“Este
é um tempo em que a esperança deixou de fazer parte da vida dos portugueses e
dos cidadãos deste velho continente.” É com esta frase fortíssima e totalmente
condizente com a realidade que Domingos Lopes inicia o artigo de opinião que
assina esta terça-feira no Público. É muito mau quando um indivíduo ou uma
comunidade perdem a esperança, desde logo porque, perdida a esperança, não há
mais nada a perder. Quando não se tem mais nada a perder tudo pode acontecer e
este “tudo” não contém nada de bom. Os donos do mundo que lidam com a s pessoas
como se fossem peões num tabuleiro de xadrez, que “se governam a si próprios” e
ao restrito grupo de os ajuda a manter injustas situações de privilégio, não
lhes passa pela cabeça que um dia o povo se fartará de tamanha ignomínia e
deixará de aceitar esta infâmia. Então, os ricos e poderosos evocarão os
direitos humanos que agora tanto espezinham. Provavelmente demasiado tarde…
Mas,
leia-se o texto, tão certeiro para os tempos que passam.
Este
é um tempo em que a esperança deixou de fazer parte da vida dos portugueses e
dos cidadãos deste velho continente.
Este
é um tempo em que tudo é incerto e ademais se cultiva o incerto, fazendo da
incerteza o modo de vida.
Não
basta ao ser humano a incerteza sobre o seu próprio fim; a civilização junta
agora todas as incertezas: emprego, reforma, família, país e futuro.
A
incerteza deixa os cidadãos à mercê dos donos do mundo, que decidem o destino
da indústria, do comércio, da agricultura e dos serviços.
Outra
das certezas é fazer crer que os debaixo viveram muito acima das suas
possibilidades. E esta certeza ganha muitos dos que viveram mal, porque os
debaixo gostam do modo como vivem os de cima e aceitam esta infâmia propagada
por aqueles que em poucas semanas gastam o que eles não gastam na vida inteira.
Este
é um tempo em que os governantes se moldam a estes parâmetros criando um espaço
bloqueado criando a sensação de que não se pode sair porque forças exteriores
omnipotentes o não permitem.
É
um tempo que, para além do bloqueamento do espaço político partidário se fecha
também o espaço da comunicação social, comunicando estes dois mundos entre si
virtualmente, à margem da maioria dos cidadãos, que lhes viram as costas, às
vezes com raiva.
Este
é um tempo de exaltação individual para uns milhares de indivíduos determinarem
o futuro de todos os outros milhões e milhões, fazendo destes, gente sem
esperança para construir o futuro de outro modo.
Nas
recentes eleições para o Parlamento Europeu, 66% dos portugueses
renunciaram a utilizar uma arma que tinham à mão porque já não acreditam que as
coisas mudem.
Os
cidadãos respiram a podridão dos governantes que se governam a si próprios, aos
seus, e ao grupo que os apoia.
Respiram
escândalos, corrupção, compadrio, enriquecimento fácil, exaltação dos ricos, e,
em contraste, vêem a sua vida empobrecer. Como uma prenda.
Respiram
a impunidade de quem manda nos que governam e, em contraste, vêem o Estado
cair-lhes no lombo com toda a força da máquina estatal impiedosa.
Respiram
reformas que não param de se reformar e que são contra-reformas.
Respiram
uma justiça podre, dura para os fracos, submissa para os donos de tudo.
Respiram
a mentira, a falta de honradez, a mesquinhez e a pobreza de espírito que vai do
Relvas ao Coelho passando pelo Paulinho das feiras, o senhor de Boliqueime e os
que no PS querem esta santa aliança.
Dizem
coisas com ares de gravidade; só que nem reparam que já ninguém acredita neles.
O
povo virou-lhes as costas. Àqueles que governaram, àqueles que não são capazes
de propor uma saída, e ficam contentes por terem mais uns pós no seu mealheiro
ideológico e do pequeno poder que o sistema oferece.
Este
é um tempo terrível no que se refere à palavra mágica que dá força às mulheres
e aos homens, mesmo nos momentos mais negros, a palavra esperança.
Mesmo
que a esperança não abunde face à seca no reino das vontades individuais e
coletivas, a verdade é que enquanto existirem mulheres e homens bons,
generosos, honrados, solidários, igualitários, a esperança não pode morrer.
Neste tempo de miséria intelectual
onde se exalta o mal como sendo um bem, é preciso não desistir e roubar, como
Prometeu a Zeus, a esperança a quem a confiscou e com ela incendiar os
corações. Em Portugal e na Europa.
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