a produção e os lucros e entre o trabalho desenvolvido e a respectiva recompensa remuneratória. Em vez de os objectivos da empresa se centrarem na produção de um bem transacionável ou de um serviço concreto passaram a centrar-se no enriquecimento dos principais accionistas. Na Europa verificámos despedimentos e redução de salários em empresas com lucros espectaculares.
O caso da Soporcel poderia enquadrar-se nestas perversões do capitalismo moderno. Aos trabalhadores da papeleira foram exigidos esforços suplementares nos últimos anos. Os trabalhadores responderam da melhor maneira como demonstram os indicadores económicos, de produção e a pujança exportadora da empresa. Quando faria muito sentido recompensar os trabalhadores, estes são penalizados no seu fundo de pensões. Será que quem mais ordena são os accionistas? Ainda não espremeram os lucros todos?  
(*) Rui Curado Silva, investigador

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