Uma
ideia recente de auscultar a opinião pública sobre aquilo que se designou como “a
palavra do ano” está a ter um resultado previsível mas acima das expectativas. Digamos
que de um lote de cerca de uma dezena de palavras, “corrupção” foi a que obteve
uma percentagem de votação mais elevada, 60%, largamente à frente da segunda
mais votada. Para o comum dos cidadãos, não há qualquer dúvida de que a corrupção
é, muito provavelmente, o maior flagelo que nos está a atingir, muito para além
de qualquer epidemia. A corrupção é um fenómeno inerente ao próprio capitalismo
neoliberal e que não é culpa da acção dos partidos políticos, do mau
funcionamento da justiça ou da muito citada transparência, só para darmos
alguns exemplos. O que se passa actualmente tem tudo a ver com a submissão do
poder político ao poder económico e financeiro que tudo dominam. Manter o statu
quo e, se possível reforçá-lo é o objectivo principal destes megapoderes.
O
pequeno texto (*) que apresentamos a seguir, foi transcrito do Diário as beiras
de hoje e, como que confirma esta nossa curta reflexão.
Não
podemos desligar as escolhas políticas adotadas no mundo nas últimas três décadas
destes fenómenos de corrupção que estamos a viver, da degradação de
instituições públicas como o SEF, de instituições financeiras e multinacionais
envolvidas em esquemas fraudulentos. Isto não se resume à melhoria da
transparência, ou à mudança do funcionamento de partidos, ou da justiça.
Não,
estes fenómenos estão intimamente ligados a escolhas políticas, á desregulação
financeira e à submissão da política a instituições financeiras (bancos, fundos
de investimento, offshores, agências de rating), que têm conquistado um
verdadeiro e ilegítimo poder político. Sócrates criou o segundo Regime
Extraordinário de Regulação Tributária legalizando aquilo que seria a fuga ao
fisco de um amigo, abrindo simultaneamente a porta a inúmeros operadores de
mercado com contas offshores que aproveitaram para fugir massivamente aos
impostos.
Da
ENRON ao BES muito foi feito em prol da transparência e da qualidade das
instituições, mas o capitalismo financeiro tem sido mais forte. Está na hora de
mudar as opções políticas, de domesticar os mercados, de os colocar ao serviço
das pessoas.
Hoje,
à hora de saída do trabalho dos assalariados, na City londrina corretores de
bolsa apostarão como é seu hábito diário centenas de milhares de libras de
rendimentos ilegítimos em corridas de cavalos.
(*) Rui
Curado da Silva, investigador
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