quinta-feira, 26 de maio de 2011

DENUNCIAR É PRECISO

Não tenhamos a menor dúvida de que vivemos numa espécie de liberdade vigiada. O regime em que nos inserimos teceu uma apertada rede que filtra a parte mais sumarenta e importante da informação que nos devia chegar e que acaba por se esfumar na espuma dos dias. Durante o salazarismo/marcelismo, o controlo da informação era feito à bruta, de uma forma artesanal, e, por isso, facilmente detectável. Sabíamos que, se quiséssemos conhecer os podres do regime tínhamos de recorrer à comunicação social estrangeira. Os meios sofisticados de que o actual poder dispõe fazem esse trabalho de forma quase indolor e com resultados excelentes. A informação, controlada pelos poderes fácticos, chega às redacções já cozinhada de modo que é só despejá-la, a maior parte das vezes acriticamente, sobre os desprotegidos espectadores/ouvintes/leitores. Com frequência, pode ler-se em vários jornais uma notícia redigida exactamente da mesma maneira.
Com a falta de trabalho, compreende-se que muitos jornalistas, contratados à jorna, com filhos para alimentar, renda de casa e carro para pagar, mesmo contrariados tenham de fazer o papel de voz do dono. É melhor engolir sapos do que não ter nada para engolir…
Só uma sólida independência económica, um elevado estatuto profissional ou uma coragem que roce a loucura vai permitindo que quem escreve nos jornais vá chamando os bois pelos nomes e transmita aos leitores as verdades inconvenientes para o regime.
É o caso do escritor Manuel António Pina, Prémio Camões 2011, que hoje assina no JN um pequeno mas significativo texto que, só por má fé pode ser considerado uma denúncia de tráfico de influências… Casualidade ou causalidade?
Começa assim:
“Talvez tenha visto mal mas não me apercebi de que, como vem sendo feito na Net, algum jornal se tenha ainda interrogado sobre a sucessão de três notícias em pouco mais de dois meses que, isoladas, talvez só tivessem lugar nas páginas de Economia mas que, juntas, e com um director ou um chefe de redacção curiosos de acasos, até poderiam ter sido manchete.” (...)
Excelente… pelas linhas, pelas entrelinhas e por tudo o mais.

Luís Moleiro

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