Numa
altura em que o Governo já se encontra em plena campanha eleitoral chorando
lágrimas de crocodilo sobre a situação em que vivem muitos portugueses, é
importante rever certas medidas tomadas nos últimos anos para fazer lembrar aos
nossos compatriotas a insensibilidade social que caracterizou e caracteriza a
acção da dupla Passos/Portas.
Não
podemos esquecer o que se passou desde 2011 assim como todas as promessas não
cumpridas (que foram quase todas, para sermos complacentes) e o rol de mentiras
que foram a imagem de marca da campanha eleitoral que precedeu as eleições
daquele ano.
O
artigo de opinião que transcrevemos do Público de hoje é da autoria do Presidente
do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, Paulo Ralha, que recorda “uma
proposta de suspensão das penhoras e a não realização das vendas de imóveis, de
valor inferior a 75 mil euros, que servissem de habitação própria e permanente
dos contribuintes mais carenciados”, liminarmente rejeitada pela maioria de
direita. É apenas um exemplo entre muitos que é bom termos presente na hora de
votarmos, no próximo Outono.
Estarão
decorridos no próximo dia 21 de Maio dois anos sobre a data em que o Sindicato
dos Trabalhadores dos Impostos remeteu, para a Assembleia da República, uma
proposta no sentido de suspender as vendas, que já então faziam sentir os seus
efeitos nefastos sobre os cidadãos mais carenciados, e que, na prática, os
espoliavam da sua habitação pelo facto de não terem meios para pagar o
respetivo IMI.
Como
trabalhadores fomos os primeiros a sentir a revolta — justa, quer do ponto de
vista constitucional, quer do ponto de vista ético — que começava a grassar
entre os portugueses, pelo que hoje, genericamente, se designa como abuso de
poder.
A
nossa proposta, que defendia a suspensão das penhoras e a não realização das
vendas de imóveis, de valor inferior a 75 mil euros, que servissem de habitação
própria e permanente dos contribuintes mais carenciados, foi a resposta a esta
injustiça. A resposta do Parlamento, através da maioria, foi o chumbo. A
insensibilidade da legislação e a sua desadequação à realidade — objetivada no
facto dos valores patrimoniais dos imóveis estarem a subir, fruto da avaliação
geral em curso, ao mesmo tempo que o valor real dos mesmos se encontra em
queda, em conjunto com a situação de austeridade vivida, que fez baixar de
forma brutal os rendimentos das pessoas — deram lugar a uma série de abusos
fiscais, donde este foi apenas mais um.
A
gravidade e a ridicularia da política fiscal seguida neste âmbito foi de tal
forma estrondosa que o Ministério das Finanças se viu na necessidade de
intervir. Para este efeito, no dia 23 de Abril do corrente, emanou uma
recomendação, solicitando aos chefes de Finanças uma adequada ponderação,
previamente à marcação das vendas de imóveis. Vem esta recomendação no bom
sentido, mas, infelizmente, o tempo não perdoa.
Em
2012 esta medida faria todo o sentido e poderia ser devidamente posta em
prática nos serviços, tendo em conta o necessário equilíbrio entre a cobrança
de impostos e a análise dos processos, feita de forma competente pelos
trabalhadores. Poderia porque, apesar de já escassos, ainda existiam, nessa
altura, recursos humanos que teriam possibilitado a sua realização.
Hoje
a Autoridade Tributária e Aduaneira está em completa rutura de quadros e a
funcionar de forma desequilibrada, com prejuízos que se irão fazer sentir, de
forma gradual, na arrecadação de receitas futuras. O facto é que depois de se
ter "rapado o tacho" e imposto um regime fiscal espartano para a
maioria dos portugueses, resta hoje muito pouco para saciar as necessidades do
Estado. Além disso baixaram-se os impostos sobre as empresas, e os
trabalhadores e os pensionistas dificilmente sobreviverão, se forem chamados a
pagar mais impostos. Neste campo estamos numa situação limite. Por outro lado,
a falta de trabalhadores implica que, na esmagadora maioria dos serviços, não
se façam atualmente quaisquer tramitações processuais. Visam-se apenas
procedimentos automatizados e atendem-se contribuintes. Significa isto também
que, se se desviarem os trabalhadores para a análise processual, como esta
recomendação preconiza, fica o atendimento prejudicado. Mais grave ainda,
afetam-se recursos para fazer controlo de inventários e para inspecionar
situações de limitado alcance em termos de fraude e evasão fiscal (casos dos
estabelecimentos de cafetaria ou cabeleireiros), ao mesmo tempo que se
negligenciam trabalhadores e meios para combater a fraude e a evasão fiscais e
aduaneiras que mais danos provocam ao país, e aos portugueses. Não se resolvem
problemas. Apenas se tapam uns, deixando outros a descoberto. Porventura os
mais graves.
Na
realidade, para nos referirmos hoje à AT, podemos dizer que o “Rei vai nu”! As
medidas que incrementaram as receitas fiscais num curto espaço de tempo
revelam-se agora inconsequentes e contraprodutivas. As receitas fiscais, apesar
de toda a brutalidade exercida sobre os cidadãos, são insustentáveis, quer
porque a máquina fiscal e aduaneira está trabalhar para além dos seus limites,
quer porque a política fiscal é percecionada como injusta, quer porque os
portugueses têm cada vez menos capacidade para pagar. Cada vez se pagam mais
impostos para ter menos e piores serviços, quando se vai ao hospital, quando
colocamos os nossos filhos na escola ou quando chega a hora de nos retirarmos
do mundo do trabalho. Pagamos para quê e para quem?
A Autoridade Tributária e
Aduaneira, neste aspeto, reflete apenas o país. Um país desequilibrado, injusto
e insustentável, onde se aplicam pensos rápidos, como se fossem soluções
definitivas. Infelizmente, sem se conhecer a realidade e sem se pensar nas
soluções, não há remédios adequados. E a incompetência, claro está, custa
demasiado a um país pobre.
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