A
filosofia actual do sistema capitalista na sua vertente mais extremista de
sempre, o neoliberalismo radical, funciona da mesma forma quer na sua pátria de
origem quer em qualquer ponto do mundo. Nos países em que os governos estão totalmente
do seu lado, a resistência dos povos e dos trabalhadores em particular,
torna-se mais complicada. Os beneficiados são os mesmos em todo o lado – administradores
e accionistas – e os prejudicados também não fogem à regra – os trabalhadores. Só
uma luta sem tréguas à escala global poderá alterar este estado de coisas,
extremamente desfavorável aos verdadeiros criadores da riqueza. O curto texto (*)
que se segue foi transcrito do Diário As Beiras (5/6/2014) refere um exemplo
dos muitos que têm lugar em Portugal.
A
crise no sector imobiliário nos EUA revelou remunerações estratosféricas de
membros de conselhos de administração de multinacionais e de empresas do sector
financeiro. Os prémios anuais que os principais accionistas e as administrações
se atribuíam a si próprios, à revelia dos trabalhadores, poderiam oscilar entre
as dezenas de milhares e os milhões de euros, recompensando inúmeros indivíduos
que não exerciam qualquer actividade concreta na empresa. Descobriu-se um
desacoplamento entre a produção e os lucros e entre o trabalho desenvolvido e a
respectiva recompensa remuneratória. Em vez de os objectivos da empresa se
centrarem na produção de um bem transacionável ou de um serviço concreto
passaram a centrar-se no enriquecimento dos principais accionistas. Na Europa
verificámos despedimentos e redução de salários em empresas com lucros
espectaculares.
O
caso da Soporcel poderia enquadrar-se nestas perversões do capitalismo moderno.
Aos trabalhadores da papeleira foram exigidos esforços suplementares nos
últimos anos. Os trabalhadores responderam da melhor maneira como demonstram os
indicadores económicos, de produção e a pujança exportadora da empresa. Quando
faria muito sentido recompensar os trabalhadores, estes são penalizados no seu
fundo de pensões. Será que quem mais ordena são os accionistas? Ainda não
espremeram os lucros todos?
(*) Rui
Curado Silva, investigador
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