No
cômputo geral a obra deste Governo traduziu-se numa estrondosa falha dos
objectivos que afirmava querer atingir embora as suas políticas se tenham
traduzido num brutal empobrecimento da maioria dos portugueses sem que isso
significasse uma diminuição do montante da dívida. Tamanho sacrifício não serviu
para mais do que pagar os juros da mesma.
No
último artigo de opinião assinado no Público em 2014, o Prof. Santana Castilho
(SC) repassa, em especial, a actuação de Nuno Crato e do ministério que dirige.
Como é óbvio, a apreciação de SC não é nada lisonjeira relativamente à actuação
do ministro e termina, descortinando alguns sinais de esperança que possam ser
trazidos por algumas eleições que este ano se irão realizar em vários países
europeus, a começar pela Grécia já daqui a menos de um mês.
É
obra a que este Governo, marcado pela arrogância e contumaz na mentira,
produziu em três anos e meio de desgoverno: um empobrecimento e uma emigração
sem paralelo recente, finanças e economia centradas na transferência de capital
para o estrangeiro e, sobretudo, um sistema de ensino público em desagregação,
dilacerado pelo retrocesso inimaginável, fria e calculadamente promovido,
medida após medida.
O
lapso da funcionária da Escola Secundária Alberto Sampaio, de Braga, quando em
dia de Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, vulgo PACC, tratou
professores vexados por “meninos” e lhes ordenou que fizessem “fila indiana sem
stress”, tem o valor simbólico de
um triple play: a natureza ideológica de
uma política, o claudicar de uma classe profissional e a baixeza de um
ministro.
Em
três anos e meio desta legislatura foram retirados ao financiamento do ensino
público 3.294 milhões de euros e despedidos colectivamente 30.464 professores.
O ano de 2014 destaca-se do conjunto por ter exacerbado os dois ódios de
estimação de Nuno Crato: a escola pública e a Ciência, onde, de uma penada e
com uma avaliação trapaceira, foi liquidado o trabalho criterioso de Mariano
Gago. Alguns episódios, de entre tantos, merecem destaque no balanço do ano,
por reveladores de um modo de estar e fazer política.
Quando,
presente o contexto acima referido, Nuno Crato aceitou que o ensino público
fosse penalizado com mais um corte de 700 milhões de euros no orçamento de
Estado de 2015, logo se apressou (portaria n.º 269/2014 de 19 de Dezembro) a
garantir que o financiamento público do ensino privado não fosse beliscado com
qualquer corte.
Quando
alunos e professores sofriam com o escândalo do pior lançamento de ano lectivo
de que guardamos memória, o responsável primeiro por tanta incompetência saiu
de cena. Foi para Milão, para uma reunião informal sobre… telecomunicações. Remake de pequena monta do que já
havia feito aquando da sétima avaliação da troika,
altura em que se ausentou três semanas. Coisa de somenos se comparada com as
quatro voltas ao mundo que deu no ano em apreço. Nada, se tivermos em vista que
em estudos e pareceres gastou por mês mais que um milhão de euros. Só por
inércia institucional se continua a dar o título de ministro da Educação a quem
se tem revelado um vulgar factotum capturado
por interesses que não os da Educação pública.
Acabado
de sair de um período de resgate financeiro, sujeito a imposições de políticas
por parte de organismos estrangeiros, Portugal está confrontado, no início de
2015, com números avassaladores. O volume dos juros pagos aos credores nesta
legislatura (28.528 milhões de euros) é quase idêntico ao volume obtido com o
corte da despesa pública mais o aumento de impostos (28.247 milhões de euros).
Dito de outro modo, o empobrecimento brutal da maioria dos portugueses serviu
só para pagar juros, sem que um cêntimo tenha sido abatido ao montante da
dívida.
Em
três anos de aplicação de uma receita que não conseguiu cumprir um só dos seus
múltiplos objectivos, a dívida da administração pública cresceu à razão média
de 23.236 milhões de euros anuais, ou seja, aumentou 69.708 milhões de euros.
O
grande problema, que tudo condiciona, é, assim, o da dívida pública, sobre o
qual urge o diálogo e urgem os compromissos. É mister abandonar de vez as
lógicas maniqueístas para que tendem as forças partidárias e explorar as
vertentes intermédias e alternativas, sendo certo que, com a dimensão que tem e
o crescimento económico que não temos, a dívida não é sustentável. Não adianta
persistir no “custe o que custar”, que nos trouxe à exaustão, ou menosprezar,
no outro extremo, as consequências da saída do euro. Chega, por uma ou outra
via, de atirarmos fantasias contra a realidade. Concedo que a particularização
do problema tem complexidades para especialistas em políticas monetárias e
macroeconomia. Mas não precisamos de pertencer a essa elite para ver,
claramente, que a nossa desejada consolidação orçamental é escrava de uma
solução europeia multilateral para o problema das dívidas soberanas.
Perante
a nossa incapacidade política para equacionar cenários racionais de actuação,
talvez que as próximas eleições antecipadas gregas (decididas no momento em que
escrevo), e as regulares que acontecerão no Reino Unido e em Espanha, se juntem
às nossas (assim os portugueses ignorem a maldição de Natal de Passos Coelho)
para alterar o mapa político europeu e, assim, derrogar a feição sacra do
Tratado Orçamental e do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Sobrevivemos em 2014.
Precisamos de ter esperança no futuro e retomar capacidade de reagir para
voltarmos a viver. Que renasça o orgulho profissional dos docentes. Que os
professores se consciencializem de que o poder, particularmente o opressivo, só
se exerce sob consentimento daqueles que lhe obedecem.
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