quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

CORRUPÇÃO E NEOLIBERALISMO, O PAR PERFEITO


O dia 09 de Dezembro é considerado o dia internacional anticorrupção, segundo declaração realizada pela ONU, em Outubro de 2003, por intermédio da Resolução 58/4. A efeméride assinala a data da assinatura da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.
A própria natureza do sistema capitalista é geradora de corrupção, actualmente potenciada pelo neoliberalismo radical. Isto significa que a erradicação deste mal, associado ao sistema, só poderá ter lugar com o fim do mesmo. Não tenhamos ilusões sobre este facto.
É um erro tremendo imaginarmos que no estado actual do capitalismo é possível acabar com a corrupção e, esta dominada, passamos a ter uma sociedade onde reina a justiça social e todos os seus principais problemas estão resolvidos. Tendo este ponto bem presente e, dentro da situação actual, é importante que se faça alguma coisa. Por isso mesmo, é positiva a internacionalização da luta contra a corrupção. Seguindo este raciocínio, achámos interessante deixar aqui um excerto de um artigo de opinião assinado pelo Presidente da Transparência e Integridade, Associação Cívica, Luís de Sousa, que podemos ler hoje no Público.
A internacionalização do combate à corrupção, para além de resultar na transposição de normas para o ordenamento jurídico nacional, implica submeter as instituições nacionais ao escrutínio de equipas de peritos internacionais que, à luz de critérios uniformizados, avaliam o desempenho dos órgãos com competências no combate à corrupção, em diferentes áreas de intervenção.
Os relatórios produzidos por estas equipas têm evidenciado uma série de problemas que afectam o combate à corrupção em Portugal, a saber:
– Ausência de uma estratégia nacional de combate à corrupção;
– Baixos níveis de responsabilização dos eleitos e homens de negócios;
– Riscos no controlo da despesa pública, sobretudo num contexto de rápida transformação dos modelos de contratação pública;
– Défice de especialização nos sistemas judiciais;
– Ineficácia dos mecanismos de supervisão em assegurar a apropriação dos princípios e o cumprimento uniforme das regras de financiamento político;
– Fraca regulação e gestão sectorial de conflitos de interesses;
– Inexistência de um enquadramento normativo adequado e de mecanismos efetivos de proteção de denunciantes;
– Acesso à informação limitado, sobretudo no que concerne a informação procedimental e proactiva.
Por estas e por outras razões, a sociedade civil não pode silenciar-se. O nosso papel não se limita à indignação e consciencialização pública para a existência, as causas e a gravidade da corrupção e para a ameaça que ela representa para a nossa democracia, Estado de Direito e economia de mercado. Compete-nos igualmente estudar o fenómeno e as políticas de controlo, avaliar áreas de risco, produzir conhecimento que nos permite sugerir medidas concretas, acompanhar o progresso e monitorizar o cumprimento dos compromissos internacionais assumidos pelas autoridades portuguesas. É um trabalho demorado e persistente, mas que dá frutos. Estamos a vê-los na forma como a justiça está a despertar para este problema e no modo como os cidadãos exigem hoje, mais do que nunca, transparência, integridade e responsabilidade aos eleitos. Neste dia especial, a mensagem que gostaríamos de enviar a todos os portugueses é de que há esperança. A sociedade civil deve inspirar-se nos bons exemplos de integridade que vão surgindo um pouco por todo o lado, na justiça, no sector empresarial, nas profissões liberais, na administração pública e inclusive na política, e procurar criar um efeito multiplicador desses esforços, institucionalizando e materializando o nosso protesto contra a corrupção.

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