A
política económica e social da maioria de direita foi desde o início de destruição
de tudo o que cheirasse ainda a 25 de Abril.
O
“modelo desenhado pela troika” deu uma ajuda fundamental para uma série de
decisões altamente prejudiciais para o interesse nacional, até porque o
Governo, tal como Passos Coelho avisou a certa altura ultrapassou o radicalismo
pretendido pela troika. Vendeu-se tudo de qualquer maneira, em que o único
critério se resumiu a quem desse mais, ignorando o prejuízo que traria no
futuro para Portugal.
O
seguinte texto de Nicolau Santos, que retirámos da última edição do Expresso, chama
exactamente a atenção para o fraco benefício que o investimento estrangeiro
trouxe para Portugal nos últimos quatro anos para além das consequências desastrosas
que aí poderão estar a caminho.
A
venda de empresas públicas e privadas é um traço marcante do ajustamento da
economia portuguesa nos últimos quatro anos. Aliás, a pedra de toque do modelo
desenhado pela troika residia
precisamente no regresso em força do investimento estrangeiro, o que permitiria
uma rápida recuperação após a cura de austeridade. Infelizmente, a redução dos
salários na Função Pública e nas pensões, a simplificação do despedimento
individual e a diminuição das indemnizações e os cortes severos na despesa
pública, em particular nos apoios sociais e no investimento do Estado, não chegaram
para convencer nem as agências de rating
(que mantêm na classificação de “lixo” a dívida portuguesa) nem para atrair
investimento estrangeiro que criasse empresas inovadoras e postos de trabalho
qualificados.
Isso
não significa que o investimento estrangeiro não tenha vindo em força para
aproveitar a fragilidade do Estado e dos privados. Os investidores chineses
foram a grande surpresa. A Three Gorges tornou-se acionista maioritária da EDP,
a State Grid fez o mesmo na REN e na Efacec, a Fosun controla a Fidelidade e a
Luz Saúde e está bem colocada na corrida ao Novo Banco, a Sinopec ficou com 30%
da Petrogal Brasil, o grupo Haitong comprou o BESI, a Beijing Enterprises Water
Group detém quatro redes de distribuição de água em baixa pressão. Os brasileiros
da Camargo Côrrea adquiriram a Cimpor. Os franceses da Vinci ficaram com a ANA
e os seus compatriotas da Altice com a PT Portugal. A angolana Isabel dos Santos
tem presença significativa no BPI e na NOS, enquanto a Sonangol é a acionista
maioritária do BCP.
Contudo,
nenhum destes investimentos criou novas empresas. Vieram para comprar o que
existia. Trouxeram financiamento (no caso chinês), mas não inovação. Vieram para
aprender e ganhar experiência, não para ensinar ou transferir know-how. Querem ressarcir-se dos
investimentos, não fazer mais investimentos. A troika e o Governo esperavam que daqui resultasse uma economia mais
competitiva. Até agora não há evidências de tal. Não há mais emprego
qualificado. Não há melhores salários para os quadros técnicos. Não há mais inovação.
Quanto
ao processo e privatizações ou de alienação de participações públicas, obedeceu
a um único critério: a maximização do encaixe. O vencedor foi sempre o que
ofereceu mais. Nenhuma empresa foi considerada estratégica pelo Governo. Que,
como disse Fernando Ulrich, a China esteja a fazer de Portugal o seu
porta-aviões na Europa não preocupa o primeiro-ministro. Que Luís Séragga Leal
diga que os investidores chineses compram empresas portuguesas como porta de entrada
para os mercados europeus, PALOP e América
Latina não levanta nenhuma interrogação. Que a Cimpor esteja a ser desmantelada
ou a PT Portugal reduzida a uma companhia local não inquieta São Bento. Que esteja
nas mãos dos franceses da Vinci a construção do novo aeroporto não faz levantar
a sobrancelha a ninguém do Governo.
É verdade que tínhamos de
vender ativos. Mas um país não é uma empresa. E mesmo uma empresa sabe que tem
de vender os anéis para ficar com os dedos. Quando se vendem os anéis e os
dedos, o risco de morrer pobre e de gangrena é altíssimo.
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