quarta-feira, 25 de maio de 2011

VENHA O DIABO E ESCOLHA

Como diz o povo “entre os dois venha o diabo e escolha”. Os responsáveis máximos dos dois principais partidos políticos portugueses não nos oferecem a mínima garantia de credibilidade.
Sócrates é o campeão das inverdades, do autoritarismo mascarado de uma retórica envolvente, do arbítrio, da destruição do valor dos compromissos assumidos, enfim, uma “catástrofe política”. Passos Coelho, por sua vez, constitui uma “catástrofe económica” se tivermos em conta o extremismo de que tem dado mostras nesta área, onde tem sido suficientemente claro em relação ao que pretende fazer, ainda por cima, rodeado por uma matilha que mete medo.
No seguinte texto que Rui Tavares assina hoje no “Público” é feita uma excelente caracterização destas duas personagens. Vale a pena lê-lo.


DUAS CATÁSTROFES
“Não sei que mal fizemos à deusa da democracia, mas ela está a sujeitar-nos a uma duríssima prova.
Diz ela: Portugal, escolhe entre duas catástrofes. Preferes uma catástrofe económica e social? Ou antes uma catástrofe política?
A catástrofe económica e social é Pedro Passos Coelho, que é um líder do PSD muito mais banal do que parece. O que sabe de política aprendeu como líder de uma juventude partidária; em vez de ter maturado, a sua temporária ausência da política fê-lo regressar como personagem plastificada. A imagem de extremista ideológico que a esquerda compôs dele pode até, de certa forma arrevesada, creditá-lo de uma consistência de pensamento que eu - salvo melhor intuição - não lhe encontro.
Temo-lhe a ligeireza mais do que o extremismo. A privatização das Águas, a extinção do Ministério da Cultura, tudo parece emergir no seu discurso com a mesma falta de questionamento.
Certas pessoas parecem não ter dúvidas por dogmatismo. Outras não têm dúvidas por inconsciência - e Passos Coelho é uma delas. Uma pessoa assim é perigosa, sobretudo quando rodeada por uma clique de tacticistas disposta a bajular o líder para alcançar os seus próprios objectivos. Pedro Passos Coelho está rodeado destes bajuladores por todo o lado, e eles parecem mais movidos pelo lucro do que pela glória.
Com um país em crise, vai ser difícil distinguir entre a privatização e a pilhagem. A catástrofe política é José Sócrates.
Para quem nunca comprou a teoria, tão conveniente em certos sectores da esquerda, de que PS e PSD são iguais, apostar em Sócrates para combater Passos Coelho poderia ser uma opção.
Mas eu não me posso esquecer de outro Sócrates. O Sócrates dos processos judiciais contra opinadores e jornalistas, do um-contra-todos, dado aos ataques de fúria, à paranóia e às derivas autoritárias. O Sócrates que fez da arrogância uma forma de respiração.
Ao contrário de Passos Coelho, este Sócrates não se consegue esconder. Ele está ali, por debaixo da pele, e todos nós o conhecemos demasiado bem. Quando ele deu uma entrevista como "simpático" ninguém acreditou. O verdadeiro Sócrates estava impaciente por aparecer.
Estas características são - para quem se preocupa com a democracia - mais do que apenas uma caricatura. Sócrates fez muito para desvalorizar o valor da palavra política nos últimos anos. A confiança foi virada de pernas para o ar demasiadas vezes. O sectarismo impregnou o ar, também por culpa dele, e contaminou o país.
De caminho, Sócrates esvaziou o PS por dentro como o dono de um banco. Um partido outrora orgulhoso das suas raízes democráticas, progressistas e abertas tem agora medo do chefe. Esse foi outro dos efeitos da acção de Sócrates, e toda a gente que o escolher para barrar Pedro Passos Coelho sabe que conta com a catástrofe política para conter a catástrofe social e económica.
Mas alguma coisa fizemos de mal à deusa da democracia. O ambiente em que vivemos não é só culpa de dois homens; é culpa de uma cultura política própria de beco sem saída.”
(Rui Tavares, Historiador. Deputado independente no Parlamento Europeu pelo BE)

Luís Moleiro

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