quarta-feira, 7 de abril de 2010

DETALHES 18

DETALHES 18
O sistema de saúde que vigora nos EUA tem sido notícia pelas alterações promovidas pelo presidente Barack Obama no sentido de possibilitar o acesso aos cuidados mínimos de saúde a uma percentagem significativa dos cidadãos norte-americanos.
Num país que sistematicamente se apregoa paladino dos direitos humanos, existem várias dezenas de milhões de pessoas que, até agora, não tiveram ainda acesso a cuidados médicos a um preço razoável para as suas bolsas, como acontece, em geral, nos países europeus.
Uma portuguesa residente na Califórnia – Virgínia Figueiredo, clarinetista e professora de clarinete – publica um pequeno texto no Diário de Coimbra de 25/3/2010, onde, de forma resumida mas clara, nos elucida sobre o funcionamento do sistema de saúde da maior potência mundial.

O SISTEMA DE SAÚDE AMERICANO
Nenhum outro problema tem criado mais polémica nos EUA como a crise do sistema de saúde. Para quem não esteja familiarizado com tal sistema de saúde, podemos resumi-lo a um sistema que apenas funciona se as pessoas adquirirem um seguro de saúde que cobre as despesas médicas individuais. Os seguros vêm em todas as formas e feitios e cobrem desde uma simples visita ao hospital, a consulta ao dentista, oftalmologista, etc. Tudo depende de quanto é que a pessoa está disposta a pagar, e isso reflectir-se-á no tipo de cuidados a que pode aceder e também quanto à qualidade dos mesmos. Ou seja, o sistema é tudo menos democrático, e quem tiver o maior poder de compra tem acesso a melhores cuidados.
O valor do seguro varia de Estado para Estado, mas na Califórnia os valores são particularmente altos. Um seguro mínimo cobre apenas uma visita ao médico de família e ao dentista de 6 em 6 meses, e não cobre os custos totais da visita. O paciente fica encarregue de uma percentagem que varia igualmente de centro para centro ou de médico para médico. Para citar apenas um exemplo, tendo um seguro de cerca de $150 por mês, uma consulta ao dentista varia entre $70 e $100 (só a participação do paciente). Ou seja, uma consulta ao dentista (sem nenhum problema em particular) tem um custo de cerca de $150 a $200 no mínimo. Outros procedimentos como desvitalizar um dente pode custar $2000 ao paciente, mais a comparticipação do seguro.
O que levanta duas questões fundamentais: porque é que alguém haveria de não querer o chamado seguro universal? E porque é que os custos de visitas aos serviços médicos são tão elevados?
Obviamente que quem tem um elevado poder de compra não acha que deve pagar mais impostos para cobrir as despesas de quem não tem acesso ao sistema de saúde. No entanto, sistemas de saúde liderados pelos governos são bem sucedidos na Europa apesar de não serem perfeitos. Será com certeza difícil ou até impossível um sistema que seja perfeito e que agrade a todos, mas os países europeus conseguem em geral oferecer cuidados médicos aos seus cidadãos a um preço razoável.
Na Califórnia, não é difícil encontrar pessoas que não tenham seguro de saúde. A maior parte dos americanos debate-se diariamente com os altos custos de crédito a habitação, custos de seguros (saúde, carro, etc.) e custos de educação. Na grande área de Los Angeles, uma grande parte da população tem dois ou três empregos (geralmente um a tempo inteiro, e um ou dois em part-time) só para poder sobreviver nesta “selva” urbana e pagar os altos custos de viver na Califórnia.
Numa altura em que a propósito do combate ao défice das contas públicas, o nosso Serviço Nacional de Saúde, alvo de apetites empresariais pode vir a ser objecto da criação de chorudos negócios, é importante estarmos atentos para conservarmos uma das maiores conquistas que a democracia nos trouxe.

Luís Moleiro

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