Há realidades que são óbvias pois só não as
vê quem não quer ver. Uma das que salta à vista desde que a maioria de direita
chegou ao poder é que este Governo tudo fará para destruir tudo o que “cheire a
Estado”, particularmente, “as funções sociais e empresariais do Estado”. Esta constatação
é comentada no “Expresso” Economia de ontem em termos muito fortes por alguém
insuspeito de “esquerdismo”, o que lhe dá uma credibilidade suplementar perante
a opinião pública. De qualquer maneira, o texto assinado por Nicolau Santos,
com uma ponta de ironia, merece a concordância de qualquer bloquista.
Este Governo odeia o Estado,
em particular as funções sociais e empresariais do Estado. Para este Governo,
os reformados são um estorvo, os desempregados uns inúteis, os que recebem o
Rendimento Social de Inserção uns parasitas, os que metem baixa e recorrem ao
Serviço Nacional de Saúde uns malandros e as empresas públicas são apenas um
sorvedouro dos dinheiros do Estado. Os reformados podiam morrer, os
desempregados podiam emigrar, os doentes deviam trabalhar, as empresas públicas
deviam fechar (as que dão prejuízo) ou ser vendidas a privados (as que dão lucro).
Basicamente, é isto que pensa o primeiro-ministro, uma Thatcher serôdia e de
calças que nos saiu em sorte trinta anos depois do modelo original – e que,
como a Dama de Ferro, ambiciona não apenas mudar o Estado e a economia, mas
sobretudo mudar-nos a alma.
Os exemplos que confirmam
isto são múltiplos. Desde que tomou posse mais de metade das pessoas que
recebiam o Rendimento Social de Inserção ficaram sem ele, os abonos de família
caíram em flecha, a duração e os valores do subsídio de desemprego encurtaram
vertiginosamente, os salários dos funcionários públicos já recuaram mais de 20%
e as reformas e pensões têm sofrido cortes sobre cortes.
Mas o Governo também despreza
os interesses empresariais do Estado. A prová-lo está a sobranceria com que
deixou a Parpública, empresa gestora das participações do Estado, durante Seia meses
sem presidente, ou o Metro de Lisboa exatamente na mesma situação, apesar das
sucessivas greves dos trabalhadores devido à incapacidade da administração em
funções para fechar um acordo laboral para 2014.
No caso da Parpública, o
Governo já acordou com a troika o seu encerramento em 2014, o que quer dizer
que pretende acabar com todas e quaisquer participações do Estado – ou, pelo
menos, com a sua gestão de uma forma minimamente coerente. Mas, entretanto, lá
indicou um nome para presidir á empresa,, que foi ratificado pela Comissão de
Recrutamento e Seleção para a Administração Pública, dado tratar-se de uma
pessoa com ”uma experiencia efetiva na gestão de topo de situações de elevada
complexidade” e que demonstra um “conhecimento da problemática em causa”.
Pelo seu currículo, tudo
indica que Pedro Ferreira Pinto domina perfeitamente a “problemática”. É desde Outubro
de 2011 administrador de uma empresa de aluguer de purificadores de água, o que
o recomenda fortemente para o lugar. Foi administrador da Selecta, um fundo de
investimento imobiliário fechado, e da Lisbon Brokers, uma corretora já
desaparecida que foi investigada pela CMVM por utilização de informação privilegiada.
Esteve ainda na ASK, uma empresa de serviços de assessoria financeira, tendo
como colega Nuno Fernandes Tomaz, atual administrador da CGD e militante do
CDS. E talvez fosse bom o dr. João Bilhim ter verificado se por acaso não existe
qualquer queixa-crime contra o senhor na Procuradoria Geral da República.
Ora quando se nomeia para
presidir à Parpública alguém que nunca teve nada a ver com o Estado nem com a
defesa do interesse público, de duas uma: ou Pedro Ferreira Pinto estava farto
de alugar purificadores de água numa empresa mundialmente conhecida ou o
Governo já só encontra pessoas com este notável curriculum para gerir uma coisa
tão pouco importante como são as participações do Estado.
Em qualquer
caso, chama-se a isto tratar os interesses do Estado a pontapé. E nisso o
Governo é exímio.
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