segunda-feira, 26 de abril de 2010

Paralisação com impactos directos na economia


Quebra da produtividade pode rondar os 30 a 40%


VIRGÍNIA ALVES

O sector dos transportes e comunicações anunciou uma paralisação para amanhã, terça-feira. Serão cerca de 20 mil os trabalhadores abrangidos por estes pré-avisos de greve que, dependendo da adesão, poderão afectar milhões de pessoas e ter impactos reais na economia.

O congelamento de salários, o bloqueamento da contratação colectiva e as privatizações anunciadas são os motivos anunciados pelos trabalhadores de 17 empresas (comboios, autocarros urbanos e transporte fluvial) e o sector de Transportes Pesados de Passageiros, que reúne mais 120 firmas, para uma greve geral, que une todos os sindicatos. Os maquinistas da CP paralisam já hoje, segunda-feira, entre as 5.30 e as 10 horas.

Números da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) apontam que serão cerca de 20 mil os trabalhadores abrangidos pelos pré-avisos. "Todas as regiões do país, excepto Alentejo e Algarve, serão afectadas por esta greve", referiu ao JN Amável Alves, da direcção da FECTRANS.

Já sobre as pessoas afectadas por esta paralisação do sector ninguém quer fazer estimativas, mas tendo em conta apenas o número médio de passageiros transportados por dia pelos STCP (Porto), Carris (Lisboa) e CP, mais de um milhão e meio de pessoas poderão sentir directamente os efeitos da paralisação.

São impactos negativos, como reconheceu José Oliveira, membro da direcção da FECTRANS: "Se calhar, haverá gente prejudicada com mais razão para fazer greve, mas não é com uma atitude de passividade que resolvemos o problema do país". E adiantou que "a greve terá implicações na economia nacional, mas não é marcada como um fim em si mesmo, se houvesse alteração de posturas do Governo, haveria condições para evitar esta greve".

Amável Alves acrescentou que esta paralisação "é um contributo para o desenvolvimento do país, uma vez que os trabalhadores exigem ser tratados com dignidade".

Para o especialista em transportes José Manuel Viegas, o "impacto directo será elevadíssimo, será uma machadada forte na produtividade do país, no imediato, e tendo em conta apenas as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto haverá uma quebra de produtividade na ordem dos 30 a 40%, o que representa milhões de euros".

O professor do Instituto Superior Técnico refere ainda que "os trabalhadores destas empresas também deveriam perceber os impactos secundários, que serão, a médio prazo, perder passageiros". Recorda, para explicar esta afirmação, a greve dos transportes em Paris, em 1995, "que estimulou as pessoas a procurarem alternativas, como a partilha de automóveis, e nunca mais recuperaram esses passageiros".

Por outro lado, sublinhou, "uma greve deste género poderá servir para despoletar uma reflexão séria sobre como o país trata os transportes públicos, que continua a ser numa base contratual informal, ou seja todos os anos é definida o valor da indemnização compensatória sem ter em conta a produtividade da empresa".

Existe já um regulamento europeu para regularizar a situação, mas "tem um período de transição até 2019, e os sucessivos governos têm adiado a questão, mantendo a informalidade que faz parecer que estas empresas são clandestinas".

Perante um pré-aviso de greve para um sector crucial, rapidamente se fala em serviços mínimos. Para os sindicatos, determinados transportes, como de pessoas deficientes, ou urgências "estarão assegurados, mas o transporte normal de passageiros não é essencial". No entanto, cabe aos tribunais arbitrais a definição dos serviços mínimos.

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