Drama silencioso do «assédio moral» é aspecto pouco conhecido, numa altura em que o «bullying» domina a actualidade
José António Fernandes Martins, 45 anos, era professor de Matemática e Ciências da Natureza na Escola EB 2,3 de Vouzela, e pôs termo à vida no início do presente ano lectivo. Tal como aconteceu com o professor de Música de uma turma do 9º ano da Escola Básica 2,3 de Fitares, Sintra, que se suicidou em Fevereiro depois de se ter queixado várias vezes da indisciplina e das agressões físicas dos alunos, o exercício da actividade docente foi-se tornando num calvário para José António Martins. Mas ao contrário do professor Luís, de Sintra, José António não foi vítima de «bullying».
José António Martins era um professor estimado e respeitado pelos alunos e colegas, que entrou num processo de revolta e depressão por não conseguir coexistir com a carga «sobre-humana» de tarefas e prazos a cumprir que a escola lhe impunha, conforme disse ao tvi24.pt a sua mulher, Delmira Figueiredo, também ela professora.
«Não consigo mais continuar a ser um bom professor. Esta ministra [Maria de Lurdes Rodrigues] conseguiu secar tudo o que havia de bom na profissão docente», escreveu José António Martins durante o processo de assédio moral («mobbing») que o vitimou.
«Não consigo mais ser um bom professor»
Esta frase, encontrada no computador de José António depois da morte, a 21 de Setembro de 2009, é paradigmática de uma «relação de causa-efeito entre as políticas educativas seguidas e o acumular de estados de sofrimento por parte de professores», referiu ao tvi24.pt Santana Castilho, professor universitário e especialista em gestão educativa.
«Escolas são ilhas de tirania»
Paulo Guinote, professor e autor do blogue «A Educação do meu Umbigo» , explica também ao tvi24.pt que os casos extremos do Luís e do José António se aproximam de milhentos casos que existem no país. A violência e a indisciplina, as pressões por parte da tutela e das direcções das escolas, o aumento drástico da carga de trabalho, o stress da avaliação de desempenho e a perda de companheirismo «causa um cocktail explosivo dentro das escolas» e «o que disse esse professor [José António] na mensagem que deixou pode ser dito por qualquer um, mesmo não chegando a esse extremo [suicídio]», defendeu.
«Professores vão cada vez mais ao psiquiatra»
Professora relata drama «escondido» do mobbing
A constatação de que as escolas se transformaram em locais de vivência dolorosa, já levou a Federação Nacional de Professores (FENPROF) a defender que se deve legislar na matéria.
À saída de uma reunião com a ministra Isabel Alçada, a 5 de Abril, o secretário-geral da FENPROF pediu que o stress dos professores seja considerado doença profissional. Mário Nogueira referiu ainda que entre as medidas apresentadas pelo sindicato está também o reconhecimento ao professor do estatuto de autoridade pública dentro do estabelecimento de ensino
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