O texto seguinte (*) que transcrevemos do
Diário de Coimbra de hoje refere-se uma realidade actual, relativamente à qual já
todos demos conta e comentámos mas usando outras designações. A sua leitura
deve ser feita com muita atenção para que não nos percamos.
Ainda enquanto estudante universitário,
recordo-me que um dos meus professores sublinhava que todas as proposições
económicas são do tipo “se-então”, pelo que quaisquer soluções passam,
sobretudo, pela arte de pensar e não tanto pelo registo alegadamente
científico.
Sentido idêntico assumiu i
chefe dos economistas de FMI Kaushik Basu ao declarar que “uma coisa que os
especialistas sabem é que a extensão do seu conhecimento é muito mais limitada
do que pensam os não especialistas, políticos, jornalistas ou o grande público”.
Assim se compreende melhor o
famigerado Pacto de Estabilidade, rubricado pelos países do euro, ao sentenciar
limites de défices, percentagens de PIB e outras imposições, que (quase) todos
nós sentimos na vida quotidiana.
Temos de reconhecer que um
dos propósitos desta visão do mundo foi absolutamente conseguida, a da sujeição
dos cidadãos, das instituições políticas – veja-se o comportamento submisso da
comissão europeia – e dos governos nacionais a uma verdadeira ditadura singular
do mercado.
Por aqui e para complicar
mais a existência do ainda pacato cidadão, multiplicam-se os escândalos (os
contribuintes vão ter de pagar 23,5 milhões de dívidas do Europarque), o
conflito de interesses, a colisão entre o público e o privado, os ataques “turcos”
à constituição e a sistemática introdução de “boys and girls” nas empresas
públicas ou nos mecanismos da administração local ou central e em que a
ideologia partidária já só conta para a pequena história.
A palavra inglesa “staff”,
conjunto de pessoas que assessora um dirigente e que compõem o quadro de uma
instituição, já temo seu equivalente na língua de Camões (stafe), seguindo o
dicionário Houaiss.
Neste âmbito, não posso
deixar de citar as palavras pronunciadas, no passado domingo, pelo presidente
da autarquia de Viana do Castelo e dirigente nacional do partido, o socialista José
Costa quando interrogado sobre a qualidade dos administradores dos estaleiros
navais: “é uma administração de boys do PS e do PSD, que estão lá há dois anos
e meio, provavelmente a jogar às cartas com os trabalhadores e alguns nunca
viram um navio na vida”.
Noutras latitudes, alguns
sociólogos ou instituições de ensino superior já se dedicaram ao estudo da
presença do que designam por “staffers” no seio das organizações. É o caso da
Universidade de Sherbrooke (Quebeque, Canadá) que, aliás, irá promover um
colóquio internacional destinado a favorecer a integração da ética pelos atores
públicos e em que contextos e condições o comportamento ético pode constituir
um vetor pertinente de transformação social.
Sem pretender imiscuir-me na programação
de qualquer curso desta universidade que, como as outras, já têm problemas que cheguem,
eis um tema que tende a fazer implodir as organizações, que se encontra disseminado
pelos quatro cantos do país e a que chamarei “stafismo”, vocábulo a necessitar
de uma entrada urgente nos dicionários.
(*) João Marques, Diplomado
em Ciências da Comunicação
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