segunda-feira, 16 de maio de 2011

NAS GARRAS DO NEOLIBERALISMO

Na verdade o mundo parece andar às avessas. Muitos são os exemplos que poderíamos invocar mas fiquemos apenas por dois que todos conhecemos, para não restarem dúvidas.
Um deles poderá estar para acontecer em Portugal e tem a ver com a possibilidade de voltar a ganhar uma eleição o partido que, não sendo o único responsável, nos deu o último empurrão para a fossa onde nos encontramos agora e da qual tão cedo sairemos, em especial, se se mantiverem as mesmas políticas que aqui nos conduziram. As medidas altamente recessivas que o triunvirato FMI/BCE/EU decretou vão dar uma ajuda no pior sentido. O supra-sumo do neoliberalismo poderá, contradição das contradições, vir a ser aplicado por um governo liderado por um partido dito “socialista”.Há quarenta anos a ocorrência de uma situação destas só seria possível numa obra de ficção. Contudo, no momento em que vivemos a realidade ultrapassa qualquer criação da imaginação.
Não há dúvida que, sem contrapoder a nível mundial, o neoliberalismo urdiu uma teia de tal forma perfeita que faz gato-sapato da democracia onde quer que os seus tentáculos cheguem em força. Decisões determinantes para a vida dos povos são impostas por entidades não sujeitas à legitimidade do voto popular, contra as leis elaboradas por órgãos democraticamente eleitos.
Também cabe nos anais do absurdo, pelo menos para a esquerda de boa cepa e para quem conhece a história da França, a possibilidade do director-geral do FMI vir a ser o candidato do PS gaulês à presidência da república daquele país. A detenção de Dominique Strauss-Kahn em Nova Yorque, por presumível tentativa de sequestro e violação de uma empregada de hotel, vai, certamente, pôr fim àquela putativa candidatura mas tal não invalida a forma como a doutrina neoliberal, nos seus aspectos mais extremistas já se infiltrou em todos os interstícios da sociedade europeia e não só. A tentativa de colocar, na presidência da república francesa, um dos expoentes máximos do neoliberalismo mundial revela bem a ousadia a que já chegou esta doutrina político-económica.
Se num país como a França, onde ainda têm um grande peso valores e direitos que são muito caros à esquerda, se vier a ser eleito pela mão de um partido, dito “socialista”, um incontestável expoente do neoliberalismo, então, podemos ter a certeza de que o mundo, tal como o conhecemos até há menos de duas décadas, está virado de pernas para o ar…
Como complemento do que acabámos de escrever e do episódio que envolveu Strauss-Kahn recomenda-se a leitura do delicioso texto que hoje vem inserido no JN, da autoria do Prémio Camões deste ano, o escritor Manuel António Pina.

Luís Moleiro

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