O
texto seguinte que transcrevemos do Diário
as beiras de hoje é da autoria de um ex-militante do PSD (*).
A
apresentação deste artigo de opinião vem na linha que há muito tempo temos
seguido, no sentido de se demonstrar que muita gente fora da área do Bloco ou
de qualquer outra força política à esquerda do PS é fortemente crítica das políticas
neoliberais que vêm a ser seguidas pelos partidos da rotatividade do poder.
Portanto, isto quer dizer que não há nenhum extremismo quando responsáveis do
Bloco de Esquerda denunciam as políticas desastrosas postas em prática por
aqueles que têm estado à frente do Governo de Portugal desde há décadas.
Os
números apresentados no texto seguinte são oficiais e sobre os quais é muito
importante uma séria reflexão para não sermos levados pelos cantos de sereia da
propaganda da maioria de direita nem daqueles que poderão estar a preparar-se para
levar a cabo políticas idênticas caso cheguem ao Governo.
Estou
a escrever esta crónica depois de ouvir a experiência recente de emigração de
uma ex-colega de curso. O que ela me relatou trouxe-me à memória outros tempos
que pensei não voltariam depois de tantos milhões da Europa, de tantas
promessas e de tantas fantasias. Fiquei com um enorme nó na garganta e triste
por ser um dos 10 milhões de portugueses que deixou que isto voltasse a
acontecer.
Quando
se fala em emprego e taxas de desemprego, de que subiram ou desceram discutindo
décimas de ponto percentual para cima ou para baixo, etc., penso que as pessoas
não têm a noção do descalabro que por aí vai. Os números são avassaladores e
estão a crescer em termos de PRECARIEDADE, o que tem como consequência o
aumento da emigração.
1.Existem
neste momento em Portugal 3,896 milhões de pessoas empregadas a tempo completo,
dos quais 2,868 milhões são por conta de outrem e 813 mil são por conta própria
– as restantes são outras formas de emprego. Dessas pessoas, 845,5 mil têm
contrato a termo certo e 129,9 mil têm outro tipo de contrato. Isto é, no total
773,4 mil pessoas têm um vínculo muito precário. Este número está a subir de
forma acelerada (11% de aumento homólogo, quando se compara o 1ºT de 2014 com o
1ºT de 2015). Aliás, pior número que o do 1º trimestre de 2015, só o
equivalente de 2010 na fase de aceleração para a bancarrota.
2.O
número de pessoas com emprego a tempo parcial ascende a cerca de 581 mil, sendo
252 mil o número de pessoas em subemprego a tempo parcial (mais uma forma de
precariedade, aumentou 2,9% em termos homólogos).
3.Ou
seja, existem 1,025 milhões de pessoas com formas precárias de emprego, ou 1,3
milhões de pessoas se considerarmos todas as que estão a tempo parcial.
4.O
número de pessoas desempregadas é 713 mil.
(Já
nem falo do desemprego escondido e que não aparece nas estatísticas)
Não
é possível pensar que um país tem futuro com estes números, nem deixar de fazer
do desemprego e da precariedade do emprego o problema nº1 de Portugal. A fonte
destes números é o Boletim de emprego do INE do 1ºT de 2015.
A
esse problema adiciona o facto de não existir nenhum tipo de estratégia que
vise resolver este problema de forma constante. O que vejo tenderá a aumentar a
carga fiscal agravando ainda mais a vida dos que ainda têm emprego.
O
desafio do próximo Governo é o do emprego sem aumentar impostos. James Cameron
no Reino Unido prometeu não aumentar nenhum imposto nos próximos 5 anos,
obrigando assim a uma verdadeira reforma do país e do Estado. faz isso num país
a crescer 2,9% ao ano e com 6% de taxa de desemprego – isto para evitar
comparações abusivas que para aí tenho visto.
Alguém
se atreve em Portugal a prometer o mesmo, sob compromisso de honra, isto é, demitindo-se caso não
consiga? A verdade é que como cidadão, perante a qualidade do discurso e da ação
política, tenho sérias razões para estar muito pessimista.
(*) Norberto
Pires, director da FCTUC
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